Nesta queixa, consultada pela agência noticiosa francesa e apresentada na semana passada ao Ministério Público de Paris, o Congresso Mundial Uigur (WUC), uma associação com sede na Alemanha, acusa a Huawei, a Hikvision e a Dahua de cumplicidade em vários crimes: genocídio, crimes contra a humanidade, tráfico de seres humanos e escravatura.
"Não fomos notificados de qualquer queixa desse tipo e continuamos à disposição das autoridades competentes", respondeu a Huawei France, contactada pela AFP. As outras duas empresas não reagiram de imediato.
Os uigures são o principal grupo étnico de Xinjiang (noroeste da China).
Desde 2017, mais de um milhão de uigures ou membros de outros grupos étnicos, principalmente muçulmanos como eles, foram colocados em "campos de reeducação" onde as violações dos direitos humanos são frequentes, de acordo com relatórios e as denúncias de organizações não-governamentais (ONG) ocidentais.
Washington acusa Pequim de estar a cometer um "genocídio" na província de Xinjiang.
A China contesta estas acusações e descreve algumas destas instalações como "centros de formação profissional".
Pequim "submeteu toda a população de língua turca de Xinjiang a uma vigilância generalizada", utilizando uma "base de dados gigantesca" alimentada pela "rede de câmaras de videovigilância das cidades de Xinjiang, uma das mais densas do mundo", acusou o WUC.
Outro aspeto da política chinesa denunciado pela organização queixosa é o "trabalho forçado dos uigures".
A Huawei, a Hikvision e a Dahua são apresentadas como estando ligadas, oficial ou oficiosamente, ao regime chinês e como detentoras de contratos em Xinjiang.
Para o WUC, as filiais francesas "tiram partido do sucesso económico das suas empresas-mãe" para "obter acesso a bens de baixo custo" e a "capital".
A Huawei, a Hikvision e a Dahua foram objeto de sanções dos Estados Unidos nos últimos anos, algumas das quais ainda estão em vigor, relacionadas com suspeitas de espionagem contra elas e/ou as suas atividades em Xinjiang.
Predominantemente muçulmanos, os uigures (bem como os cazaques) são etnicamente distintos do grupo étnico maioritário da China, os chineses han, e constituem uma grande parte da população em Xinjiang, uma vasta região chinesa que faz fronteira com o Afeganistão e o Paquistão.
Os uigures, que falam na sua grande maioria uma língua relacionada com o turco, são um dos 56 grupos étnicos que existem no território chinês.
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