"O cancro de o esófago está prestes a colonizar o meu fígado. Não o posso parar. Porquê? Porque sou um homem velho e tenho duas doenças crónicas. O meu corpo já não suporta cirurgias nem tratamentos", declarou Mujica, em entrevista realizada na terça-feira e publicada hoje, pelo semanário Busqueda.
"O meu ciclo acabou. Claramente, estou em vias de morrer. O guerreiro tem direito ao seu repouso. Que me deixem tranquilo. Que não me peçam mais entrevistas ou o que quer que seja", acrescentou o que foi presidente uruguaio de 2010 a 2015.
Mujica indicou que tinha iniciado o processo para ser sepultado no jardim da sua quinta modesta, nas proximidades de Montevideu, debaixo de uma árvore que ele próprio plantou, ao lado da sua cadela Manuela.
"Vou morreu aqui. Lá fora, há uma grande sequoia. A Manuela está lá enterrada. Quero fazer os papéis para que me enterrem lá também. E é tudo", disse.
Apesar da doença, Mujica envolveu-se totalmente na campanha eleitoral para as presidenciais, ganha no início de dezembro pelo candidato da coligação de esquerda da Frente Ampla, Yamandu Orsi.
"Quero dizer adeus aos meus compatriotas", acrescentou. "É fácil respeitar quem poensa como você, mas e preciso aprender que o fundamento da democracia é o respeito pelos que pensam de forma diferente (...). Abraço-vos a todos", concluiu.
Designado "o presidente mais pobre do mundo" por ter entregado a quase totalidade dos rendimentos de chefe de Estado a um programa de habitação social, José Mujica fez do Uruguai um Estado pioneiro na adoção de medidas progressistas como o aborto, o casamento homossexual ou a legalização do canábis, que foi mesmo uma novidade à escala mundial.
Antigo guerrilheiro, passou 13 anos preso, a sua maior parte dos quais sob a ditadura militar (1973-1985) e foi torturado, antes de ser deputado, senador, ministro e, por fim, presidente de um país em democracia.
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