Fernando Medina, deputado socialista e antigo ministro das Finanças, lamentou que não se tenha "poupado o país" de uma nova crise política e eleições antecipadas, tendo também criticado as "tentativas de aproveitamento político" contra o primeiro-ministro, Luís Montenegro.
Numa entrevista à Antena 1, Medina, que foi o único deputado a anunciar a apresentação de uma declaração de voto individual para a moção de confiança, explicou o porquê: "Fundamentalmente, para sublinhar este aspeto, este lamento, de não se ter conseguido chegar a um ponto em que poupássemos o país a uma situação de crise política e novas eleições".
"É preciso ter consciência de que o país não quer novas eleições", frisou, referindo ainda que sempre defendeu "que deveriam ser feitos todos os esforços para assegurar estabilidade política e que não tivéssemos eleições antecipadas".
"Valorizei e apelei sempre muito ao esforço de que tudo se fizesse para evitar uma situação destas", apontou.
Na mesma entrevista, o também antigo presidente da Câmara de Lisboa considerou ainda que Luís Montenegro fez uma "má avaliação política" e "podia ter encerrado" a empresa familiar "durante este processo".
"Acho que houve uma avaliação política da parte do primeiro-ministro que me surpreende que tenha tomado essa decisão. Acho que podia ter encerrado a empresa durante este processo e reconhecido que tinha cometido um erro e nada disto teria tido estas proporções", afirmou.
Por outro lado, o deputado socialista lamentou o aproveitamento político do caso, dizendo que ouviu "muitas insinuações, calúnias e falsidades sem qualquer demonstração" de todos os partidos, incluindo do Partido Socialista.
"Condeno isso na praça pública. Vi tentativas de aproveitamento político contra o primeiro-ministro que não me pareceram próprias", completou.
Recorde-se que a crise política foi desencadeada há cerca de um mês após notícias sobre uma empresa familiar que pertenceu ao primeiro-ministro, a Spinumviva, levando à apresentação de duas moções de censura do Chega e PCP, ambas chumbadas. Face às dúvidas que os partidos continuaram a manifestar, o primeiro-ministro anunciou a apresentação de uma moção de confiança, rejeitada na terça-feira, que provocou a queda do Governo.
As dúvidas sobre antiga empresa de Luís Montenegro, que antes de ir para o Governo passou à sua mulher e mais recentemente aos seus filhos, levou o PS a apresentar uma comissão parlamentar de inquérito para produzir resultados num prazo de 90 dias. No debate em plenário, o Governo admitiu retirar a moção de confiança caso o PS reduzisse o tempo do inquérito para 15 dias, mas o PS rejeitou.
Após uma interrupção dos trabalhos durante meia-hora, o PSD fez saber que propôs ao PS que o inquérito durasse até final do mês de maio, ou seja, cerca de dois meses, proposta que também foi rejeitada pelo PS. O requerimento do PS para uma comissão de inquérito propõe um prazo de até 90 dias.
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