"Nos próximos dias farei chegar um requerimento à câmara a formalizar a auditoria", disse à Lusa o deputado Rodrigo Passos, sem querer acrescentar mais dados à intervenção feita na Assembleia Municipal [AM] do Porto de segunda-feira, que Filipe Araújo classificou de "reles" e "indecorosa".
Na sessão, disponível em vídeo na Internet, o eleito do PSD referiu-se a três contratos da Associação Porto Digital, "da qual a Câmara do Porto é sócia maioritária e que é presidida por Filipe Araújo", considerando que geram dúvidas sobre se "existem dinheiros municipais a ser, porventura, canalizados para propaganda eleitoral, ainda para mais considerando as pessoas envolvidas na associação".
"Perante estas dúvidas que pairam no ar [...] solicitaremos um processo de auditoria para que os portuenses possam ser esclarecidos", afirmou o deputado.
Hoje, em declarações à Lusa, o vice-presidente da autarquia e presidente da Porto Digital criticou a "intervenção completamente desenquadrada da ordem de trabalhos", sublinhando que o deputado "não teve qualquer intenção de esclarecer ou ser esclarecido".
"Foi uma intervenção apenas de ataque, com um conjunto de insinuações que pretendiam manchar o meu bom nome", disse.
"A AM tem mecanismos para pedir informações que achar conveniente e nunca deixámos de responder ou dar as informações que são pedidas. O que aconteceu na segunda-feira foi um ataque ao meu caráter e à conduta do executivo municipal", lamentou.
Quanto aos contratos, disse que "são públicos" e manifestou-se disponível "para responder nos órgãos próprios e esclarecer tudo".
Filipe Araújo já manifestou vontade de se candidatar à Câmara do Porto como independente, agora que o independente Rui Moreira, que preside à autarquia desde 2013, cumpre o terceiro mandato e está impedido de se recandidatar.
Na Assembleia Municipal de segunda-feira, Araújo acusou o deputado do PSD de "prestar serviços" a alguém.
"Uma intervenção reles. O senhor deputado não tem categoria para estar sentado onde está. O senhor cale-se quando eu estiver a falar. Não me dirige a palavra assim, mantenha-se calminho. Se tem dúvidas, foi eleito, ponha as dúvidas e será esclarecido. A maior parte das insinuações que aqui fez, sabe a resposta. Uma intervenção indecorosa. Se vem aqui prestar serviço a alguém, ponha essa pessoa a falar comigo, não venha aqui prestar serviços", respondeu o vice-presidente da autarquia.
Questionado hoje pela Lusa, o presidente da câmara, Rui Moreira, quis, "nesta fase, não se pronunciar, apenas lamentando o sucedido".
O autarca referiu ainda que "não foi solicitada qualquer auditoria, pelo que o presidente não pode pronunciar-se sobre o assunto".
O deputado do PSD disse na AM que o partido tem recebido "diversas denúncias de portuenses preocupados com o aumento significativo da despesa pública na área da comunicação e publicidade por via da associação Porto Digital".
Rodrigo Passos indicou três contratos da associação, com a LPM, Comunicação, a Marquinista e a Freitas e Próspero, questionando "se é natural e razoável uma assessoria tão intensa e mediática para uma associação onde nunca existiu um investimento deste nível no passado".
Consultados pela Lusa no portal base.gov, os contratos dizem respeito a um ajuste direto feito em fevereiro com a LPM por 18.500 euros, para "consultoria de Comunicação e Assessoria Mediática", a outro feito em janeiro com a Marquinista por 19.350 euros, para "serviços de consultoria e apoio em comunicação e marketing" e a um procedimento por consulta prévia com a Freitas e Próspero por 72.980 euros, para "aquisição de serviços de captação de fotografia e vídeo no âmbito das atividades de Marketing e Comunicação".
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