Marine Le Pen e União Nacional lançam contraofensiva após inelegibilidade

A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, e a União Nacional (RN) lançaram hoje uma virulenta contraofensiva política e judicial, denunciando a "tirania dos juízes" e uma manobra do "sistema" para a impedir de aceder ao poder.

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© JULIEN DE ROSA/AFP via Getty Images

Lusa
01/04/2025 12:36 ‧ ontem por Lusa

Mundo

França

A contraofensiva surge na sequência da decisão do Tribunal Penal de Paris que, na segunda-feira, a declarou impedida de exercer cargos públicos, e por isso impossibilitada de concorrer às próximas eleições presidenciais, previstas para 2027, nas quais era favorita.

 

Perante os ataques da extrema-direita, incluindo os feitos pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um dos juízes mais antigos de França defendeu a condenação, afirmando que "não se trata de uma decisão política, mas sim de uma decisão judicial, proferida por três juízes independentes e imparciais".

O tribunal condenou a líder de 56 anos por desvio de fundos públicos, estabelecendo que houve, de facto, um "sistema" posto em prática entre 2004 e 2016 para fazer "poupanças" para a Frente Nacional - que em 2018 se tornou União Nacional (RN, na sigla em francês), usando dinheiro do Parlamento Europeu para pagar a assistentes de eurodeputados que trabalhavam efetivamente para o partido.

Le Pen foi também condenada a quatro anos de prisão, dois dos quais suspensos, embora tenha de vir a usar uma pulseira eletrónica.

"O sistema trouxe a bomba nuclear e se está a usar uma arma tão poderosa contra nós, é obviamente porque estamos à beira de ganhar uma eleição", disse Le Pen aos deputados do seu partido.

O presidente do partido, Jordan Bardella, denunciou uma "tirania dos juízes", condenando as "ameaças, insultos e injúrias" que lhes são dirigidas e que se multiplicaram desde o acórdão. "Tudo será feito para nos impedir de chegar ao poder", afirmou.

A condenação foi criticada por toda a galáxia nacionalista e populista global, incluindo o Kremlin, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e até Donald Trump.

"É uma grande história. [...] Ela já não tem o direito de ser candidata durante cinco anos, quando era a primeira classificada", disse Trump, ele próprio condenado no ano passado no caso de pagamentos ocultos a uma atriz de filmes pornográficos quando estava em campanha para a reeleição.

Já hoje, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou que a decisão do tribunal francês privou "milhões de cidadãos de representação".

Em França, os apoiantes de Le Pen não esperam que a candidata desista. 

Jordan Bardella, considerado o principal candidato potencial, anunciou que, no próximo fim de semana, serão organizadas uma distribuição de panfletos e mobilizações pacíficas. 

Na segunda-feira, a RN lançou uma petição de apoio, com o slogan "salvar a democracia, apoiar Marine".

"Não me vou deixar eliminar desta forma", disse Marine Le Pen numa entrevista ao telejornal da TF1, vista por cerca de oito milhões de telespetadores na noite de segunda-feira, em que pediu uma audiência de recurso rápida, esperando que uma decisão mais branda lhe permita estar na linha de partida em 2027.

A questão está no cerne do futuro político de Le Pen, mas os atrasos habituais do sistema judicial francês não parecem suscetíveis de iluminar o seu horizonte.

O julgamento do recurso não deverá ocorrer durante pelo menos um ano, com uma decisão várias semanas mais tarde, ou seja, não antes do final de 2026, apenas alguns meses antes das eleições presidenciais. E não há qualquer garantia de que o tribunal de recurso chegue a uma decisão diferente da do tribunal.

Além da pena de prisão e da inelegibilidade, Marine Le Pen foi também multada em 100.000 euros.

"[O tribunal de Paris] teve em consideração, além do risco de reincidência, a perturbação grave da ordem pública, neste caso o facto de uma pessoa já condenada em primeira instância ser candidata às eleições presidenciais", explicou o seu presidente.

No total, 23 outras pessoas foram condenadas, bem como a própria União Nacional.

O montante total desviado foi de 4,4 milhões de euros, dos quais 1,1 milhões já foram reembolsados.

A decisão do tribunal também dividiu a classe política francesa, com alguns da esquerda e da direita a lamentarem a decisão dos juízes, enquanto os socialistas apelaram ao respeito pela lei.

Leia Também: Líder da União Nacional acusa juízes que condenaram Le Pen de "tirania"

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