"Com Trump, nunca conseguimos adivinhar quais são as suas intenções. Mas é ultrajante a noção de que, de alguma forma, o Canadá se tornaria o 51.º estado da América. Não faz sentido. E a Groenlândia tornar-se parte dos Estados Unidos? Não faz sentido. E, a propósito, a Dinamarca é um aliado da NATO", sublinhou Jim Costa, na quinta-feira, em declarações a jornalistas portugueses em Washington.
"A maneira como Trump trata os nossos amigos e os comentários que faz mostram uma falta de respeito", acrescentou o político luso-americano com raízes açorianas.
Na segunda-feira, o Presidente eleito dos Estados Unidos causou polémica ao admitir que não excluía a possibilidade de recorrer à força militar ou à coerção económica para assumir o controlo da Gronelândia, rica em minerais e onde fica situada uma grande base militar norte-americana, sublinhando que aquela região autónoma da Dinamarca é necessária "para a segurança nacional" do seu país.
Já em dezembro, Trump tinha renovado os apelos que fizera durante o seu primeiro mandato para comprar a Gronelândia à Dinamarca, cujo controlo descreveu como "uma necessidade absoluta".
Além disso, nas últimas semanas o republicano insistiu na sua intenção de retomar o controlo do Canal do Panamá, mas também de anexar o Canadá ou mudar o nome do Golfo do México para "Golfo da América".
Jim Costa, eleito pela Califórnia, não se esquece do primeiro mandato de Donald Trump e garante que "a natureza caótica" com que o magnata opera "vai continuar".
"É quem ele é. Tenho preocupações muito significativas sobre a sua política interna e os impactos na deportação em massa, nas tarifas e impactos económicos, e o que eles podem trazer para nossos aliados ao redor do mundo, nomeadamente na Europa e depois nas Américas, como Canadá e México", indicou o congressista da Califórnia.
Jim Costa, juntamente com o congressista republicano David Valadao, também luso-americano, almoçaram na quinta-feira em Washington com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que participou no funeral do ex-líder norte-americano Jimmy Carter.
David Valadao, filho de imigrantes portugueses dos Açores, saiu em defesa de Trump, destacando o seu envolvimento com os congressistas e indicando que a equipa do Presidente eleito já se encontra a trabalhar em assuntos que dominaram a campanha eleitoral, como impostos, tarifas ou controlo de fronteira com México e Canadá.
Sobre a promessa de Donald Trump de deportação em massa de imigrantes ilegais, Valadao admitiu existir um problema de imigração, mas defendeu a necessidade de diferenciar os imigrantes que contribuem para áreas essenciais do país, como agricultura ou restauração.
"É difícil [saber se uma deportação em massa irá acontecer], porque isso custa dinheiro e dinheiro não é algo que temos aos montes para usar, mas sabemos que, quando a fronteira estava aberta, muita gente perigosa entrava no país, pessoas que não queremos aqui", disse o congressista republicano.
"Mas temos também muita gente que conhecemos, como portugueses, mexicanos e de outros países, que estão aqui ilegalmente e que estão a trabalhar na agricultura, nos restaurantes e em muitas outras áreas e que são importantes para nós. Isso é algo que temos dito às pessoas que trabalham diretamente com o Presidente [Trump] no Capitólio, para que eles entendam que existe uma diferença. (...) Temos de ter um processo para ajudar os que estão aqui a trabalhar e a ser uma parte da nossa nação", frisou.
Sobre as aspirações expansionistas de Donald Trump, o congressista está reticente sobre a capacidade desses projetos avançarem.
"Sei que a Gronelândia tem muito valor, mas não sei se isso avançará. Já sabemos que o Trump é muito conhecido por falar", afirmou Valadao a jornalistas portugueses.
Jim Costa e David Valadao lideram o Caucus Português no Congresso norte-americano, com o objetivo de alavancar os interesses da comunidade portuguesa nos Estados Unidos e "fortalecer os laços de longa data entre os Estados Unidos e Portugal".
Jim Costa assegurou à Lusa que continuará "a fazer tudo o que puder para construir e melhorar a importante parceria e aliança" com Portugal, "um parceiro original da NATO", defendendo que os dois países devem "trabalhar juntos no futuro durante esses tempos difíceis".
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