Produtores de vinho apreensivos mas fartos das tarifas dos EUA

Os produtores de vinhos estão apreensivos com o impacto das tarifas de 200% anunciadas pelos EUA, um dos principais mercados para Portugal, e esperam que Bruxelas atue, ao mesmo tempo que mostram estar fartos das ameaças de Donald Trump.

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© Reuters

Lusa
13/03/2025 18:27 ‧ há 10 horas por Lusa

Economia

Tarifas

O Presidente dos EUA ameaçou hoje a União Europeia (UE) com tarifas de 200% sobre champanhe, vinhos e outras bebidas destiladas se a tarifa de 50% da UE sobre o whisky norte-americano não cair.

 

"Esta notícia não pode ser considerada boa, antes pelo contrário. O nosso principal mercado exportador, se incluirmos o vinho do Porto, é os EUA. Se retirarmos o vinho do Porto, os EUA ficam em segundo lugar e em primeiro o Brasil. [Estas tarifas] têm um impacto direto e brutal nas nossas exportações, que se vai refletir nos países concorrentes europeus, o que significa menor competitividade comercial e interna", afirmou o presidente da Companhia das Lezírias, Eduardo Oliveira e Sousa, em declarações à Lusa.

Ainda assim, o antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) espera que esta seja "mais uma das bombas que o Presidente Trump atira para o ar e que depois se arrepende".

Eduardo Oliveira e Sousa pede agora uma resposta imediata, mas ponderada, de Bruxelas, de modo a assegurar que não se fecha uma porta.

Por outro lado, avisou que só a notícia da intenção de taxar os vinhos da UE vai ter reflexos em toda a cadeia, incluindo na cortiça.

A Companhia das Lezírias, que tem cerca de 130 hectares de vinha, defendeu ainda não ser fácil precaver o impacto, lembrando que outros mercados podem aproveitar para entrar ou alargar a presença nos EUA, ocupando a nossa quota.

Já o administrador das Caves da Montanha, Alberto Henriques, notou que vai ter um grande impacto, tendo em conta que exportam, há mais de 40 anos, para os EUA e que este é um dos principais mercados. Contudo, desafia Trump a avançar com as tarifas.

"Hoje em dia, o Presidente Trump ameaça toda a gente com tarifas. Que desta vez não ameace, avance com aquilo que acha que deve fazer. Portugal já existia antes dos EUA. Quando ele [Trump] sair estamos de braços abertos para continuar a comprar nos EUA, a recebê-los e a vender para lá", disse.

Para Alberto Henriques trata-se de "uma questão de dignidade" e, por isso, Portugal não deve sujeitar-se a "ameaças e devaneios".

A Caves da Montanha, que comercializa espumantes, vinhos, licores, aguardentes, bebidas espirituosas e águas, sublinhou ainda que para alguns mercados, como é o caso dos EUA, não existem alternativas comerciais, mas referiu que a estratégia terá de passar por continuar a abrir novos mercados e por dar mais foco a outras geografias.

"Quando nos encostam a faca ao peito temos de avançar para cima da faca e não contra a parede", insistiu.

Já o administrador executivo da Sogrape, João Gomes da Silva, considerou, em resposta à Lusa, que qualquer medida que gere incerteza representa um desafio, mas notou que a solidez das marcas, aliada ao interesse pelos vinhos portugueses nos EUA "permitirá ultrapassar eventuais obstáculos e continuar a crescer neste mercado".

De acordo com os dados preliminares da Sogrape, as exportações para os EUA representaram, em 2024, cerca de 20% do total.

A Sogrape, que detém marcas como a Casa Ferreirinha, Sandeman, Mateus e a Gazela, adotou uma "abordagem preventiva", tendo reforçado o 'stock' do seu importador nos EUA -- a Evaton.

"Antecipar encomendas em períodos de incerteza permite-nos assegurar a continuidade do fornecimento e responder da melhor forma às necessidades dos nossos clientes. Nos produtos críticos, reforçamos o 'stock' para garantir cerca de seis meses de disponibilidade", adiantou.

No primeiro semestre de 2024, as exportações totais de vinho fixaram-se em 965,8 milhões de euros (dados da ViniPortugal) e 347,5 milhões de litros.

Os principais mercados de destino são França, EUA, Brasil, Reino Unido e Países Baixos.

Leia Também: UE "aberta a negociações" mas adverte EUA que responderá a guerra comercial

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