Milhares de pessoas subscreveram uma petição que apela à atribuição do Nobel da Paz a Gisèle Pelicot, pela ação da mulher francesa que, durante uma década, foi drogada e violada pelo ex-marido e por desconhecidos recrutados na Internet.
“É difícil pensar em qualquer forma de violência que represente um maior desafio à paz do que a violência sexual. É uma violência de género e endémica. Utilizada como arma de guerra, também desvirtua o que se entende por paz, todos os minutos de todos os dias, em todas as partes do mundo. A maioria das mulheres é vítima de violência sexual durante a sua vida”, começou por enquadrar a responsável pela petição, lançada na página Change.org.
Catherine Mayer apontou ainda que, de acordo com dados do Centro de Controlo de Doenças dos Estados Unidos, “uma em cada quatro mulheres e um em cada 26 homens serão vítimas de violação ou de tentativa de violação”.
“A maioria das vítimas e sobreviventes conhece os seus agressores. Esta verdade ficou bem patente no julgamento e na condenação do marido de Gisèle Pelicot e dos outros 50 homens que a violaram”, complementou.
A escritora, ativista e cofundadora do partido britânico Women's Equality Party salientou ainda que “Gisèle Pelicot cortou o nevoeiro da desinformação ao renunciar ao anonimato para assistir ao julgamento dos seus agressores e prestar testemunho”.
“Isto não pode continuar e, no entanto, continua, as vítimas são culpadas em vez de apoiadas, os sistemas judiciais estão sobrecarregados ou são inadequados, faltam serviços de apoio e os meios de comunicação social perpetuam frequentemente mitos e estereótipos prejudiciais em vez de os contestarem. Em lado nenhum os políticos tratam de forma consistente a violência sexual como uma prioridade máxima, embora alguns falem da boca para fora”, disse.
A petição, que foi lançada a 20 de dezembro, alcançou as 119.780 assinaturas nos últimos dias. Até à data de publicação desta notícia, 3.831 pessoas tinham assinado.
Recorde-se que 51 homens com idades entre os 27 e os 74 anos foram considerados culpados e condenados por terem violado Gisèle Pelicot, cuja coragem foi elogiada e considerada um marco por rejeitar que o processo decorresse à porta fechada.
O ex-marido de Gisèle, Dominique Pelicot, foi condenado em 19 de dezembro a 20 anos de prisão pelo Tribunal de Avignon, no sul de França, por violação agravada. O principal arguido foi também considerado culpado de filmar e possuir imagens tiradas sem o conhecimento de Gisèle, tendo registos de quase 200 violações, mas também por ter imagens da filha e das noras.
Também o diretor do site utilizado para contactar os homens que violaram Gisèle Pelicot foi acusado de oito crimes, pelos quais poderá ser condenado a um total de 72 anos de prisão em França.
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