O agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) que matou Odair Moniz é ouvido esta quarta-feira pelo Ministério Público (MP).
Em Lisboa, o advogado Ricardo Serrano Vieira não adiantou grandes explicações sobre o caso, argumentando que este se encontra em segredo de Justiça. Confrontando pelos jornalistas sobre se o agente prestou declarações perante o MP disse: "Não posso responder a essa pergunta".
No entanto, questionado sobre a existência de uma arma branca no local dos disparos, com que alegadamente Odair Moniz terá ameaçado os agentes, afirmou: "Posso apenas confirmar que está [estava] presente uma arma branca no local [do crime]".
Acerca da celeridade nos processos, na sua generalidade, o advogado atirou que "o nosso tempo da justiça não era o mesmo do que o da comunicação social". "[Mas] este não é caso de demorar dez anos. Há processos que demoram um bocadinho mais do que dez anos. Penso que não vai ser o caso", afirmou.
Ricardo Serrano Vieira confirmou ainda aos jornalistas que o agente da PSP em causa continua de baixa médica.
Recorde-se que na altura da morte, em outubro, a PSP explicou que, após a abordagem policial dos agentes na Cova da Moura, Amadora, Odair Moniz "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
Dois dias depois da morte de Odair, que aconteceu a 21 de outubro, já no hospital, os dois agentes envolvidos na situação terão admitido à Polícia Judiciária que não foram ameaçados pela vítima com uma arma branca.
Após a morte de Odair Moniz, de 43 anos, seguiram-se tumultos por várias zonas do distrito de Lisboa, que começaram no Bairro do Zambujal, onde a vítima morava.
Entre a destruição, trocas de tiros, carros ardidos, há pelo menos uma vítima com mais gravidade a registar. Em causa está o motorista da Carris Metropolitana que conduzia o autocarro que ardeu no Zambujal, e que ficou com queimaduras.
Já nestes últimos dias, o motorista disse, em entrevista à TVI, que "estava no dia errado à hora errada" e garante que pediu aos incendiários para sair de veículo, mas que estes "não deixaram".
O caso tornou-se polémico nos últimos meses, com partidos políticos a pedirem clarificações sobre o caso, assim como as circunstâncias nas quais este aconteceu.
Logo a seguir à morte, que colocou o tema da violência policial em cima da mesa, milhares de pessoas saíram à rua para "pedir justiça" pela morte de Odair Moniz. Neste protesto, que aconteceu no centro de Lisboa, esteve também Cláudia Simões, cidadã que acusou um agente da PSP de a agredir, numa paragem de autocarro na Amadora, em 2020. No palco improvisado, falou também para dizer que passou "pelo mesmo sistema" de violência policial. O agente em causa foi absolvido das acusações de agressão à vítima, que era também arguida no processo, mas condenado por agredir duas outras pessoas na esquadra.
Por outro lado, Cláudia Simões foi condenada a oito meses de pena suspensa por um crime de ofenda à integridade física e qualificada, após morder o agente. Ambos vão recorrer.
"Somos castigados e ainda saímos do tribunal como criminosos. Espero que este processo não passe em branco como o meu", afirmou Simões na altura dos protestos pela justiça no caso de Odair, salientando que a polícia trata as pessoas de alguns bairros "como lixo".
[Notícia atualizada às 13h08]
Leia Também: Odair. Já são quatro os detidos em operação da PSP após tumultos