Paulo Andrez é 'business angel' (BA) e autor do livro 'Startup Risco Zero' editado pela Forbes Books e agora editado em Portugal pela Bertrand.
Além de investigador e empresário, Paulo Andrez é também o primeiro português a conseguir um best-seller na área de conhecimento das Startup e a atingir o top 10 de maiores vendas nos EUA.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o autor disse que foi um "conjunto de fatores que ajudaram a obter este resultado", entre os quais "a sorte de mais de 50 aeroportos internacionais nos EUA escolherem o livro para o vender". "Isso representou uma montra importante para as vendas", acrescentou.
Mas não foi só "sorte" que ditou o caminho de Paulo. Foi também muito trabalho, como o facto de ter dado "inúmeros" workshops nos EUA nos últimos 10 anos e o seu trabalho como BA (pessoas que investem, geralmente, durante o estágio inicial de uma startup, muitas vezes suprindo as necessidades de empreendedores que não encontraram outras fontes de investimento).
Durante a conversa com o Notícias ao Minuto, o empresário salientou ainda a necessidade das escolas portuguesas - e o Estado - atualizarem o seu padrão de ensino relacionado com o rendimento, realçando a importância de ensinar os jovens a criar os seus próprios negócios em alternativa trabalharem por conta de outrem.
Em Portugal, 'Startup Risco Zero' está à venda por cerca de 15 euros. Em breve, o livro será também traduzido para croata, polaco e chinês.
Ser português não foi um problema com que me deparei no 'roadshow'. As pessoas querem ter soluções práticas que funcionam independentemente da origem do autor
É o primeiro português a conseguir um best-seller na área de conhecimento das Startups e a atingir o top 10 de maiores vendas nos Estados Unidos. Qual é a fórmula de sucesso? Acha que a sua experiência como 'business angel' ajudou?
Houve um conjunto de fatores que ajudaram a obter este resultado. Antes de publicar o livro já tinha apresentado, nos últimos 10 anos, inúmeros workshops nos EUA e tinha muitos seguidores no LinkedIn que ansiavam pelo livro. A marca Forbes adicionou muita credibilidade ao livro, [tive] 'reviews' e comentários muito positivos de leitores que leram o livro e levaram muitos outros a comprar o mesmo e tive a sorte de mais de 50 aeroportos internacionais nos EUA escolherem o livro para o vender e isso representou uma montra importante para as vendas.
Além disso, também fiz um 'roadshow' em Nova Iorque, Boston, Miami, São Francisco, etc.Todos estes fatores contribuíram para o sucesso de vendas do livro nos EUA. O meu percurso como 'business angel' e a respetiva experiência adquirida a nível mundial são a base do livro. Ser português não foi um problema com que me deparei no 'roadshow'. As pessoas querem ter soluções práticas que funcionam independentemente da origem do autor.
Um dos motes do seu livro 'Startup Risco Zero' é "libertar o potencial empreendedor". Qual o primeiro passo a dar quando se tem uma ideia de negócio?
Uma ideia de negócio sem execução vale zero. A larga maioria das pessoas que tem uma ideia e gostava de lançar um negócio não o faz devido ao risco. Mas uma grande percentagem dessas pessoas, se mitigassem os principais riscos do negócio (mercado, equipa, financeiro, legal e operacional) chegariam à conclusão que, afinal, o risco seria perfeitamente aceitável e decidiriam avançar com o negócio. O primeiro passo que qualquer empreendedor deve fazer antes de lançar o negócio é mitigar os referidos riscos. Com riscos mitigados, os empreendedores precisam de menos dinheiro, têm menos risco e será mais fácil obterem financiamento externo.
A maioria das pessoas que tem uma ideia de negócio nunca avançou por questões de risco. Na sua opinião, do que têm mais medo essas pessoas?
Existem duas classes de risco: riscos tangíveis, tais como dinheiro, garantias pessoais, etc, e riscos intangíveis, tal como o risco reputacional se algo corre mal, conflitos familiares, etc. Dependendo do país e do contexto individual do empreendedor, os riscos tangíveis podem ter um peso maior do que os riscos intangíveis, apesar de publicamente os empreendedores referirem que o principal risco é tangível.
Por exemplo, uma pessoa que esteja desempregada não corre o risco de ficar desempregada e por isso correrá menos riscos a lançar um negócio do que alguém que tenha um emprego estável.
'Startup Risco Zero' promete ser um guia para reduzir os riscos da criação e do desenvolvimento de negócios. Que tipo de dicas constam nele?
No livro constam mais de 100 dicas para reduzir os riscos tangíveis ou intangíveis de qualquer negócio. Um dos objetivos do livro é ajudar os leitores através da metodologia MEFLO a mitigar os riscos de Mercado, Equipa, Financeiro, Legal e Operacional de qualquer negócio. As dicas indicadas no livro são relativamente simples de entender e de implementar se os empreendedores estiverem empenhados no processo.
O que acha que falta fazer nas escolas e nas universidades nesse sentido?
Várias iniciativas têm sido realizadas nos últimos 10 anos no sentido de apoiar empreendedores oriundos das universidades, mas existe ainda muito por fazer. As universidades têm laboratórios e zonas de teste que, na sua grande maioria, foram pagas pelo Estado ou fundos comunitários. No entanto, quando um empreendedor precisa testar um produto ou serviço nessas instalações geridas pelas universidades o processo na maioria das vezes é longo, penoso e caro.
Acho que o Estado quando paga por esse tipo de instalações deveria exigir que numa pequena percentagem do tempo, os equipamentos e instalações pudessem ser utilizados pelos empreendedores para testarem os seus produtos.
Ao nível ainda das universidades, se um investigador escrever 10 artigos científicos pode progredir significativamente na carreira, mas se ajudar a lançar 10 startups, poderá inclusive perder o seu emprego. Um 'paper' é mais relevante que uma startup para a maioria das universidades em Portugal. Os incentivos estão errados no que toca a incentivar os investigadores a lançar ou a apoiar novas startups.
Ao nível das escolas, uma iniciativa que poderia ser implementada está relacionada com os livros escolares. Nos livros escolares em Portugal não é fácil encontrar exercícios onde os protagonistas são empreendedores. Nos EUA isso é muito comum. Será importante que as escolas ensinem os jovens que também podem criar o seu negócio em alternativa a eles trabalharem por conta de outrem.
E o Estado? O que poderia fazer mais para incentivar a criação de empresas?
Em vez de atribuir fundo perdido aos empreendedores, o Estado poderia focar-se em cinco iniciativas que terão muito mais impacto:
- Comprar produtos e serviços dessas startups pelo mesmo montante que hoje atribuem a fundo perdido;
- Permitir acesso dos empreendedores a laboratórios, locais de teste, etc de forma a que estes possam demonstrar que os produtos ou serviços funcionam;
- Criação de mais fundos de co-investimento com 'business angels' e capitais de risco;
- Utilizar a rede da diáspora para apoiar a internacionalização das startups nacionais;
- Desbloquear as restrições que os investigadores têm no lançamento de novas empresas
Muitas das estruturas intermédias do Estado estão habituadas a gerir programas com um determinado enquadramento há 10, 20 ou 30 anos. É muito difícil que essas estruturas possam inovar pois se algo correr mal, terão os dedos apontados a si. Assim é menos arriscado, continuar a fazer o que foi feito nos últimos 20 anos porque assim ninguém os vai culpar. Mesmo sabendo que esses programas não têm sucesso.
No livro, levanta a questão: "E se os empreendedores pudessem diminuir sistematicamente o risco e garantir a confiança dos bancos ou dos investidores?" Como seria isto possível?
Um dos maiores inquéritos a nível europeu a investidores em startups, foi realizado pela EBAN. Neste estudo perguntou-se a esses investidores quais as razões para eles terem recusado investir nalgumas startups e a primeira razão com mais de 87% foi o risco de execução da startup. Ou seja no papel tudo parece ótimo mas os investidores consideram que os empreendedores não mitigaram os riscos de forma significativa e por isso recusaram investir.
Mais de 96% dos investidores afirmaram que uma diminuição de risco na startup corresponderá automaticamente a um aumento do seu interesse em investir na startup. No livro dou várias dicas de como é possível diminuir os riscos para os investidores e assim aumentar o interesse destes em investir na startup.
Acredita que os muitas vezes as startups não necessitam de investidores, precisam é de clientes. Porquê?
De facto, eu penso que o melhor dinheiro para as startups é o dinheiro proveniente dos clientes, pois garante sustentabilidade a longo prazo e os empreendedores não precisam de ser diluídos (dar ações aos investidores). No livro, eu refiro que muitos empreendedores não sabem como evitar custos elevados no lançamento das startups e a única solução para eles será obterem financiamento externo, seja por via de subsídios a fundo perdido, seja através de investidores.
Um exemplo simples: um empreendedor tem 5.000 euros para lançar um negócio onde o investimento principal será uma viatura. O empreendedor, caso não se queira endividar e quiser comprar uma viatura por 40.000 euros, terá de angariar investidores. Mas se ele alugar a viatura por 6 meses terá apenas o custo de 2.000 euros. Se durante esses 6 meses o empreendedor conseguir angariar clientes não vai precisar de investidores. Esta forma de pensar e atuar faz toda a diferença entre sucesso e insucesso uma vez que os investidores na Europa, mas também nos EUA, só investem em 3% das empresas que os contactam para investimento. 97% dos empreendedores não consegue angariar capital junto de investidores.
Por fim, uma pergunta relacionada com sustentabilidade, uma das áreas de que mais tem falado e em que tem investido. Recentemente, disse que a tecnologia é fundamental para a sustentabilidade e que algumas empresas em Portugal têm capacidade para ajudar nessa transição. Estamos a falar de alguma empresa em específico? De que forma a tecnologia pode ajudar a termos um país (e mundo) mais sustentável?
Não se pode gerir algo que não se consegue medir. Uma das áreas que a tecnologia está a ajudar as empresas a reduzir consumos, desperdícios e emissões de CO2 é a indústria dos sensores. Ao se reduzirem consumos e desperdícios as empresas tornam-se mais resilientes, contribuindo para a sustentabilidade do nosso planeta.
Portugal tem várias empresas nesta área, mas não quero referir nenhuma em particular. Estive envolvido num negócio de sensores de uma startup alemã que foi vendido a uma multinacional alemã e por isso tenho uma sensibilidade especial para esta atividade.
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