"O CDS tem pessoas boas, mas que precisam de pessoas novas, que desafiem"

A Juventude Popular terá eleições em fevereiro de 2025 e Catarina Marinho, a convidada do Vozes ao Minuto desta quinta-feira, é candidata à liderança para o mandato que se segue, de 2025/2026.

Notícia

© Divulgação / 'Do Dizer ao Fazer' / Catarina Marinho

Carmen Guilherme
09/01/2025 08:38 ‧ há 10 horas por Carmen Guilherme

Política

Vozes ao Minuto

A Juventude Popular (JP) nasceu em 1974, mas foram precisos 50 anos para que uma mulher se candidatasse, pela primeira vez, à liderança da juventude partidária do CDS-PP. Catarina Marinho, de 26 anos, é uma dessas mulheres, tendo anunciado a sua candidatura no passado dia 23 de novembro, sob o mote 'Do Dizer Ao Fazer'.

 

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, admite que a sociedade estava habituada a que "a política fosse o mundo dos homens", espaço que vai sendo ocupado, passo a passo, pelas mulheres, o que "por si só não é critério", ressalva, defendendo que "é preciso ter também a qualidade e as características" certas. 

Ainda assim, promete que fará bandeira de algumas lutas das mulheres, sobretudo para aquelas que querem ser mães. A moção que apresentará no Congresso decisivo assenta em três pilares: "educação, independência e família".

Nesta entrevista, fala-nos também sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG). É contra, mas diz respeitar o resultado do referendo de 2007. No entanto, sobre o tema, atira: "Estamos a olhar para o final do funil e não para o início, onde devíamos estar a fazer o trabalho de dizer que existem métodos contracetivos, que a IVG não é um método contracetivo". 

Vice-presidente nacional da Comissão Política Nacional desenhada por Francisco Camacho, atual líder da JP, Catarina Marinho quer que esta seja a estrutura jovem que passa das "palavras para a ação", já com uma mobilização para as autárquicas. Rejeita que o CDS-PP seja "um clube", mas reconhece que há pessoas "com um peso político muito grande" no partido que precisam de novas caras que as "desafiem". 

O Congresso Nacional da Juventude Popular realiza-se nos dias 22 e 23 de fevereiro de 2025. Além de Catarina Marinho, também Enide Seixas já anunciou a sua candidatura à liderança. 

Estávamos habituados a que a política fosse o mundo dos homens e as mulheres, agora, estão a ocupar esse espaço devagarinho

Como muito tem destacado, é a primeira vez em 50 anos que uma mulher se candidata à liderança da Juventude Popular (JP). Por que razão acha que só acontece agora?

Na verdade, até é uma coisa que não é só restrita à Juventude Popular, porque muitas outras juventudes partidárias ou tiveram muito poucas mulheres ou apenas uma. É um passo positivo e é uma coisa que parece-me bastante importante. Acho que acontece agora muito por uma questão cultural, ou seja, estávamos habituados a que a política fosse o mundo dos homens e as mulheres, agora, estão a ocupar esse espaço devagarinho. Mas uma coisa que acho que é importante e é muito, muito, muito importante deixar isto claro, é que ser mulher por si só não é o critério, é preciso ter também a qualidade e as características, pelo menos esse é o meu 'mindset'.

Assunção Cristas, quando foi candidata a primeira-ministra, já dizia de antemão que toda a gente achava que ela era completamente maluca e que não tinha competências, muito porque era mulher. Acho que é preciso que as mulheres tomem o primeiro passo e façam parte

Numa recente entrevista, Assunção Cristas, uma das mulheres mais marcantes na história do CDS-PP, afirmou que a política era e continua a ser "muito, muito" machista. Pelas suas palavras, parece-me concordar com esta afirmação...

Sim, eu até diria mais: nós, mulheres, temos o espaço para começar e dar o primeiro passo e entrar na política, mas o que acho que acontece hoje em dia, e na verdade não é só com as mulheres, com a população no geral, é que a política é vista como uma coisa meio negra, suja, ninguém quer participar. E o que acontece é que deixamos que este espaço seja ocupado por pessoas que se calhar não têm tanta qualidade e que não nos representam tão bem. E isto para mim transcreve-se também para as mulheres. Se nós, de facto, entrarmos na política, se o máximo de mulheres possível fizer parte, falar e for uma voz ativa, vamos obviamente ganhar mais espaço. Esta candidatura é exemplo disso.

Estou na estrutura da Juventude Popular já há algum tempo, fui ganhando o meu espaço, ganhando o meu interesse e agora estou a ter esta oportunidade de liderar a estrutura. Portanto, sim, eu acompanho aquilo que foi dito pela Assunção Cristas, ela muito em particular, então quando foi candidata a primeira-ministra e já dizia de antemão que toda a gente achava que ela era completamente maluca e que não tinha competências para tal, muito porque era mulher e tinha aquele perfil. Acompanho e vivi também muito isso, acho que é preciso que as mulheres deem o primeiro passo e façam parte e deem o trabalho que têm e o contributo que podem adicionar.

Enquanto primeira candidata mulher, e na linha do que me acaba de dizer, pretende também que algumas daquelas que ainda são as lutas das mulheres sejam também as suas bandeiras?

Sem dúvida! Um dos temas que levo com muito orgulho é as jovens mulheres e mulheres, no final do dia, mães, que não têm o apoio, que não têm as condições para construir a sua família em Portugal. Queremos muito focar neste problema que temos, neste grande, grande, grande desafio que o país atravessa e que afeta, em particular, muitas mulheres e as famílias que querem crescer e que querem ficar em Portugal. São temas que eu quero pegar, que não afetam só as mulheres, mas que obviamente me dizem muito porque também sou uma.

Acreditamos que deve haver um foco na saúde, não em termos de qualidade, porque esse não é o problema em Portugal, mas sim de acessibilidade

E como é que entende que esse tema deve ser tratado? Ou seja, que desafios e que soluções é que pretende assumir? 

Para esta candidatura fizemos uma série de entrevistas a jovens, mulheres e homens, que não fazem parte da nossa estrutura, para ouvirmos um bocadinho quais é que eram os problemas que sentiam e dos quais podemos estar afastados. E, quando perguntamos 'porque é que tu não és mãe?' ou 'porque é que ainda não pensaste ser mãe?', muitas vezes, as respostas com que nos deparamos é 'apoio familiar, não há condições, os meus pais estão longe, a escola não está perto, não há vagas nas creches, o centro de saúde não tem capacidade para me receber se tiver algum problema'. O que isto cria é um sentido de insegurança para a mãe, para a mulher. Portanto, se eu me sinto insegura, em princípio não vou ser mãe, não é? Só se estiver mesmo muito confortável e com uma crença muito grande de que o sistema vai funcionar. O que acreditamos é que deve haver um foco na saúde, não em termos de qualidade, porque esse não é o problema em Portugal, mas sim um problema de acessibilidade - eu não tenho aquilo que preciso no momento em que preciso, tenho de esperar ou tenho de me deslocar a um sítio mais longe.

É olhar por aí, mas também para coisas que podem não ser tão físicas ou que em termos de Orçamento do Estado não têm tanto impacto, como é o exemplo de uma linha 24 horas, direta, para mães ou grávidas no pré e pós-parto, que também têm problemas por exemplo com depressões e isso também acaba por as afetar. Esta linha poderia ser um exemplo muito simples, uma forma de elas se sentirem mais seguras e amparadas se houvesse esse problema. Mas também em tudo aquilo que é o apoio da família. Uma das coisas que os jovens nos disseram, homens e mulheres, é que não eram pais porque os pais estavam a trabalhar, não podiam parar de trabalhar mesmo que gostassem muito de o fazer, as creches estavam cheias. O que também queremos é interligar gerações e ter a certeza de que os avós, os tios, podem também fazer parte daquele que é o núcleo familiar. Se apoiarem, em princípio, a mãe e o pai e a família têm também mais segurança para construir a sua família.

Mas, na prática, como é que se faz isso?

Há propostas muito interessantes que são feitas já em alguns países da Europa, como é o caso de dar também um período após a criança nascer aos avós, não só a mãe e ao pai. Ou até no final do período da mãe e do pai para darem um apoio extra, poderem fazer parte do crescimento e da receção deste bebé. Outra coisa muito impactante é as creches. Em Portugal, temos esse exemplo. Não temos vagas para todas as famílias, para todas as crianças. O que acontece em alguns países da Europa e que tem funcionado muitíssimo bem, é o Estado dar à família aquela verba que iria investir com aquela criança, em vez de, no fundo, 'acontecer nada', e a família decide se então a avó pode deixar de trabalhar para se dedicar ao neto, ou o avô, ou então colocar o bebé numa creche que poderá ser privada, e a família depois faz essa gestão. São aqui dois exemplos muito específicos de propostas que já existem e de leis que já existem na Europa e que nós só temos de conseguir absorver o que que faz mais sentido para Portugal tendo em conta as nossas necessidades e, obviamente, também restrições em termos de Orçamento do Estado, mas que são pequenas coisas que têm tudo a ver com o apoio e a segurança que damos a estas famílias e, neste caso, às mães.

Então, quando fala na questão da família e independência como pilar da moção que vai levar ao Congresso, é disto que se trata? 

A nossa moção tem três pilares. O primeiro pilar é a educação, o segundo é a independência e o terceiro é a família. Portanto, claramente a família ocupa para nós um espaço muito importante naquilo que é a proposta que temos para os jovens portugueses, sem dúvida.

Deveríamos estar a discutir como é que educamos os jovens e como é que explicamos que existem riscos e consequências, que são pesadas, de realizar uma IVG

Já que estamos a falar de família, de mulheres que querem ser mães, gostava de saber a sua opinião sobre a polémica na qual esteve envolvido, no último ano, o atual vice-presidente do CDS-PP e deputado Paulo Núncio por defender a realização de um novo referendo à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), com objetivo de reverter a lei. A posição do CDS é conhecida, mas qual é a sua?

Eu sou contra a IVG, mas respeito o resultado que tivemos no último referendo, há cerca de 20 anos. Vou sempre defender e sempre defendi propostas que ajudem na criação e na construção de vida e exatamente por isso é que a família é este pilar importante que estava a referir, e nunca serei pela destruição, pela morte. Portanto, dito isto, a minha posição nunca se vai alterar mesmo que eu não diga que é preciso fazer um referendo, apenas estou alinhada com aquilo que foi a decisão tomada pelos portugueses, isso não quer dizer que concordo com a mesma. O meu ponto aqui é que continuamos a discutir este tema, mas aquilo que acho que deveríamos, na verdade, estar a discutir era uma coisa completamente diferente, que é como é que educamos os jovens e como é que explicamos que existem riscos e consequências, que são pesadas, de realizar uma IVG. Na minha ótica, estamos a olhar para o final do funil e não para o início, que é onde devíamos estar a fazer este trabalho de dizer que existem métodos contracetivos, que a IVG não é um método contracetivo.

Exceções para a IVG? Aquelas que acho que são as sustentáveis, como é o caso do perigo de vida ou então de uma violação

Mas, sabemos que há situações excecionais e, muitas vezes, a gravidez pode não ser resultado de um descuido ou de desinformação. A Catarina não abre exceções?

Não sei se vou cometer aqui um erro, mas até acho que todas as exceções que estavam anteriormente ao referendo são aquelas que acho que são as sustentáveis, como é o caso do perigo de vida ou, então, de uma violação, por exemplo. Especialmente se for uma criança ainda me toca mais. Mas há outras que muitas vezes são levantadas, como é o caso de a família dizer que não tem ou a mãe dizer que não tem condições financeiras e que não tem capacidade para depois receber a criança. Isto para mim já não faz sentido, nem por razões económicas, nem por laborais, nem por, vamos imaginar, ser uma mãe solteira e não ter família. Estas razões já não me fazem tanto sentido. Porquê? Porque defendo que o Estado tem um papel a ocupar com apoios, subsídios, abonos... E o facto de eu defender que esta criança deve nascer, situa-se muito na razão de apresentar soluções, como é o caso de dizer à mãe que existe a opção de adoção no final da gravidez, que é uma proposta e uma solução completamente viável. A minha preocupação, devido ao sistema que temos, é que nunca chegamos a conseguir ter esta conversa e esta explicação com a mãe para ela conseguir ter uma decisão informada, refletida, porque não temos um sistema e não estamos preparados para o fazer de uma forma tão profunda quanto este tema merece. Tenho claramente exceções que são muito específicas, mas depois há muitas outras que são levantadas pela sociedade ou por alguns pontos de vista que eu já não concordo tanto.

Pegando, então, nesta questão de informar os jovens, de educar, essa educação acha que devia ser dada onde? Na escola? Nos centros de saúde? Como é que chegamos aos jovens?

Sim, acho que a escola é uma ótima forma de conseguirmos educar os nossos jovens e este tema não pode ser um tema tabu, porque se não queremos que isto aconteça, não podemos ter medo de falar do tema. Naquele primeiro tema, que é o da educação, temos esta proposta, que é falar com os jovens logo durante o seu momento de formação sobre o tema. Não vamos esperar que eles sejam adultos para falar sobre o tema, senão temos aqui um período em que eles estão completamente desinformados. Acho que, depois, também o próprio sistema e a própria cultura que temos podem ajudar e podem trabalhar no sentido de fazer campanhas, distribuir informação, especialmente a partir do Ministério da Saúde, o Estado conseguir divulgar estes meios que os jovens podem ter, os jovens e qualquer pessoa, o máximo possível.

O objetivo aqui é não haver nenhum português que esteja desinformado e que por estar desinformado tem de chegar ao momento de ter esta decisão. Até porque, e agora falando no tema das mulheres, fazer uma IVG não é propriamente uma coisa que uma mulher queira fazer, independentemente de ser 100% a favor disso. É um processo que é desagradável, que é doloroso, que na verdade mexe com a mulher sempre de alguma forma. Portanto, devíamos mesmo estar a apostar e a investir na formação sobre este tema, na minha opinião.

Certo, mas, de acordo com o que diz, a proibição iria deixar as mulheres numa situação muito mais fragilizada, não? Eu sei que não disse que queria um retrocesso, mas uma questão muitas vezes discutida é que não ter acesso também deixaria as mulheres numa situação mais fragilizada. 

Não, claro que sim, mas o meu ponto é esse. O meu ponto é que nós - e com todo o respeito que tenho por todos os políticos de todas as vertentes - temos partidos que estão a levantar o tema no final deste funil e não no início. Há estudos, acho que de 2023, de que mais de 70% [das IVG] eram por razões que 'aconteceu e agora quero fazer uma IVG'... Uma percentagem muito pequena era por problemas durante o parto... Portanto, claramente, não queremos que a mulher chegue àquele ponto. Agora, o que não quero fazer é discutir uma solução quando a mulher já está neste ponto. Eu quero discutir a solução antes, para que ela não esteja, porque, para mim, este tema, que muitas vezes é quase filosófico e uma posição muito política, é um compromisso social que acho que devemos ter, que é construir uma cultura que tem respeito pela dignidade humana. Portanto, isto para mim é uma cultura que valoriza e que protege todos, independentemente da sua idade, condição ou lugar. É uma vertente muito abrangente.

 Se olharmos especificamente para o tema da educação, o sistema que temos hoje é um sistema muito pouco flexível. Temos um modelo educativo muito quadrado

Tem dito que o seu foco é solucionar o que é mais crítico na fase da vida de um jovem. O que é que entende por mais crítico?

Bom, das necessidades que recolhemos de um jovem é que ele necessita de ter a sua formação, de ter um momento de educação bom, com qualidade, para ganhar a sua independência e depois para construir a sua família, o seu projeto de vida. Se olharmos especificamente para o tema da educação, o sistema que temos hoje é um sistema muito pouco flexível. E eu tenho capacidades que você não tem ou outros não têm. Ao dia de hoje, [o sistema] não se consegue adaptar a isso, temos um modelo educativo muito quadrado.

Qual é que é a nossa visão? É conseguirmos responder às necessidades dos jovens, conseguindo cruzar com aquilo que eles são bons a fazer de forma inata e que têm gosto por fazer. Temos vários exemplos. Temos o exemplo de, durante a fase da escola básica e da escola secundária, o número de disciplinas ou os cursos que escolhemos serem bastante restritivos e não podemos, por exemplo, ir para Ciências e ter uma disciplina de Artes. Queremos questionar e queremos discutir o porquê. Há também o exemplo da cultura que temos em Portugal sobre os cursos profissionais - os cursos profissionais são para um tipo de jovem que se calhar não se enquadra muito no ensino superior. Temos, claramente, de desmistificar este tema. E, depois, temos um grande tema que é o ensino superior, onde a esquerda faz a sua bandeira que a grande solução é a propina zero, quando não é. O grande problema que um jovem tem para ir para o ensino superior é os gastos com a habitação, com a alimentação, com o transporte e também temos de falar sobre este tema, sem medos, para conseguir apresentar políticas que, de facto, combatem as desigualdades. Não é a propina, não é um jovem parar de pagar 90 euros por mês que vai fazer com que ele, de repente, possa ir para Lisboa estudar, ou para o Porto, ou para Coimbra.

Depois tenho uma bandeira muito em particular, que é muito pessoal, que é a liberdade de ensino na educação. E, na verdade, foi a razão pela qual entrei na JP com 13 anos. Eu estudava numa escola de contrato de associação que era o Externato de Penafirme e, na altura, o primeiro-ministro era o José Sócrates e o Partido Socialista queria fechar todas as escolas que tinham contrato de associação, porque o modelo é: 50% paga do orçamento da escola, 50% paga o Estado, o outro 50% paga a Igreja, naquele caso. E foi quando percebi que a política existia. Acho que esse tema também deve ser levantado porque, hoje, continuamos com escolas com contrato de associação que funcionam e que têm um sistema de ensino funcional e mais barato para o Estado e continua a ser um tabu. Nunca falamos sobre uma solução a longo prazo porque não estamos prontos ao dia de hoje para uma implementação desse género. Que a longo prazo haja também uma liberdade para as famílias escolherem a escola que querem para os seus alunos, para as suas crianças, para os seus filhos. Portanto, do lado da educação, estas são as nossas grandes bandeiras.

A Juventude Popular é fundamental que seja a estrutura jovem que passe de palavras para a ação e que mostre que somos um exemplo de coerência, de pragmatismo e de resultados

A sua campanha tem o nome 'Do Dizer ao Fazer'. É apenas um mote ou uma crítica?

É, claramente, um mote. Este lema nasceu pela vontade que tenho, e as pessoas que estão comigo a trabalhar nesta candidatura, de ação. Este lema reflete mesmo o vamos agir, vamos para a rua. Acredito que a política hoje - e isto é uma coisa que a população nos critica e devemos saber ouvir - é palavras bonitas, promessas. E a Juventude Popular é fundamental que seja a estrutura jovem que passe destas palavras para a ação e que mostre que somos um exemplo de coerência, de pragmatismo e de resultados. Este mote significa ser proativo, resolver problemas, ter atitude. Os jovens da Juventude Popular têm uma força muito positiva e muito transformadora e a minha visão é mesmo conseguirmos levar isso para o terreno com proximidade, com coragem e com resultados muito concretos. Portanto, é uma visão que eu tenho para a JP, mas também para o país.

Quais é que entende como principais desafios? 

A nível de país ou de estrutura?

Falo de estrutura. 

Então, nestes últimos anos, como é do conhecimento de toda a gente, a JP deu a cara num período muito difícil da história do CDS-PP. Acho que uma coisa que nos definiu muito bem foi que não desistimos e não deixámos de acreditar e de estar presentes, mesmo com as várias adversidades que tínhamos. O que é que acho que pode ser aqui o desafio? Voltámos agora ao Parlamento, estamos também no Governo, isto dá-nos um espaço muito grande de ação e, o termos voltado, de alguma forma, pode fazer com que alguns militantes fiquem mais descontraídos e queiram descansar um bocadinho. Portanto, acho que este seria o primeiro desafio. Temos de entusiasmar mesmo toda a gente, mesmo aqueles que tiveram durante este período difícil e fazer com que tenham energia para estarem verdadeiramente ativos.

Depois, o segundo desafio que vejo é um desafio na Juventude Popular, mas também em todas as juventudes partidárias: existe uma forma de trabalho com a qual não me identifico. Aqui, se calhar, trago um bocadinho aquela que é a minha experiência de vida e a minha experiência profissional, em que acho que as juventudes partidárias, até para darem este sentido de segurança aos jovens, devem-se comportar de uma forma mais otimizada, mais eficiente, com objetivos específicos e que mostrem para fora que temos capacidade não só para gerir uma juventude partidária, mas também para ir gerir uma empresa, para ir gerir o governo, para conseguir ir para a Assembleia da República representar os portugueses. E isto é uma coisa que quero muito trazer. Na moção, a parte da estrutura interna, é muito focada nisso, na organização que quero trazer para a JP, na forma transparente como quero também trabalhar.

Temos muitos bons quadros, mas é preciso concretizar e é preciso que as pessoas nos ouçam

Entende a sua candidatura mais como uma renovação e nem tanto como uma candidatura de continuidade?

Sim, acho que sou uma continuidade daquilo que é a história da Juventude Popular, até porque estou presente nela já há alguns anos, mas, de facto, quero trazer um novo ar, quero trazer uma nova forma de trabalhar, especialmente. Temos muitos bons quadros, mas é preciso concretizar e é preciso que as pessoas nos ouçam. Quero também trazer uma nova forma de comunicar, que seja mais próxima, que seja mais fácil de se entender. Acredito que sou uma continuidade naquilo que é a história da Juventude Popular, mas claramente uma renovação no trabalho que quero começar a implementar na estrutura.

 Não acho que o CDS-PP seja de forma nenhuma um clube

Concorda que o "CDS se transformou num clubinho privado de portas fechadas à renovação", como disse há alguns meses Francisco Rodrigues dos Santos?

Isto faz-me lembrar o início da nossa conversa. Se as pessoas não se envolverem nos partidos, os partidos podem não se renovar e, portanto, acho que pode ter sido essa a crítica que foi apresentada. Às tantas parece que vemos sempre algumas pessoas já há muito tempo e parece que é um clube. Não acho que o CDS-PP seja de forma nenhuma um clube. Eu, enquanto Juventude Popular e vários militantes da JP, temos assento no Congresso do partido, podemos ir a púlpito e podemos falar - como muitos fizemos neste último em que o Nuno Melo voltou a ser eleito. Tenho alguma dificuldade em concordar com isso, tenho talvez alguma facilidade em concordar na perspetiva que as pessoas têm quando talvez olhem. Mas, na prática, o que precisamos é que as pessoas se juntem, porque se as pessoas não se juntarem, vão ter sempre essa percepção. Se não tivermos novas ideias, visões diferentes, se não desafiarmos também a forma como se pensa, talvez seja essa a percepção que passa. Mas eu também estou aqui para que isso não aconteça mais. 

 No CDS-PP temos pessoas mesmo, mesmo muito boas, com um peso político muito grande (...) mas também acredito muito que essas pessoas precisam de pessoas novas, que desafiem

Diz-me que não vê o CDS-PP como um clube, mas, na sua representatividade, não concorda que tem mantido sempre as mesmas caras?

Sim. Espero tomar posse no dia 23 de fevereiro e serei uma voz muito ativa sobre aquilo que acho que o partido pode desafiar mais e, claramente, é por essa via. No CDS-PP temos pessoas mesmo, mesmo muito boas, com um peso político muito grande e com uma experiência governativa de Assembleia da República, por aí em diante, que têm peso, mas também acredito muito que essas pessoas - e eu que gosto sempre de olhar para o passado para tomar decisões no presente e para o futuro - precisam de pessoas novas, que desafiem. Vou ser muito essa voz de desafiar. Acho que no último Congresso poderíamos ter desafiado muito mais pessoas que estiveram, que são agora dirigentes do partido. Isso aí não tenho dúvida, mas tenho muita dificuldade mesmo em concordar que o partido esteja fechado. Isso não está, aliás, ele está muito de portas abertas e a Juventude Popular também para receber todos aqueles que quiserem partilhar da sua opinião.

É militante da JP há 13 anos, tem um gosto claro por política e noto, obviamente, que há também alguma ambição.  Onde gostaria de chegar? 

Neste momento, quero ser presidente da Juventude Popular. Este é o meu grande objetivo e  tenho cerca de dois meses, mais ou menos, para concretizar isto. O objetivo seguinte é, na verdade, conseguir entregar a melhor qualidade de serviço público que conseguir. Estou a candidatar-me porque acredito que a Juventude Popular precisa mesmo de ser uma voz relevante e mobilizadora para aquela que é a nossa geração e temos desafios enquanto jovens, tanto no ensino como no emprego, na habitação, por aí em diante, e eu quero ocupar esse espaço. Este é o meu objetivo. Gosto de trabalhar com estratégias muito claras, a equipa que também está comigo e que me rodeia tem este objetivo muito específico. Se olharmos num futuro longínquo, o que queremos é ter uma relevância grande no partido para, lá está, conseguimos desafiá-lo, não só em termos de dirigentes, mas também em termos de políticas. E estas eleições autárquicas espero que sejam o pontapé de saída no meu mandato em que faremos parte e ocuparemos lugar naquela que é a estratégia autárquica. Agora, os meus olhos estão postos em 22 de fevereiro.

O perfil de jovem português me vejo a mim e à Juventude Popular representar:  representar: ambicioso, determinado, solidário, responsável, patriota e democrata

Para terminar, pergunto-lhe: como define um jovem da Juventude Popular? 

O jovem que eu quero representar é um jovem que se resume em três áreas. A primeira área, um jovem que é determinado e que é ambicioso, que quer trabalhar, que quer fazer parte da sociedade, que quer acrescentar e que não quer ficar à margem. Esta seria a primeira área. A segunda área é um jovem que é patriota, que quer ficar em Portugal ou que quer voltar para Portugal, se por alguma razão saiu, mas que é responsável, que sabe que as políticas que apresentamos têm de ter dois dedos de testa, porque o dinheiro não cai do céu. E a terceira área, um jovem que é solidário e democrata, que sabe que há pessoas que precisam de ajuda, há pessoas que não têm as mesmas ferramentas que todos os outros e gosta de utilizar a sua liberdade para ajudar e para ter este impacto naquela que é a sociedade. Este seria o perfil de jovem português que eu vejo-me a mim e à Juventude Popular representar. Ambicioso, determinado, solidário, responsável, patriota e democrata.

Leia Também: CDS em "concordância" com mensagem de Ano Novo do Presidente da República

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