Acordo de cessar-fogo leva 42 dias de paz a Gaza após 15 meses de guerra

O acordo hoje alcançado entre Israel e o Hamas prevê um cessar-fogo completo durante 42 dias a partir de domingo, após 15 meses de guerra devastadora, e a troca de 33 reféns israelitas por centenas de prisioneiros palestinianos.

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© REUTERS/Hatem Khaled

Lusa
15/01/2025 23:59 ‧ há 2 horas por Lusa

Mundo

Gaza

O acordo esteve ameaçado até ao último instante, segundo relatos do interior da sala de negociações, indicando que Israel acusava o grupo islamita palestiniano de rejeitar as suas propostas em relação ao chamado Corredor de Filadélfia, entre o Egito e a Faixa de Gaza, levando o Qatar, país anfitrião e mediador das conversações, a adiar o anúncio de "fumo branco".

 

No entanto, ao fim do dia, o acordo foi anunciado, ainda que o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tenha ressalvado que permaneciam cláusulas por fechar.

"Perante a posição firme do primeiro-ministro Netanyahu, o Hamas recuou na sua exigência de última hora para alterar a distribuição de forças no Corredor de Filadélfia", segundo um comunicado do gabinete de Netayahu, que esperava, em todo o caso, dar a aceitação ao entendimento ainda hoje à noite.

Tanto o Governo de coligação israelita como o gabinete de segurança - que reúne os principais ministros e representantes do setor da segurança - vão reunir-se na quinta-feira de manhã para dar luz verde ao cessar-fogo.

Apesar de vozes dissonantes, como do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, representante da extrema-direita no executivo, que descreveu o acordo como "mau e perigoso" para a segurança do país, Netanyahu deverá ter maioria suficiente para a aprovação.

Um alto dirigente do Hamas já tinha, nesta fase, confirmado hoje que o grupo islamita palestiniano dera aval ao acordo de cessar-fogo e o futuro Presidente norte-americano, Donald Trump, apressava-se a ser o primeiro anunciar e comentar o pacto.

"Temos um acordo sobre os reféns", saudou Trump, que toma posse no próximo dia 20, e anteriormente tinha ameaçado com "o inferno" se o Hamas não libertasse as pessoas que mantém cativas desde que atacou solo israelita, em 07 de outubro de 2023, provocando o atual conflito.

Em comunicado, o Hamas defendeu que o acordo de cessar-fogo foi o resultado da "lendária tenacidade" do povo palestiniano e da "valente resistência" do grupo armado, e vai abrir "o caminho para a concretização de as aspirações de libertação" do território.

Segundo o primeiro-ministro do Qatar, a primeira fase da trégua começa às 12:15 locais (menos duas horas em Lisboa) de domingo e tem uma duração prevista de 42 dias.

Nessa altura, 33 israelitas de cem reféns, com prioridade a mulheres civis, crianças, idosos, doentes e feridos, são libertados em troca de cerca de um número não especificado mas na escala de centenas de prisioneiros palestinianos em posse de Israel.

Cabe ao Qatar, Egito, Estados Unidos, países que passaram o último ano a tentar mediar sem sucesso as partes, controlar a aplicação do acordo através de um mecanismo de vigilância estabelecido no Cairo.

O entendimento também prevê o regresso às suas casas (aos que ainda as têm) das populações deslocadas no enclave, incluindo na cidade de Gaza, e a entrada da ajuda humanitária no território devastado por 15 meses de guerra e que carece urgentemente de alimentos, água, medicamentos e reabilitação dos hospitais.

Ainda não é claro quando e quantos palestinianos deslocados poderão regressar às suas casas e se o acordo levará ao fim completo da guerra e à retirada total das tropas israelitas, as principais exigências do Hamas para a libertação dos restantes prisioneiros.

Os pormenores das fases dois e três da trégua serão negociados durante a vigência de 42 dias da primeira, segundo os mediadores, visando o fim completo das hostilidades e a libertação dos restantes reféns.

Milhares de palestinianos celebraram na Faixa de Gaza hoje à noite as primeiras notícias de um cessar-fogo, mas as autoridades locais, controladas pelo Hamas, recomendaram cautela e que ninguém se mexesse até ao anúncio oficial.

As famílias dos reféns acolheram com "enorme alegria e alívio" a revelação do pacto, deixando porém sinais de inquietação.

"É um importante passo em frente que nos aproxima do regresso de todos os reféns: os vivos, para reabilitação e os mortos, para um enterro adequado. Mas acompanha-nos uma profunda ansiedade e preocupação pela possibilidade de o acordo não ser cumprido na totalidade, deixando alguns reféns para trás", afirmou o Fórum das Famílias em comunicado.

Em todo o mundo, os líderes internacionais saudaram o entendimento e apelaram às partes para que o cumpram.

"Isto traz esperança a toda a região, onde as pessoas suportaram um enorme sofrimento durante demasiado tempo", declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, desejando que "ambas as partes em conflito cumpram este acordo na totalidade, como um trampolim para uma estabilidade duradoura na região e uma resolução diplomática do conflito".

No mesmo sentido, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, instou Israel e Hamas a garantirem que o cessar-fogo seja totalmente implementado.

Numa breve declaração à imprensa, em Nova Iorque, Guterres, largamente visado por Israel durante o período de guerra alegando parcialidade, indicou que a prioridade a partir de agora deve ser "aliviar o tremendo sofrimento causado por este conflito".

Apesar de Donald Trump se ter antecipado às entidades oficiais envolvidas nas negociações, o Presidente cessante norte-americano, Joe Biden, afirmou que a sua administração e a equipa do seu sucessor "dialogaram como uma equipa" durante as conversações, justificando ter consciência de que o acordo terá de ser implementado já na vigência do próximo mandato na Casa Branca.

Muitas questões de longo prazo sobre a Faixa de Gaza no pós-guerra permanecem, incluindo quem governará o território ou supervisionará a gigantesca tarefa de reconstrução após um conflito brutal, que custou a vida a cerca de 1.200 pessoas no ataque do Hamas em 07 de outubro de 2023 em Israel e de mais de 46 mil no enclave palestiniano, de acordo com o grupo palestiniano, e que desestabilizou o Médio Oriente, gerando protestos em todo o mundo.

Leia Também: "Notícia há muito esperada". As reações ao acordo entre Israel e Hamas

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