O projeto, já divulgado aos Estados-membros da ONU e agora anunciado à imprensa por Guterres, é denominado "Iniciativa ONU80" - a propósito dos 80 anos da ONU celebrados este ano - e será liderada pelo subsecretário-geral Guy Ryder, além de ser integrado por vários diretores de todo o sistema da ONU.
O objetivo, afirmou Guterres, será apresentar aos Estados-Membros propostas em três áreas: identificar rapidamente eficiências e melhorias na forma como a ONU trabalha, rever minuciosamente a implementação de todos os mandatos que foram dados à ONU pelos Estados-Membros - e que aumentaram significativamente nos últimos anos - e, por último, uma revisão estratégica de mudanças mais profundas e estruturais e de realinhamento de programas no sistema da ONU.
"É essencial que um sistema organizacional tão complexo e crucial como as Nações Unidas se submeta a um escrutínio rigoroso e frequente para avaliar a adequação ao propósito de executar os objetivos de forma eficiente", disse o secretário-geral aos jornalistas.
Apesar da carga de trabalho da ONU aumentar de ano para ano, os recursos estão a diminuir em todos os setores, alertou o ex-primeiro-ministro português, explicando que, pelo menos nos últimos sete anos, a ONU enfrenta "uma crise de liquidez porque nem todos os Estados-membros pagam na totalidade" as obrigações anuais e muitos também não pagam a tempo.
A partir de agora, e sob a liderança do presidente da Assembleia-Geral da ONU, Guterres consultará de perto e regularmente todos os Estados-membros sobre os progressos realizados, "procurando orientação sobre o caminho a seguir e apresentando decisões concretas para discussão e tomada de decisões quando apropriado", explicou.
"O meu objetivo é atuar o mais rapidamente possível nas áreas onde tenho autoridade e instar os Estados-membros a considerarem as muitas decisões que lhes cabem. Isto vai muito além do aspeto técnico. Os orçamentos das Nações Unidas não são apenas números num balanço, são uma questão de vida ou de morte para milhões de pessoas em todo o mundo", frisou.
"Precisamos de garantir a relação custo-benefício e, ao mesmo tempo, promover valores partilhados", destacou o líder da ONU.
Guterres sublinhou que esta iniciativa é uma continuação e uma intensificação de um trabalho já a ser feito pela ONU e corresponde ao objetivo de aumentar a eficácia e economia da organização.
A título de exemplo, o secretário-geral indicou que a ONU tem investido em Nairóbi, criando as condições para que a capital do Quénia receba serviços e agências da ONU atualmente presentes em locais mais caros.
De acordo com Guterres, o Fundo da ONU para a Infância (UNICEF) vai transferir em breve algumas das funções para Nairóbi, enquanto o Fundo de População da ONU (UNFPA) vai mudar-se para a capital queniana.
Guterres reconheceu que os cortes na ajuda humanitária e na cooperação para o desenvolvimento anunciados recentemente por países como os Estados Unidos - que suspendeu grande parte da ajuda externa - levou a que agências da ONU reduzissem equipas, dimensão e eliminassem muitas atividades.
Horas após regressar à Casa Branca, em 20 de janeiro, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a suspensão de quase toda a assistência estrangeira como parte da agenda "América em Primeiro Lugar", interrompendo milhões de dólares em financiamento global para alguns dos países mais pobres do mundo.
Na semana passada, o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, já havia alertado que os cortes severos e abruptos de financiamento estrangeiro estão a afetar as atividades humanitárias em países como o Iémen, obrigando as equipas a escolher que vidas salvar.
"Mas as agências são resilientes e, portanto, quando necessário, elas ajustam-se às circunstâncias. (...) A ONU é resiliente", assegurou Guterres, numa nota de otimismo.
"Então, podemos adaptar a ONU, consolidar a ONU, torná-la mais eficaz e mais económica. O que não podemos é resolver os problemas das pessoas que não somos mais capazes de ajudar", acrescentou.
Guterres aproveitou ainda para dirigir uma mensagem aos Estados-membros que não pagam as obrigações, sem mencionar nenhum país: "pague integralmente e pague em dia".
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