Luzes de Amarante apagam-se para procissão centenária

Na Sexta-Feira Santa à noite, as luzes de Amarante apagam-se para, em silêncio, a cidade ver passar a Procissão do Enterro do Senhor, momento da quadra pascal que se realiza naquela cidade do distrito do Porto há centenas de anos.

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© Zed Jameson/Anadolu Agency via Getty Images

Lusa
17/04/2025 20:40 ‧ há 2 dias por Lusa

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Amarante

"O que nós sabemos é que esta é uma procissão imemorial. Não conseguimos datar no tempo. Sabemos que no século XVIII já havia, mas quando se diz que há, já havia antes", disse à Lusa o pároco da cidade, José Manuel Ferreira.

 

"Esta é uma tradição que se perpetuou e ainda hoje celebramos", acrescentou.

As invasões francesas (1809), que destruíram os arquivos da Santa Casa da Misericórdia de Amarante, fundada em 1529, entidade organizadora da procissão, apagaram os registos relativos à procissão anteriores àquele acontecimento histórico que marcou a cidade, lamentam hoje os responsáveis da instituição.

Ano após ano, às escuras avança a imagem de Cristo morto, parcialmente iluminado por velas, segurado em ombros pelos fiéis, sob escolta dos bombeiros da terra.

"O elemento unificador é o esquife, o lugar onde Cristo morto vai aos ombros", acentuou o pároco, apontando para a imagem situada junto ao altar-mor da igreja.

Nas ruas estreitas e acidentadas da urbe, a procissão avança, lentamente, ao ritmo das músicas fúnebres executadas pela banda da cidade.

"Esta procissão é feita no silêncio da noite, na penumbra, que é interrompido pela matraca, um instrumento de madeira com metal que, ao ser agitado, produz um som horripilante", descreveu o pároco.

Saindo da Igreja da Misericórdia, a procissão percorre mais três igrejas do centro histórico: São Pedro, São Domingos e São Gonçalo.

"Nessas igrejas vamos encontrar acontecimentos da morte de Jesus", referiu.

A travessia da Ponte de São Gonçalo, às escuras, é um momento cénico, com as pessoas concentradas no estreito tabuleiro.

Os fiéis, calçadas acima, vielas abaixo, seguram velas e acompanham o cortejo religioso até à Igreja da Misericórdia, onde assistem ao sermão, que assinala o fim da procissão.

A imagem de Cristo morto, muito venerada na cidade, regressa então ao seu altar, de onde só sai naquela noite.

Elementos que sobressaem na procissão são seis bandeiras com 12 telas que recordam a Paixão do Senhor levadas por irmãos da Misericórdia, trajados a rigor com os seus tabardos.

São réplicas das originais, seculares, que a Misericórdia guarda no seu museu, muito bem conservadas, disse à Lusa o vice-provedor Manuel Dias Teixeira.

O responsável refere que a organização da procissão "é um dever dos irmãos", segundo os estatutos.

No passado mais remoto, contou, o Sermão da Paixão de Cristo era feito por um pregador de "nomeada", a quem a instituição pagava uma verba.

Atualmente, é o pároco da cidade que assume essa tarefa solene.

O padre José Manuel Ferreira destaca o empenho da Misericórdia em dignificar uma procissão, que diz ser "uma manifestação pública de fé", nomeadamente o facto de investir na proteção das telas com as imagens da Paixão do Senhor que podem ser vistas no museu.

No domingo e na segunda-feira de Páscoa, as quatro paróquias da cidade recebem o Compasso Pascal, outro momento distintivo da urbe amarantina, porque as cruzes que visitam cada habitação são acompanhadas pela banda de música da cidade, em clima de festa, um momento que as famílias por vezes aplaudem, à sua passagem.

Leia Também: Mimo Festival em Amarante de 18 a 20 de julho com artistas de 13 países

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