Aos 15 anos, Inês Marinho viu as suas 'selfies' e fotografias em biquíni serem partilhadas em grupos dedicados ao pedido de imagens explícitas, sem o consentimento das pessoas retratadas. Anos depois, a história piorou: um vídeo íntimo da jovem de 26 anos foi amplamente divulgado na rede social Telegram, com informação que a identificava. Confrontada com esta violação de privacidade, Inês Marinho criou o movimento 'Não Partilhes' que, em 2021, se tornou oficialmente uma associação de apoio a vítimas e sobreviventes de violência sexual baseada em imagens (VSBI).
Apesar de ter tido uma rede de apoio, Inês Marinho admitiu, em conversa com o Notícias ao Minuto, que essa não é a norma. Foi a pensar em quem não tem 'um ombro amigo' que surgiu a 'Não Partilhes', por forma a 'abafar' a "espiral de pensamentos negativos" que advém dos comentários pejorativos por parte da sociedade em geral, assim como a consciencializar a comunidade para esta prática.
É que, na sua ótica, "a única maneira de uma mulher prevenir não ser vítima deste crime é não existir, trancar-se em casa, não tirar fotografias, e viver como a Rapunzel, num castelo". E, mesmo assim, está a sujeita a outro tipo de VSBI, 'à boleia' dos conteúdos criados com recurso a Inteligência Artificial (IA) e à captação de fotografias sem o seu consentimento.
Ainda que as vítimas sejam, na maioria das vezes, mulheres, os homens também não estão a salvo. Entre mais de 1.500 pedidos de ajuda por parte de mulheres, a associação recebeu, até agora, cerca de 10 mensagens de homens, que também se viram a braços com um crime que pode tocar a todos, independentemente da idade ou do sexo.
Acho que o que afeta as pessoas são os comentários de toda a gente, de uma forma geral. Esses comentários pejorativos fazem com que uma pessoa que sabe que está tudo bem, que não tem culpa e que devia fazer queixa se questione várias vezes se isso é realmente a verdade. Uma pessoa que não tem retaguarda nenhuma, que é a maioria, cai nessa espiral de pensamentos negativos, porque é o que ouve
Foi depois de ter sido vítima da partilha de conteúdos íntimos sem consentimento que surgiu a 'Não Partilhes'. Qual foi o processo até decidir criar uma associação e porquê?
Na verdade, levou pouco tempo. Partilharam um vídeo meu, de forma não consentida, mas não era identificável. Decidiram fazê-lo com o meu nome, com o meu Instagram, com as minhas redes sociais e, do nada, era um vídeo identificável. O vídeo foi mais amplamente divulgado no Telegram e, na altura, juntaram-me com outras raparigas que também estava a ser expostas nessa aplicação.
Falámos sobre o que poderíamos fazer, como é que poderíamos procurar ajuda, e dei a ideia de criar um Instagram para consciencializar a não culpabilizar a vítima, em 2020. Recebemos tantas mensagens que, passado uns meses, fui incentivada e decidi formalizar a associação, em 2021, para conseguir dar um apoio mais sério a quem queria falar connosco, porque até então era só um movimento.
Como é que soube que os seus conteúdos tinham sido partilhados? Denunciou o caso junto das autoridades?
Soube que o meu conteúdo foi partilhado, em 2019, no Whatsapp, no Twitter e em sites pornográficos. Tirando o Whatsapp, que tem grupos privados, consegui denunciar e apagar. Em alguns sítios, o conteúdo ficou hospedado durante dias e, quanto mais tempo um vídeo fica publicamente disponível, maior é a probabilidade de alguém o guardar ou de ser enviado para outras pessoas.
Denunciei várias vezes a repartilha, fiz cerca de quatro ou cinco denúncias. Com duas outras raparigas, denunciei também uma situação de um rapaz que tinha um X (Twitter) que expunha influencers, mas todos os casos acabaram por ser arquivados e não seguiram em frente.
Sentia que tinha de recompensar o que diziam de mim na Internet: que era uma porca e que devia ter vergonha
Nessa linha, de que forma é que este tipo de violência afeta as vítimas?
Acho que a minha experiência é singular, porque tive muito apoio da minha família, do meu namorado da altura e dos meus amigos, o que não é uma coisa comum. Também tive essa exposição extrema online e criei o movimento. Estou sempre a falar da situação, o que me dá exposição tanto positiva, como negativa.
Sei que a maioria das pessoas se sentem completamente isoladas, ansiosas, caem em espirais de depressão e de automutilação, levam a cabo tentativas de suicídio ou têm pensamentos suicidas e, infelizmente, há quem já não esteja cá para contar a história, porque acabou por colocar termo à vida.
Há pessoas que também ficam com inibições sexuais; eu senti isso. Senti-me muito inibida tanto social, como sexualmente. Sentia que tinha de recompensar o que diziam de mim na Internet: que era uma porca e que devia ter vergonha. Quando estava com o meu namorado pensava, ‘não vou me sexualizar, porque sou uma porca’. Eram tudo pensamentos subconscientes. Nunca tive esse tipo de educação, não ouvia isso de pessoas próximas, mas era o que ouvia de pessoas que não estavam perto de mim.
Costumo dizer que o que me afetou, e o que acho que afeta as vítimas, não foi a exposição em si; muitas vezes até são pessoas que se orgulham do próprio corpo, mostram-no de livre vontade e têm uma vida sexual saudável. Acho que o que afeta as pessoas são os comentários de toda a gente, de uma forma geral. Esses comentários pejorativos fazem com que uma pessoa que sabe que está tudo bem, que não tem culpa e que devia fazer queixa se questione várias vezes se isso é realmente a verdade. Uma pessoa que não tem retaguarda nenhuma, que é a maioria, cai nessa espiral de pensamentos negativos, porque é o que ouve.
As pessoas costumam dizer, ‘Se não queres ter fotos explícitas na Internet, não partilhes’, mas quantas mulheres são fotografadas sem saber?
Também poderá dever-se ao facto de haver falta de perceção de que qualquer pessoa pode ser vítima de uma situação destas.
Até vou além disso. As pessoas costumam dizer, ‘Se não queres ter fotos explícitas na Internet, não partilhes’, mas quantas mulheres são fotografadas sem saber? Quantas mulheres é que nunca tiraram uma fotografia [explícita] e, do nada, partilham uma ‘nude’ sua feita com Inteligência Artificial?
Já me aconteceu acordar com dezenas de mensagens e de chamadas não atendidas para me alertar que havia um vídeo meu a circular e, quando fui ver, era uma fotografia minha do Instagram com um vídeo que não era meu. Do nada, estão ali 70 ou 100 mil pessoas num grupo que dizem que sou eu, a difamar-me, porque alguém decidiu dizer que era eu.
O conselho do ‘não partilhes’ faz sentido para menores de idade. Para a maioria das pessoas, não faz grande sentido. Na verdade, a única maneira de uma mulher prevenir não ser vítima deste crime é não existir, trancar-se em casa, não tirar fotografias, e viver como a Rapunzel, num castelo.
De facto, até teve fotografias suas em biquíni partilhadas neste tipo de grupos.
Sim. Havia um grupo no Facebook que se chamava Rebarbados 2.0, em que se publicava fotografias de raparigas e se pedia ‘nudes’. Quem tinha imagens íntimas da pessoa enviava-as em mensagem privada. Era um grupo onde só podias entrar se fosses homem. Tinha amigos lá e lembro-me, com 15 anos, que não havia um mês em que não caísse uma fotografia minha, perfeitamente normal, com pessoas a pedir ‘nudes’ e outras a dizer que tinham e que, depois, enviavam.
Questionava-me o que é que andavam a enviar uns aos outros, porque não existia nada meu. Até na altura, que não havia Telegram e o Whatsapp nem era assim tão usado, já se fazia este tipo de coisas. Caiam fotografias minhas de biquíni, selfies, e, só por publicar isto, já estava no foco. Infelizmente, acho que não é preciso enviar uma ‘nude’ a alguém para ir parar a estes grupos.
Há casos em que os grupos até são a pagar. A nossa lei ainda não enquadra isto, penso eu, como tráfico sexual, mas se há pessoas a lucrar com material de abuso sexual, conteúdo não consentido, fotografias roubadas, fotografias que são partilhadas com consentimento e repartilhadas sem consentimento, a meu ver estamos a falar de cinco ou seis crimes
Soube-se há relativamente pouco tempo que existem grupos no Telegram dedicados à partilha destes conteúdos que ultrapassam os 70 mil membros em Portugal. Como é que as vítimas podem lidar com esta violação de privacidade?
Em relação ao Telegram, há muito pouco a fazer. Pode fazer-se queixa e aconselho sempre a fazer queixa, porque quando mais pressão há, mais rápida a resposta tem de ser dada. Mas a verdade é que as notícias são piores, porque não dão resposta. Até grupos de crimes vistos como mais graves, – porque estes crimes contra as mulheres nunca são vistos como assim tão graves –, que partilham conteúdos de abuso sexual de menores, venda de droga, não dão respostas. Não há mesmo nenhum conselho prático que consiga dar e que seja eficaz. Ainda há o acréscimo de que ninguém pode fazer queixa destes grupos, a não ser que tenham conteúdos de abuso sexual de menores. Se vir um conteúdo teu ou a falarem mal de ti num grupo do Telegram, não posso fazer queixa, só tu.
Já fizemos uma petição, que foi a discussão parlamentar, para que este crime fosse público, para que qualquer pessoa pudesse fazer queixa, mas não foi aceite. Neste momento, é muito complicado. Apenas a pessoa representada pode fazer queixa e, muitas vezes, não tem maneira de chegar ao grupo para ter provas. Há casos em que os grupos até são a pagar. A nossa lei ainda não enquadra isto, penso eu, como tráfico sexual, mas se há pessoas a lucrar com material de abuso sexual, conteúdo não consentido, fotografias roubadas, fotografias que são partilhadas com consentimento e repartilhadas sem consentimento, a meu ver estamos a falar de cinco ou seis crimes. Não percebo como é que o Telegram continua a não dar resposta.
Fico nervosa com isto, porque todos os dias chegam-me mensagens de pessoas a pedir ajuda e não se pode fazer nada. Já falo disto desde 2019. Passam-se coisas no Telegram que não faz sentido serem permitidas na Europa. Há um acidente numa autoestrada em Portugal com pessoas em estados lastimáveis e o conteúdo vai logo para o Telegram. Todo o conteúdo mau que existe está lá, é uma aplicação perigosa para toda a gente, mas principalmente para os menores de idade. É muito triste e injusto para nós associações, que estamos a ver constantemente pessoas a ser vitimizadas pelo Telegram, percebemos que não há grande coisa que se possa fazer.
Como já passei por isto, ter-me-ia ajudado e acalmado ter alguém a organizar-me as ideias e dizer-me: "Respira. Não precisas de ir agora para a esquadra, tens seis meses para fazer queixa. Devias fazer queixa aqui; se quiseres fazer queixa, fazes, se não quiseres, não fazes, porque sei que é um processo doloroso. Estou aqui se precisares de desabafar e não tiveres mais ninguém."
Mas, de forma geral, o que é que as vítimas podem fazer? E as pessoas à sua volta, como é que devem agir?
Mesmo no Telegram, acho que é muito importante dirigirmo-nos à Polícia Judiciária (PJ), que é a polícia que está mais familiarizada com estes crimes, e fazermos queixa. Dá jeito ter alguma prova – um print da página ou de alguém que nos disse o que está a acontecer – mas, mesmo que não tenhamos, recomendo apresentar queixa com tudo o que tivermos. Denunciar, se for possível, na aplicação; normalmente, entra-se nos grupos por convite e, se tiveres acesso à mensagem, consegues denunciar, mas geralmente a fotografia nunca é apagada.
Em relação a outras aplicações, também devemos denunciar. Muitas vezes, os sites pornográficos, e até o Twitter, criam uma pegada digital do conteúdo, para que nunca mais possa ser publicado, o que é uma grande ajuda.
O importante é fazer queixa. Não fazemos acompanhamento jurídico, mas damos aconselhamento; se a pessoa não souber como agir, de que crime é que está a ser vítima, onde é que se enquadra, se é violência doméstica, se é difamação, pode contactar-nos. Temos um grupo de advogadas e de pessoas de direito que podem fazer esse aconselhamento. Também fazemos apoio emocional; falo com todas as pessoas que contactam a página.
Não sou psicóloga, nem advogada, mas acho que sou uma boa amiga. Como já passei por isto, ter-me-ia ajudado e acalmado ter alguém a organizar-me as ideias e dizer-me: "Respira. Não precisas de ir agora para a esquadra, tens seis meses para fazer queixa. Devias fazer queixa aqui; se quiseres fazer queixa, fazes, se não quiseres, não fazes, porque sei que é um processo doloroso. Estou aqui se precisares de desabafar e não tiveres mais ninguém." Na minha experiência, as pessoas não têm, na maioria dos casos, mais ninguém, nem veem uma porta aberta para falarem sobre isto.
Na denúncia à polícia, peço que não vão sozinhos. Infelizmente, a polícia também pode não ter a melhor reação. Sei de várias situações de pessoas que não foram bem tratadas pela polícia. Chamarem, ‘Joana, a miúda das nudes, quem é?’ à frente de toda a gente; uma rapariga pedir para falar com uma polícia mulher, dizerem que não há e, de repente, aparecer uma polícia mulher, etc. Se já é difícil percebermos que somos vítimas, dizermos que somos vítimas e irmos fazer queixa, recebermos este tipo de comentários na esquadra é desumanizante e tira a esperança às pessoas.
De certeza que quase toda a gente confiou em alguém que não o merecia e a culpa é 100% dessa pessoa. Não somos nós que cometemos um erro ao confiarmos em alguém. Confiar é uma coisa humana, é assim que se constroem as relações. Estranho é alguém pegar numa coisa que é vulnerável à outra pessoa e usá-la contra ela
Sabemos que, em caso de abuso sexual, as ações das vítimas são, muitas vezes, questionadas. Assim, o que é que não se deve dizer?
É muito importante, enquanto pessoas que estamos a ver alguém passar por uma situação complicada, compreendermos, valorizarmos o problema e não questionarmos a dor da pessoa. Por exemplo, acham que quando uma pessoa é assaltada e lhe roubam a carteira ela quer ouvir que devia ter tido mais cuidado? No que é que isso vai ajudar a pessoa? A pessoa que está a passar por essa situação já sabe que não devia de ter confiado naquela pessoa.
Acho que toda a gente se consegue ver nesta posição de confiar em alguém que não o mereceu. Esse voto de confiança pode não ter sido a partilha de uma ‘nude’, mas de certeza que quase toda a gente confiou em alguém que não o merecia e a culpa é 100% dessa pessoa. Não somos nós que cometemos um erro ao confiarmos em alguém. Confiar é uma coisa humana, é assim que se constroem as relações. Estranho é alguém pegar numa coisa que é vulnerável à outra pessoa e usá-la contra ela. Isso é que é estranho, mau e pode ser julgável.
Dizer algo como, "Estou aqui para ti se quiseres falar, mas se não quiseres falar, continuo a estar aqui para ti. Queres procurar ajuda? Vou procurar ajuda", é muito importante. Mesmo que não estejam prontos para ajudar, encaminhem a pessoa.
A pessoa mais nova que tivemos tinha nove anos e a mais velha tinha 60 anos
Tem presente quantas pessoas já recorreram diretamente à associação?
Não tenho números certos, mas sei que foram menos de duas mil e mais de 1.500. As idades estão mais focadas entre os 16 e os 25 anos, mas a pessoa mais nova que tivemos tinha nove anos e a mais velha tinha 60 anos.
Agora, os miúdos vão para a escola e já têm um telemóvel na mão. Muitas vezes, os pais nem têm controlo parental, nem sabem como se faz, nem sabem o que é. Também podem ser vítimas deste crime, mas não têm Instagram para nos contactar.
A maioria das vítimas deste tipo de crime são, infelizmente, mulheres. Já lhe chegaram testemunhos de homens?
Chegaram, sim. Não são muitos e não acho que não sejam muitos porque não existem. Acho que há uma disparidade muito grande entre homens e mulheres, obviamente, porque a sexualidade das mulheres é vista de forma diferente, mas não acho que os números reflitam assim tanto a realidade no caso dos homens. É possivelmente muito maior do que se mostra.
O feminismo, que muitos são tão contra, também serve para ajudar os homens neste tipo de coisas. Não há que ter vergonha em fazer queixa; não é por isto ser um crime que acontece maioritariamente a mulheres que não pode acontecer a homens e que eles não têm todo o direito de fazer queixa. Acho que eles próprios sentem o que a sociedade lhes diz. Acho quem nem 10 vieram falar connosco.
Em jeito de resumo, qual é a atuação da 'Não Partilhes' em termos de sensibilização para este tipo de violência?
Temos uma equipa de comunicação que publica muito conteúdo online, como dicas de segurança, dicas de detox mental, recomendações de filmes, livros e séries que vão de acordo com o tema, com ideias feministas e de igualdade de género. Esclarecemos dúvidas, partilhamos notícias sobre situações deste género e atualizações, como o caso da detenção do CEO do Telegram.
Também fazemos palestras escolares, em casas de acolhimento, orfanatos, universidades, centros de emprego. Fazemos palestras de consciencialização de linguagem mais adequada, de como lidar com as vítimas e ajudar as vítimas, no caso de educadores e encarregados de educação, e temos uma equipa jurídica que aconselha as vítimas quando querem fazer queixa, que é um número reduzido. E, claro, damos apoio emocional e uma voz amiga.
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Se estiver a sofrer com alguma doença mental, tiver pensamentos autodestrutivos ou simplesmente necessitar de falar com alguém, deverá consultar um psiquiatra, psicólogo ou clínico geral. Poderá ainda contactar uma destas entidades:
- SOS Voz Amiga (entre as 16h e as 24h) - 213 544 545 (Número gratuito) - 912 802 669 - 963 524 660
- Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h) - 808 237 327 (Número gratuito) e 210 027 159
- SOS Estudante (entre as 20h e a 1h) - 239 484 020 - 915246060 - 969554545
- Telefone da Esperança (entre as 20h e as 23h) - 222 080 707
- Telefone da Amizade (entre as 16h e as 23h) – 228 323 535
Todos estes contactos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24 - depois deve selecionar a opção 4), o contacto é assumido por profissionais de saúde. A linha do SNS24 funciona 24 horas por dia.
Anote ainda estes números de apoio à vítima:
- Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) - 116 006
- SOS Criança - 116 111
- SOS Adolescente - 800 202 484
- SOS Mulher - 808200175
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