"Estamos chocados com os relatos de homicídios étnicos de civis no estado de Al-Jazira", afirmou o gabinete do Alto Comissário na rede social X, citado pela agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP).
"Exortamos as autoridades a investigarem plenamente estes relatos, a fim de levar os responsáveis à justiça e a agirem com urgência para garantir a proteção efetiva dos civis", acrescenta-se na mensagem.
A mensagem da ONU surge no mesmo dia em que a União Europeia apelou a que as atrocidades cometidas no fim de semana pelo exército sudanês em Wad Madani, a sul de Cartum, sejam investigadas e documentadas para "pôr fim à cultura da impunidade".
Um porta-voz do Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) manifestou, numa publicação nas redes sociais, a consternação da UE perante "relatos horrendos" de represálias contra os Kanabi (uma comunidade agrícola) em aldeias como Kombo Tayba, em Wad Madani, capital do Estado de Al-Jazira, controlado pelas Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).
De acordo com várias fontes, soldados sudaneses e de outros países aliados executaram, decapitaram, torturaram e prenderam arbitrariamente dezenas de pessoas durante as operações de limpeza étnica que se seguiram à tomada da cidade estratégica no passado fim de semana.
"Todas as atrocidades devem ser investigadas de forma independente, os seus autores levados à justiça e deve ser posto termo à cultura de impunidade", afirmou o porta-voz do SEAE.
A organização sudanesa Emergency Lawyers denunciou, na terça-feira, as "cenas chocantes e horríveis" e afirmou que estas "refletem um nível de sadismo e criminalidade sem precedentes", qualificando-as de "crimes de guerra e crimes contra a humanidade".
O grupo de defesa dos direitos da comunidade Kanabi acusou um grupo liderado por Abu Aqla Kaykal, que desempenhou um papel fundamental na ofensiva do exército em Al-Jazira, de cometer um "massacre".
O enviado dos Estados Unidos da América para o Sudão, Tom Perriello, descreveu os ataques como "terríveis".
O exército "e as milícias a ele ligadas devem atuar imediatamente para investigar e responsabilizar quem cometeu tais horrores", escreveu no X.
Todavia, as forças armadas sudanesas (SAF, na sigla em inglês) rejeitaram as acusações, prometeram punir os responsáveis e reafirmaram o seu "respeito pelo direito internacional".
Por seu turno, as RSF afirmaram tratar-se de "crimes de limpeza étnica" e declararam que centenas de pessoas morreram no decurso "destas campanhas brutais".
Também segunda-feira pelo menos 120 pessoas foram mortas num bombardeamento feito por caças das SAF numa área controlada pelas RSF no município de Ombada, a oeste de Cartum.
O objetivo imediato do exército é reconquistar Cartum aos paramilitares, pelo que lançou uma ofensiva para cercar a cidade a partir da vizinha Cartum Norte e de Omdurman, situada entre Ombada e a capital.
Grande parte de Omdurman está sob controlo do exército, enquanto os paramilitares mantêm uma grande presença tanto em Cartum como em Cartum Norte.
Tanto o exército como os paramilitares foram acusados de cometer crimes de guerra e crimes contra a humanidade no decurso da guerra no Sudão, onde dezenas de milhares de pessoas foram mortas e mais de 14 milhões de outras foram obrigadas a fugir das suas casas dentro e fora do país devido à violência.
Leia Também: Sudão. Banco Mundial, OMS e Unicef assinam acordo de 80 milhões