O candidato às eleições presidenciais de Moçambique Venâncio Mondlane regressou, na manhã desta quinta-feira, a Maputo, após cerca de dois meses e meio a liderar a contestação aos resultados das eleições gerais a partir do exterior.
"Estou aqui de carne e osso para dizer que, se querem negociar, se querem dialogar comigo, se querem estar comigo na mesa de negociações, estou aqui presente", começou por referir em declarações aos jornalistas, em Maputo.
"Estou aqui em Moçambique porque me apercebi que o regime optou por uma estratégia de criar uma espécie de genocídio silencioso. As pessoas estão a ser sequestradas nas suas casas, as pessoas estão a ser executadas extrajudicialmente nas matas. Há um crescimento de assassinatos e eu acho que não posso estar bem protegido, ao fresco, quando o próprio povo, que está no suporte da minha candidatura, está a ser massacrado", acrescentou.
Disse também ter regressado a Moçambique porque "há uma narrativa de que há uma série de responsabilidades criminais" a que não pode responder por "estar fora do país". "Estou aqui para mostrar que estou disponível a defender-me perante a justiça e a provar quais são os verdadeiros responsáveis pelos crimes hediondos que aconteceram até hoje", explicou.
Em causa está o facto de o Ministério Público moçambicano ter aberto processos contra o candidato presidencial, enquanto autor moral das manifestações de contestação aos resultados das eleições gerais de 9 de outubro.
Venâncio Mondlane acrescentou querer ser um "sujeito histórico ativo e disponível" em Moçambique e que continuará a "defender e a lutar" pelo povo moçambicano.
Sublinhe-se que os confrontos entre a polícia e os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas baleadas desde 21 de outubro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.
O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique fixou 15 de janeiro para a tomada de posse do novo Presidente, que sucede a Filipe Nyusi.
A 23 de dezembro, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar.
O anúncio levou de imediato a novos confrontos, destruição de património público e privado, manifestações, paralisações e saques, mas na última semana, sem novas convocatórias de protestos, a situação normalizou-se em todo o país.
[Notícia atualizada às 07h30]
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