Já se fala na possibilidade de 'estagflação' nos EUA, a combinação de estagnação económica com inflação, nomeadamente devido aos possíveis efeitos das tarifas que o Presidente norte-americano, Donald Trump, tem vindo a anunciar.
O JPMorgan Chase e o Goldman Sachs aumentaram as estimativas para a probabilidade de uma recessão, para 40% e 20%, respetivamente, citando crescentes tensões comerciais, instabilidade política e possíveis mudanças na estratégia da Reserva Federal (Fed).
Esta situação foi notada por Vítor Constâncio, ex-governador do Banco de Portugal, que escreveu no X: "Trump está a derrubar a economia. A economia dos EUA está a desacelerar desde a tomada de posse de Trump".
O ex-governador enumerou um conjunto de indicadores para ilustrar o impacto do regresso do Presidente norte-americano à Casa Branca, começando pelo Índice de Confiança do Consumidor do Conference Board, que em fevereiro caiu para 98,3, "marcando o seu terceiro declínio mensal consecutivo e a maior queda desde agosto de 2021".
"O declínio ocorre à medida que as expectativas de inflação para o próximo ano continuam a aumentar", nota, sendo que, de facto, os dados da Universidade de Michigan mostraram que as expectativas de inflação de longo prazo atingiram o nível mais alto em quase três décadas.
Constâncio destacou também que as expetativas dos consumidores relativamente à inflação registaram as maiores subidas dos últimos anos e que "a atividade económica do setor privado sofreu uma grande desaceleração no mês passado".
O S&P Global US Composite PMI caiu para 50,4 em fevereiro de 2025, de 52,7 em janeiro, indicando uma quase estagnação no setor privado, segundo a estimativa preliminar.
Entretanto, o ex-governador também já destacou um novo indicador, as previsões da Fed de Atlanta, que aponta agora para uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano.
Estes indicadores, que elevam os receios de uma recessão, e a incerteza à volta das políticas também provocaram algum nervosismo nos mercados, com as ações a registar grandes oscilações. Nesta segunda-feira, "o Nasdaq 100 esteve a cair mais de 3,8% - registando a maior queda desde a queda de 2022", nota a Xtb numa análise, acrescentando que as ações da Tesla caíram quase 15%.
As ações estão a recuperar, mas a incerteza mantém-se, sendo que Lizzy Galbraith, economista política na Aberdeen, salientou numa nota que foram atualizadas as previsões devido aos ventos contrários de crescimento e inflação para a economia dos EUA.
A economista tem três cenários consoante a agressividade da atuação do Presidente norte-americano, sendo que o caso base é o "Trump 2.0", no qual "age de acordo com as suas prioridades políticas, mas não implementa totalmente as promessas de campanha", sendo que já se espera que a tarifa média ponderada dos EUA seja mais elevada.
Já Marco Giordano, diretor de Investimentos, Wellington Management, destacou numa análise que "as expectativas de inflação nos EUA aumentaram modestamente após o anúncio, mas correm o risco de subir dependendo dos níveis de tarifas implementadas e ameaçam o progresso da inflação em declínio em direção à meta de 2% da Fed".
"Tarifas recíprocas estão a ser anunciadas por esses países", notou, acrescentando que "o sentimento negativo pesou na confiança dos investidores, fazendo com que os mercados de renda fixa se recuperassem globalmente ao longo de fevereiro, impulsionados pela incerteza dos EUA".
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