Em declarações conjuntas à imprensa no final de um encontro entre ambos no Cairo, o chefe de Estado egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, afirmou que discutiu "em profundidade" com o seu homólogo francês "os desenvolvimentos na cena internacional, especialmente a situação trágica em Gaza".
"Sublinhámos a necessidade de regressar a um cessar-fogo, para permitir a entrada urgente de ajuda e a libertação dos reféns", disse.
"Concordamos com a rejeição da deslocação dos palestinianos da sua terra", disse, referindo-se à abordagem do Presidente norte-americano, Donald Trump, que anunciou a pretensão de controlar o enclave palestiniano para o transformar numa "Riviera do Médio Oriente". Para isso, os seus cerca de 2,4 milhões de habitantes poderiam ser deslocados para o Egito e a Jordânia, que rejeitaram veementemente esta opção, mas que têm de lidar com a pressão norte-americana.
Al-Sisi referiu ainda que explicou a Macron os detalhes do "plano árabe para a recuperação e reconstrução de Gaza".
Neste contexto, concordou com o líder francês em "coordenar esforços para a conferência sobre a reconstrução de Gaza", que o Egito tenciona organizar "assim que for alcançado um cessar-fogo" no território palestiniano.
O líder egípcio, um dos principais mediadores entre Israel e os palestinianos, voltou a sublinhar a necessidade de reunir apoio para a solução de dois Estados como "a única forma de alcançar a paz e a estabilidade" no Médio Oriente.
Adiantou ainda ter discutido com Macron "o início de um quadro político para relançar o processo de paz", a fim de "estabelecer um Estado palestiniano nas linhas de 4 de junho (1967), com a sua capital em Jerusalém Oriental", ocupada por Israel nessa data.
Por seu lado, o Presidente francês condenou "o recomeço dos ataques israelitas em Gaza, que constitui um retrocesso dramático para a população civil, os reféns, as suas famílias e toda a região".
"Exigimos o regresso ao cessar-fogo e a libertação de todos os reféns ainda detidos pelo Hamas em Gaza", afirmou na conferência de imprensa.
"Opomo-nos firmemente à deslocação de populações e qualquer anexação de Gaza ou da Cisjordânia constituiria uma violação do direito internacional e uma séria ameaça à segurança de toda a região, incluindo Israel", sublinhou ainda.
Ao mesmo tempo, reiterou a necessidade de Gaza ser "dirigida pela Autoridade [Nacional] Palestiniana", no poder na Cisjordânia, e que "o Hamas não deve participar nessa governação" -- algo que defendem países como Israel e os EUA.
O grupo islamita, que controla Gaza desde 2007, "deve deixar de ser uma ameaça para Israel", defendeu Macron, que lembrou que a crise de Gaza estará também no centro da cimeira tripartida que vai realizar hoje à tarde no Cairo com al-Sisi e o rei jordano, Abdullah II.
"Estamos profundamente convencidos de que só uma resposta política garantirá a estabilidade e a segurança em Gaza e em toda a região", afirmou.
Emmanuel Macron também saudou os "esforços incansáveis" do Egito como co-mediador da trégua e da libertação dos reféns ainda detidos pelo Hamas desde o ataque de 7 de outubro de 2023 contra Israel, que desencadeou a guerra em Gaza.
Macron chegou ao Cairo no domingo para uma visita de três dias e deverá visitar na terça-feira, juntamente com al-Sisi, a cidade egípcia de Al Arish, no norte do Sinai egípcio e perto da fronteira com Gaza, onde é acumulada e armazenada a ajuda que chega ao Egito de todo o mundo para os habitantes de Gaza.
Na terça-feira, Macron, acompanhado pelo seu homólogo egípcio, visitará a cidade de al-Arich, no norte da península do Sinai, a 50 quilómetros do ponto de passagem de Rafah, por onde deve passar a ajuda humanitária a Gaza, mas que foi novamente interrompida no último mês.
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