"As lesões musculares são um dos pilares que nos permitem avaliar se o trabalho é feito com alguma qualidade e critério. Logicamente, aparecerão sempre em todas as equipas, mas parece-me que aquelas que têm um rácio mais baixo conseguem ter um rendimento mais elevado. Em termos classificativos, há alguma relação entre o número de lesões e o rendimento ao longo da época", referiu o ex-fisiologista da seleção portuguesa de sub-21, que fez parte em 2024/25 da equipa técnica liderada por Vítor Bruno no FC Porto.
Óscar Tojo evocou estudos científicos para sustentar que, em média, uma equipa encara sensivelmente 50 a 60 lesões por temporada, das quais 30% a 40% são musculares, ao passo que as roturas dos ligamentos cruzados dos joelhos perfazem entre 10% e 15%.
"O jogo está mais intenso e é natural que o aumento de intensidade e carga competitiva tenha reflexo num maior número de duelos e de mudanças rápidas de direção/travagens. Isso e o acumular de fadiga ao longo do período congestionado poderá levar a um maior número de lesões ligamentares, mas só o futuro nos pode dar essa resposta", adicionou, reforçando que o risco de infortúnios físicos "é mais frequente em jogo do que em treino".
A carga de trabalho no futebol foi analisada pela Federação Internacional de Associações de Futebolistas Profissionais (FIFPro), que, num universo limitado a 1.500 atletas, coloca os guarda-redes Jan Oblak (9.602), Hyeon-woo Jo (9.462) e André Onana (9.460) como recordistas de minutos de competição por clubes e seleções desde a temporada anterior.
Filtrando por jogadores de campo, os mais utilizados em encontros oficiais e particulares, incluindo tempos de compensação, entre julho de 2023 e dezembro de 2024 foram David Hancko (9.414), William Saliba (9.368) e Jhon Arrias (9.214), seguidos pelo internacional luso Bruno Fernandes (9.206), acima de Diogo Dalot (8.947) e Cristiano Ronaldo (8.845).
"Os departamentos de performance dos clubes estão cada vez mais bem apetrechados, com pessoas altamente especializadas, que permitem ao atleta ter um acompanhamento mais individualizado. Isso é muito importante para minimizar a exposição à lesão, porque nos permite ter um conhecimento mais profundo e investir numa área fundamental, que é a da recuperação. Depois, há o lado da especificidade da modalidade", disse Óscar Tojo.
Entre os jogadores da I Liga presentes no portal, quatro superaram os 8.000 minutos: os guarda-redes Diogo Costa (8.649), do FC Porto, e Anatoliy Trubin (8.623), do Benfica, o avançado Viktor Gyökeres (8.450), do campeão nacional Sporting, e o médio 'encarnado' Fredrik Aursnes (8.041), que, há um ano, renunciou à seleção da Noruega, tentando ter "mais tempo e liberdade para dar prioridade a outras coisas além do futebol" na sua vida.
Ciente que a tomada de decisão das equipas técnicas se torna mais difícil quando o intervalo entre dois encontros não respeita o período mínimo de 72 horas de descanso recomendado pela FIFA, o fisiologista lembra que o mesmo plantel tem diferentes ritmos competitivos a nível de participação no jogo em fases de elevada densidade competitiva.
"É da total responsabilidade da equipa técnica e muito desafiante ter o cuidado de olhar para toda esta complexidade e conseguir preparar esses jogadores que não estão a ser utilizados, mas podem vir a ser no futuro. Esta dinâmica de olhar para vários grupos de jogadores dentro do plantel em vários momentos é de extrema importância e desafiante, para que possam estar disponíveis a dar resposta quando o treinador decida e a equipa precise", avaliou, sem diluir "a necessidade de ganhar" inerente aos emblemas de topo.
Óscar Tojo confia que a crescente densidade competitiva "não vai voltar para trás", mas adverte que "nem sempre é fácil" gerir plantéis numerosos, apelando ao maior equilíbrio em cada posição, de modo que a rotação entre jogos não abale o rendimento da equipa.
"O segredo está muito mais aí: ter um número de jogadores muito equiparado a nível de qualidade por posição, porque permitirá ao treinador ter a preocupação de rodar de jogo para jogo sem que a equipa reduza de qualidade, não só no plano físico, mas sobretudo nos comportamentos técnico-táticos e na sincronização entre setores. Não falo tanto em elevar bastante o plantel, porque pode criar algum desconforto e os futebolistas que não são utilizados se não tiverem lesões começarão a perder um pouco o foco", enquadrou.
Os calendários de clubes e seleções habitualmente não se sobrepõem, mas vão impedir diversos atletas, incluindo de Benfica e FC Porto, de atuarem no Europeu de sub-21, que terá a participação de Portugal em junho, quase na íntegra em simultâneo com o Mundial de clubes, disputado pela primeira vez num formato quadrienal e alargado a 32 equipas.
"Outro aspeto importante vai ser as equipas B e/ou de sub-23 [dos clubes] terem alguns jogadores dispersos pelas várias posições, que já estejam num patamar intermédio e, de repente, possam ser chamados e receber a oportunidade de mostrar a sua qualidade em prol da necessidade da equipa principal. Acho que o futuro vai passar por aqui", finalizou.