Para a MSF, com o encerramento da ferramenta, que permitia o processamento de pedidos legais de asilo nos pontos de entrada dos Estados Unidos e no sul do México, centenas de milhares de pessoas ficaram numa situação de incerteza. "Mesmo numa rota onde a violência é extrema", considerou a organização, em comunicado.
"A eliminação do 'CBP One' representa um grave retrocesso na proteção dos direitos humanos dos migrantes e dos requerentes de asilo", argumentou a mesma fonte, que informou como o México já sente impactos diretos das novas políticas na sequência do regresso de Donald Trump à Presidência norte-americana.
Os testemunhos recolhidos pela organização mostram frustração, tristeza e como o medo prevalecem entre os migrantes, muitos dos quais venderam os seus pertences ou deixaram os seus empregos.
"É uma tristeza imensa. O processo pelo qual passamos até agora não foi fácil. Fomos expostos à morte, estamos ao ar livre com os nossos filhos. Chegámos até aqui e queremos seguir em frente para ajudar as nossas famílias, para termos um futuro melhor", disse Silvia, uma mulher venezuelana.
O seu compatriota Mario, também retido em Coatzacoalcos à espera de apanhar um comboio, considera que a suspensão do 'CBP One' deixa os migrantes mais desprotegidos contra "extorsões, máfias e raptos" numa rota "muito perigosa".
O impacto psicológico também foi imediato, como relatou Ramón Márquez, coordenador de um centro de cuidados abrangentes na Cidade do México, observando que as equipas de MSF iniciaram um programa para lidar com um possível aumento de casos de ansiedade e crises emocionais.
A decisão de acabar com o 'CBP One' junta-se à implementação de políticas restritivas como a "Stay in Mexico" (Fica no México), que obriga os requerentes de asilo a permanecerem em condições precárias na fronteira.
Os MSF também lembraram que, desde novembro de 2024, documentaram um aumento nas caravanas de migrantes do sul do México, como a recente de 1.500 pessoas em Huixtla.
Também informou sobre os constantes relatos de violência ao longo das rotas migratórias, tendo tratado mais de 700 sobreviventes de violência sexual no México apenas em 2024.
Carolina López, coordenadora de projetos no norte do país, também alertou para o aumento de extorsões, roubos e sequestros e afirmou que "foi gerada uma crise coletiva".
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