Aumento de estrangeiros é desafio para serviços públicos

O diretor científico do Observatório das Migrações, Pedro Góis, alerta que o aumento dos estrangeiros em Portugal anunciado na terça-feira representa um desafio para os serviços públicos e uma oportunidade de investir no interior.

Notícia

© Jorge Mantilla/NurPhoto via Getty Images

Lusa
09/04/2025 16:33 ‧ há 2 semanas por Lusa

País

Observatório das Migrações

Na terça-feira, foi publicado o relatório intercalar da recuperação de processos pendentes na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), que estima em 1,6 milhões o número de estrangeiros residentes em Portugal em 2024, muito acima dos anteriores dados estatísticos.

 

Este aumento do número de estrangeiros, que correspondem agora a 16% da população nacional, constitui um desafio, "não para o Governo nem para o Estado, mas para o país", afirmou à Lusa Pedro Góis.

O relatório referente a 2023 apontava para pouco mais de um milhão de estrangeiros em Portugal, mas os dados agora divulgados fazem correções estatísticas aos anos anteriores, tendo em conta a regularização dos processo de manifestação de interesse, um recurso jurídico, entretanto extinto, que permitia a normalização de quem chegasse com visto de turismo.

"Agora que conhecemos melhor uma realidade que já preexistia", é necessário "reconstruir as políticas nacionais de acolhimento de imigrantes, de integração e até das estruturas que com eles lidam, porque estamos a falar de um número que ultrapassa e muito aquilo que estava planificado", afirmou o investigador da Universidade de Coimbra.

Para Pedro Góis, "é necessário repensar as estruturas e produzir políticas que se adequem à realidade real e não à realidade que estava imaginada".

"Não podemos integrar comunidades que desconhecemos" e quem está hoje a chegar a Portugal é muito diferente do que cá existia.

No futuro, o "país necessitará de reconstruir os serviços públicos para lidar com uma população que agora é 16% estrangeira", mas que, em algumas zonas do país, será ainda superior, com valores na ordem dos 30%.

"Os serviços públicos têm de se adaptar", apostando na digitalização dos serviços, pelo que "há aqui uma oportunidade que é de reformarmos o Estado no acesso dos cidadãos, aproveitando a chegada de tanta gente", explicou Pedro Góis.

No futuro, será preciso "mais acesso à escola, mais habitação, mais Serviço Nacional de Saúde e isto tudo tem que ser preparado com o poder local, tendo em conta a população que aí existe", alertou o investigador.

"Se há algumas décadas fechámos escolas, se há algumas décadas fechámos serviços públicos um pouco por todo o interior despovoado do país, temos agora de repensar se não necessitaremos de reabrir esses serviços e de readequar a oferta àquilo que são as necessidades da população à oferta".

Este trabalho não pode ser feito "de um dia para o outro", mas corresponde a um processo que a sociedade terá de "encarar de frente, correndo o risco de este rejuvenescimento demográfico (...) fugir para outros países que lhes ofereçam melhores condições".

A curto prazo, o país terá de promover processos de reagrupamento familiar, "um direito humano essencial", para acelerar a integração dos estrangeiros, mas Pedro Góis alerta para a necessidade de condições prévias.

"O Estado português tem de assegurar que as pessoas que cá estão têm condições de cumprir também o regulamento de reagrupamento familiar, designadamente em termos de habitação e em termos de rendimentos auferidos", exigências da legislação nacional, avisou.

Leia Também: Cidadã brasileira move ação contra Estado e AIMA e pede indemnização por dano

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas