A comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso das gémeas luso-brasileiras tratadas com o medicamento Zolgensma, no Hospital de Santa Maria, em 2020, arrancou as audições, esta terça-feira, com novo nome, que pretende passar o ónus da responsabilidade para os atores políticos envolvidos no processo.
O primeiro a ser ouvido foi Daniel Ferro, ex-presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que afirmou ter avisado o Governo na altura de que o tratamento das gémeas luso-brasileiras causaria "grandes transtornos na tesouraria do hospital", que "não estava preparado para dar execução a uma situação com esta dimensão".
"O que tinha ocorrido em agosto tinha causado grandes transtornos na tesouraria do hospital, porque passados 60 dias tivemos de pagar quatro milhões de euros que, no fundo, não tínhamos previsto nas nossas necessidades e isso foi um estrangulamento da gestão financeira durante o exercício de 2019, perspectivando-se ali não um, nem dois, mas mais tratamentos do que isto, então isto seria o caos de tesouraria, já para não dizer o caos orçamental", sublinhou Daniel Ferro.
Já na segunda audição da tarde, o presidente do Conselho de Administração da Lusíadas, Vasco Antunes Pereira, garantiu terem sido "cumpridos todos os procedimentos" na marcação da consulta das gémeas, que foi agendada pela própria mãe das crianças.
"Depois de aferirmos todo o processo, concluímos que todo o envolvimento dos profissionais do grupo foi de acordo com os procedimentos que estão instituídos. Tivemos uma reunião no verão de 2024, quando apareceram as informações sobre o envolvimento do grupo Lusíadas num caso que considerava ser totalmente alheio ao grupo", respondeu Vasco Antunes Pereira.
Recorde-se que este tratamento - que tem como objetivo controlar a propagação da atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa - teve um custo de dois milhões de euros por pessoa.
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