Segundo o diplomata, o Conselho Europeu deveria tentar mobilizar o artigo 42º. do Tratado da União Europeia (UE) para reforçar a sua capacidade de resposta e defesa.
Este artigo determina que os Estados-membros da UE devem ajudar-se uns aos outros se um deles for atacado.
Considerando que alterar os tratados para criar uma unidade de defesa europeia única não deve ser, neste momento, uma alternativa, Borrell avançou com a hipótese de se adotar uma postura idêntica à que foi tomada aquando da crise do euro, entre 2008 e 2010.
"Tentar reformar os tratados implicaria ratificações de 27 países e não o conseguimos fazer", disse, durante um debate realizado no âmbito do Foro La Toja, em Lisboa.
A ideia de cada Estado investir na defesa militar é, para o ex-alto representante da diplomacia da UE, um desperdício de dinheiro, já que resulta em sobreposições e pode até deixar lacunas.
Então, considerou, uma alternativa é "fazermos como quando houve uma crise do euro, assinando um tratado intergovernamental para salvar a Europa".
"Façamos agora o mesmo para construir capacidade defensiva para a Europa", acrescentou.
Reconhecendo que a vontade política dentro da UE varia, Borrel argumentou que a defesa europeia tem de imlicar uma maior integração política.
"É utópico pensar numa defesa comum sem mais integração política. Conheço Estados sem exército, mas não conheço nenhum exército sem Estado", avançou.
Borrel falava no painel de debate "Europa e EUA, juntos ou separados?", no qual participaram também o ex-presidente da Assembleia da República e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal Augusto Santos Silva e o secretário-geral Ibero-Americano, Andrés Allamand.
Os três responsáveis consideraram que a administração de Donald Trump da Casa Branca constitui uma mudança da ordem mundial e que é necessário que a Europa assuma uma nova postura.
Para Santos Silva, a administração norte-americana quer "a destruição da democracia" e da ordem mundial, mas Donald Trump é apenas "um ator, um porta-voz" desta ideologia.
"Trump não é o 'alfa' disto", afirmou, considerando que o Presidente dos Estados Unidos é apenas "um porta-voz e instrumento de um projeto de poder" liderado pelo milionário da tecnologia Elon Musk.
Uma visão com a qual Borrell concordou, defendendo que a decisão desta Presidência norte-americana mais intolerável foi a de cortar o financiamento à ajuda humanitária.
"Temos de distinguir entre o que é tolerável e o que é inaceitável e contra o que nos deveríamos levantar com toda a força e não o estamos a fazer", disse, referindo que a redução do investimento em programas de ajuda "vai ser uma catástrofe humanitária" e desestabilizar muitos países.
Por sua vez, Andrés Allamand afirmou que a resposta da Europa às medidas impostas pelos EUA deve ser aumentar a competitividade europeia para ganhar "poder real", para o que se deve apostar em alianças, nomeadamente com a América Latina.
Conquistar um posto de liderança é, para Santos Silva, algo que a Europa (UE e Reino Unido em conjunto) não tem só capacidade, mas tem também a responsabilidade de fazer.
No entanto, defendeu, precisa de duas coisas.
"A primeira é deixar de falar apenas na percentagem do PIB [Produto Interno Bruto] que vai gastar para se rearmar. A segunda é dar uma 'carta de alforria' à sua diplomacia para agir", descreveu, explicando ser preciso "libertar o discurso europeu do discurso monocórdico dos gastos com defesa e falar mais da capacidade de agir aumentando a competitividade e aproveitando a capacidade de reforçar despesas e armamento para recuperar atraso tecnológico".
Lamentando que a Europa só reaja quando está perante uma crise, Borrell admitiu que a combinação "de liberdade politica, progresso económico e coesão social" na Europa é "insuficiente".
"Não temos a capacidade suficiente de mobilizar um exército para nos defendermos perante as ameaças que enfrentamos", disse, admitindo que, nas últimas décadas, a Europa "vive do amigo norte-americano" em vez de se responsabilizar pela sua própria segurança.
"Nisso, Trump tem razão. Disse-o de uma forma exagerada mas tem razão. O que não tem razão é em cortar a ajuda humanitária", reclamou.
[Notícia atualizada às 14h43]
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