"O acordo que será apresentado ao Governo é mau e perigoso para a segurança nacional do Estado de Israel", considerou o ministro, alertando que, a par da "grande alegria e excitação" pelo regresso de reféns em posse do Hamas, o entendimento "sacrifica muitas conquistas da guerra em que os heróis desta nação deram as suas vidas e vai custar muito sangue" ao país.
O acordo foi anunciado hoje pelo Qatar, país mediador das negociações, mas tanto o Governo de coligação israelita como o gabinete de segurança --- que reúne os principais ministros e representantes do setor da segurança --- vão reunir-se na quinta-feira de manhã para dar luz verde ao documento.
Embora Smotrich, líder do partido supremacista judeu Sionismo Religioso, e o ministro da Segurança Nacional, o político radical Itamar Ben Gvir, tenham ameaçado não apoiar o acordo, e até mesmo abandonar o executivo, o chefe do Governo, Benjamin Netanyahu, tem garantida a maioria na votação de quinta-feira.
"Opomo-nos firmemente a isso. Não ficaremos em silêncio. A voz do sangue dos nossos irmãos clama por nós. Uma condição clara para a nossa permanência no Governo é a certeza absoluta de um regresso à guerra em grande força, em todo seu alcance e uma nova configuração até à vitória completa", declarou Smotrich.
A extrema-direita israelita opõe-se a qualquer negociação com o Hamas, que vê como uma cedência, mesmo que isso custe a vida de reféns em posse do grupo palestiniano há mais de um ano, e até ambiciona recolonizar a Faixa de Gaza.
"Nos últimos dois dias, o primeiro-ministro e eu estivemos envolvidos em discussões acesas sobre o assunto. Ele sabe quais são as exigências detalhadas do sionismo religioso e a bola está nas suas mãos", comentou.
Da oposição israelita, as mensagens foram mais otimistas e o seu líder, o centrista Yair Lapid, pediu que o acordo não fique pela primeira fase de implementação --- o prazo inicialmente acordado de seis semanas --- e avance até à libertação de todos os reféns.
"Não podemos parar agora e este acordo não pode terminar com a sua primeira fase. Prometo uma rede de segurança ao Governo até ao último momento, até que o último refém esteja em casa", disse Lapid sobre o seu compromisso de apoiar o executivo de Netanyahu no parlamento se estiver ameaçado pelos parceiros de extrema-direita devido ao entendimento com o Hamas.
O dirigente de oposição Benny Gantz, antigo ministro da Defesa de centro-direita, sustentou por seu lado que garantir a libertação dos reféns era "um imperativo moral e estratégico".
No mesmo sentido, o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant, demitido por Netanyahu em novembro por insistir na necessidade de um acordo, saudou o regresso de 33 reféns e agradeceu aos líderes norte-americanos Joe Biden e Donald Trump pelo apoio.
O primeiro-ministro do Qatar confirmou hoje um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, após 15 meses de conflito, indicando que a trégua deverá entrar em vigor no domingo.
O anúncio de Mohammed bin Abdulrahman Al Thani ocorreu em Doha, capital do Qatar, país mediador e que tem acolhido as negociações minuciosas indiretas que decorrem há várias semanas.
O líder do Qatar referiu que o acordo alcançado abre o caminho para dezenas de reféns israelitas regressarem a casa, confirmando a libertação de 33 israelitas durante a primeira fase da trégua na Faixa de Gaza, cenário de uma guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas desde 07 de outubro de 2023.
O governante especificou que a primeira fase da trégua tem uma duração prevista de 42 dias.
"O Hamas vai libertar 33 prisioneiros israelitas, incluindo mulheres civis (...), crianças, idosos, civis doentes e feridos, em troca de vários prisioneiros detidos nas prisões israelitas. Os pormenores das fases dois e três da trégua serão finalizados quando a primeira fase for concretizada", acrescentou numa conferência de imprensa.
Nas mesmas declarações, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani anunciou que o Qatar, o Egito e os Estados Unidos -- países que passaram o último ano a tentar mediar o fim da guerra na Faixa de Gaza e a libertação dos reféns - vão controlar a aplicação do acordo de tréguas através de um mecanismo de vigilância estabelecido no Cairo.
O conflito em curso em Gaza foi desencadeado por um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 mortos e levando 250 reféns.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou quase 47 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
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