"Temos que admitir que não é função de nenhum secretário de Estado, nenhum ministro, andar a telefonar a um hospital -- ou pedir para telefonar -- para marcar uma consulta. Não é a nossa função. Não o devemos fazer", disse, após questionada sobre a referência ao gabinete do ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales no processo clínico das crianças.
Falando na qualidade de presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) à data em que o caso foi noticiado, Ana Paula Martins considerou, igualmente, que os governantes têm "de encontrar formas de garantir que as pessoas (...) sejam tratadas em tempo útil".
"Estamos a falar de situações muito graves. Eu não posso deixar de dizer que empatizo (...), perante uma situação grave, com as pessoas tentarem encontrar uma solução. (...) Na saúde, as coisas são muito difíceis para quem precisa, independentemente de quem seja", realçou, indicando que se tornam mais complicadas "para aqueles que têm menos de capacidade de chegar [aos cuidados de saúde], porque não têm médico de família".
Ana Paula Martins referiu ainda que desde que exerce funções no Governo -- abril de 2024 --"ninguém, até hoje, [lhe] fez qualquer tipo de pedido desta natureza".
"A mim, pessoalmente, o que mais me preocupa neste momento (...) pelas responsabilidades que tenho é garantir (...) que efetivamente as pessoas consigam chegar [aos cuidados de saúde] pelas vias próprias", sublinhou.
Sobre a posição do antigo diretor clínico do Santa Maria, que considerou irrelevante a origem do pedido de consulta para as gémeas, Ana Paula Martins deixou críticas a Luís Pinheiro.
"Eu tenho pudor em fazer avaliações sobre aquilo que o ex-diretor clínico escreve, faz e critica, porque (...) o ex-diretor clínico é conhecido -- e é público -- pela falta de cortesia e urbanidade que tem tido para com a minha pessoa, ainda eu era presidente do Conselho de Administração. Portanto, eu dele mais não posso esperar do que eu diria, eventualmente, afirmações que só a ele lhe competem explicar e sobre a qual eu não vou responder da mesma maneira, porque sinceramente considero que tenho um perfil muito diferente", acusou.
Na parte final da sua audição, a atual ministra da Saúde disse que se desligou do caso ainda antes de ter deixado a administração do Hospital de Santa Maria e afirmou desconhecer "a quem interessava" que o caso viesse a público.
Nesta audição de cerca de três horas, Ana Paula Martins salientou igualmente não ter tido "nenhuma evidencia de espécie nenhuma de nenhum contacto da Presidência da República que tenha sido feito" para o hospital que dirigia, sobre este ou qualquer outro caso.
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