Famílias de Paredes que vivem em barracas há 30 anos vão para casas novas

Duas dezenas de famílias de uma comunidade de Paredes que vivem em barracas, às portas da cidade, estão a transferir os bens para casas novas que habitarão, em breve, resolvendo um problema de mais de três décadas.

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Lusa
25/03/2025 17:47 ‧ ontem por Lusa

País

Paredes

Por estes dias, enquanto se aguarda a ligação do gás e da eletricidade aos novos apartamentos construídos pela câmara num terreno contíguo ao acampamento, num investimento de quatro milhões de euros, a azáfama é grande com o processo de mudanças para as casas novas.

 

Junto ao prédio, ainda com cheiro a novo, situado junto à variante, já se veem as carrinhas velhas usadas pelos membros da comunidade para transportar os produtos que vendem nas feiras. Agora, a tarefa de todos é mudar os seus parcos haveres para as casas novas.

Não faltam sorrisos entre todos e até as crianças mais novas, nos colos dos pais, percebem que algo de bom está para acontecer.

Dentro de duas semanas, segundo a autarquia local, já deverão estar todos alojados.

"Era uma coisa que estávamos à espera há muito", contou Alice Santos, de 37 anos, enquanto dizia gostar de tudo na casa nova, um apartamento T3 para alojar um casal e seis filhos.

"Isto tem outras condições. Não tem nada a ver", contou à Lusa, comparando com as barracas onde cresceu, desde criança.

Noutra casa, Teresa Valente, de 29 anos, lembrou as "condições horríveis" das barracas, onde até chove nos quartos.

"Isto é um sonho tornado realidade. Estamos todos felizes", exclamou, sorridente, voltando-se para o marido.

À Lusa, disse estar a frequentar uma formação que dá equivalência ao nono ano, após a qual espera arranjar emprego como cuidadora de crianças ou nas limpezas.

De algumas das janelas e varandas dos apartamentos é possível observar, num contraste flagrante, o acampamento, com dezenas de barracas amontoadas, onde têm vivido mais de 80 pessoas.

Nesse sítio, de acessos cheios de buracos, enlameados, com "casas" cobertas com plásticos e envoltas em chapas, encontramos Manuel Sertório, de 58 anos, a pessoa há mais tempo a viver no acampamento.

"Já quase nem consigo dizer há quantos anos", referiu, contando que por ali foi criando 13 filhos, 36 netos e dois bisnetos.

"É outra esperança", comentou, antecipando a vivência no novo apartamento, para o qual já está a transferir algum mobiliário.

A vizinha, Piedade Anjos, de 50 anos, no interior de uma barraca com pouca luz, espera ansiosa a mudança, porque o marido, sentado num banco tosco, está muito doente.

"Isto não tem condições principalmente para ele, as chapas abanam todas com o vento", referiu, apontando para os revestimentos.

"O que a gente quer é sair daqui", reforçou.

O presidente da câmara diz que a resolução das condições precárias em que vivia a comunidade era um desígnio, desde que foi eleito pela primeira vez em 2017.

Alexandre Almeida lamenta haver pessoas no concelho com estigma em relação à comunidade e que deseja que o processo corra mal.

"Nós não estamos a dar casas, estamos a proporcionar acesso à habitação a munícipes que vão pagar uma renda entre os 50 e os 250 euros, consoante os seus rendimentos", precisou.

À Lusa o autarca disse acreditar que os membros da comunidade vão provar que, tendo oportunidades como qualquer outro paredense, "vão cumprir as regras da habitação social, vão pagar as rendas, a luz e a água, como qualquer um".

"Estou convicto que a integração vai ser plena e que haverá, em termos profissionais e de vida em sociedade [para esta comunidade], um antes e um depois de 2025", anotou.

Logo que concluída a transferência das famílias para as casas novas, começará o processo de demolição das barracas, libertando um terreno onde a câmara vai construir um edifício para rendas acessíveis destinado à classe média.

Leia Também: Ministro manifesta "preocupação com barracas" na Penajoia em Almada

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