"Sem medidas urgentes, o PIB pode contrair-se em 3,6% até 2050", referiu Indira Campos, representante do Banco Mundial (BM) no país, na apresentação do Relatório sobre Clima e Desenvolvimento (CCDR, sigla inglesa), na cidade da Praia.
De acordo com as mesmas projeções, a pobreza pode agravar-se 6,4%, com um em cada cinco cabo-verdianos exposto às alterações climáticas.
A maioria dos danos, referiu, "teria origem no setor turismo", com uma queda de 10% naquela que é a espinha dorsal da economia do arquipélago.
O relatório sugere uma transição do modelo de turismo "de sol e mar" para outros como ecoturismo, turismo cultural, náutico e pesca desportiva, menos suscetíveis aos riscos climáticos, diversificando a oferta até agora concentrada nas ilhas do Sal e Boa Vista.
Os episódios de secas cíclicas prolongadas, desertificação e eventos extremos de precipitação que causam cheias repentinas, especialmente nas áreas urbanas, são exemplos das ameaças.
A subida do nível do mar, a erosão costeira e a perda de biodiversidade e ecossistemas são problemas que afetam particularmente as praias e zonas costeiras, pondo em risco a sustentabilidade do setor do turismo.
O CCDR é um "instrumento importante de política pública", referiu a representante do BM, acrescentando que, apesar das ameaças, "Cabo Verde tem potencial para transformar os desafios em oportunidades, tem demonstrado liderança" na temática e estabeleceu "objetivos ambiciosos" para a transição energética.
O documento define "um roteiro" que recomenda "investimentos em energias renováveis e agricultura inteligente", além de outros resilientes ao clima.
Segundo Indira Campos, o arquipélago precisa de 140 milhões de dólares anuais, cerca de 6% do PIB, ao longo da próxima década para responder aos desafios climáticos e de desenvolvimento.
"São necessárias parcerias inovadoras e um ambiente de negócios favorável para captar capital privado", acrescentou, salientando que a ação climática pode adicionar entre 0,4 a um ponto percentual ao PIB, até 2050, além de benefícios em segurança alimentar, proteção social e emprego de qualidade.
O Ministro da Agricultura de Cabo Verde, Gilberto Silva, anunciou na cerimónia que o Governo deverá remeter, em breve, uma lei do clima para o parlamento, destinada a "consolidar o quadro normativo e institucional" ligado a esta temática.
O país "precisa de mais recursos" para promover os investimentos, acrescentou, apelando a uma dinâmica inovadora para captar financiamentos, dando como exemplo a troca de dívida pública por investimento climático acordada com Portugal.
Os relatórios CCDR foram produzidos inicialmente para 25 estados e estão a sê-lo para mais países com o objetivo de envolver governos, setor privado, meio académico, grupos de reflexão e a sociedade civil na discussão sobre as mudanças climáticas.
Enquanto documentos públicos, pretendem ajudar a enquadrar ações na agenda do desenvolvimento e clima e sinalizar ações de alto impacto que podem atrair financiamento.
Portugal assumiu em 2023 o compromisso de ser o primeiro participante no fundo climático de Cabo Verde, com 12 milhões de euros, para projetos relacionados com o reforço de energias renováveis.
Ainda no que respeita às alterações climáticas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) está a apoiar o arquipélago com um financiamento de 31,7 milhões de dólares (29,3 milhões de euros) ao abrigo do Mecanismo de Resiliência e Sustentabilidade (RSF).
O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, tem defendido a criação de novos mecanismos de financiamento para os pequenos estados insulares poderem enfrentar alterações climáticas sem recorrer às verbas orçamentadas para o desenvolvimento.
Da mesma forma, defende o recurso a índices ajustados às características dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS, sigla inglesa), saudando a criação de um Índice de Vulnerabilidade Multidimensional pelas Nações Unidas, com a capacidade de ajustar a elegibilidade para financiamentos à realidade dos países.
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