"No Nacional, que era candidato ao título da II Liga, jogávamos como um 'grande'. Quando chegou ao Moreirense, soube adaptar-se aos oponentes e teve a humildade de perceber que tínhamos uma boa equipa, mas não controlaríamos o jogo todo e, em certas alturas, seria preciso defender e ter sacrifício. Ele conseguia puxar pelos jogadores nesse aspeto, mesmo os mais ofensivos, como era o meu caso", apontou à agência Lusa o extremo, de 30 anos, que trocou no verão os 'cónegos' pelo Karagümrük, do segundo escalão turco.
Rui Borges foi apresentado hoje como o terceiro treinador do Sporting esta temporada, chegando proveniente do Vitória de Guimarães e a três dias da receção ao rival lisboeta Benfica, da 16.ª ronda da I Liga, logo após as 'águias' terem superado os 'leões' no topo.
O ex-futebolista, de 43 anos, sucedeu ao demitido João Pereira, que, 45 dias antes, tinha abandonado a equipa B 'leonina', da Liga 3, para colmatar a saída rumo aos ingleses do Manchester United de Ruben Amorim, campeão pelo Sporting em 2020/21 e 2023/24.
"Ele já foi jogador e consegue estar por dentro daquilo que nós sentimos. Era inevitável que isto viesse a acontecer mais tarde ou mais cedo e fico muito feliz por ele. Há três dias mandei-lhe uma mensagem a desejar um feliz Natal, sem que soubesse do interesse do Sporting. Falámos um pouco e agora concretizou-se esta notícia. Penso que ele merece, já que, além da qualidade de excelência a nível técnico, é uma excelente pessoa", notou.
O treinador transmontano estava ligado aos 'conquistadores' há quase sete meses, após culminar a temporada de estreia no escalão principal com o recorde de pontuação (55) numa edição da prova do Moreirense, promovido como campeão da II Liga em 2022/23.
"Com o compromisso de olharmos para a manutenção e de jogarmos com rigor, ele fazia-nos desfrutar do futebol. O segredo dele era esse: manter muito feliz quem jogava e não jogava. Falava muito bem connosco, tentava perceber-nos e dava oportunidades a todos. Nunca deixava ninguém de lado e os treinos eram muito práticos, simples e eficazes. Nós trabalhávamos a parte defensiva e ofensiva, chegávamos aos jogos e sabíamos o que o oponente fazia. Naturalmente, as vitórias acabavam por suceder", disse João Camacho.
Estruturados em '4-3-3', os minhotos tiveram um dos terceiros piores ataques (36 golos marcados) e a quarta defesa menos batida (35 sofridos) da I Liga e igualaram o sexto lugar de 2018/19, melhor classificação de sempre em 14 presenças no escalão principal.
"O Rui Borges já tinha feito uma boa caminhada com o Vilafranquense e até esteve nos primeiros lugares da II Liga [na primeira volta de 2022/23]. Com naturalidade, os clubes da I Liga começaram a olhar para ele. Sendo um treinador ofensivo, tinha muitas ideias e conseguia fazer equipas bastante sólidas. Não foi por acaso que batemos o recorde do Moreirense", frisou o autor de quatro golos e cinco assistências em 31 jogos em 2023/24.
A ligação entre João Camacho e Rui Borges começou duas temporadas antes, quando o técnico substituiu Costinha no Nacional antes da sétima jornada da II Liga e conduziu os madeirenses ao sexto lugar, com 51 pontos, 13 abaixo da vaga do play-off de promoção.
"Tínhamos um futebol muito ofensivo, só que, como o plantel não tinha sido construído à sua maneira, acabámos por falhar a subida. Acho que não foi erro do Rui Borges, mas do próprio plantel, porque vários jogadores ficaram muito aquém das expectativas", julgou o extremo, ao evocar a temporada mais produtiva da sua carreira, com oito tentos e seis passes para golo em 34 partidas, que antecedeu um trajeto de dois anos no Moreirense.
Priorizando uma conversa com o plantel do Sporting, de forma a "tentar mexer no estado emocional dos jogadores", João Camacho descarta que Rui Borges opere mudanças imediatas no '3-4-3', sistema tático enraizado em Alvalade desde a era Ruben Amorim.
"O Sporting vai continuar com o mesmo sistema, mas adaptará certas circunstâncias ao estilo de jogo do treinador. Não podemos mudar uma equipa da noite para o dia e ele não se impõe de uma forma muito arrogante. É humilde e adaptar-se-á ao sistema da equipa, mudando alguns jogadores e atitudes, porque isto não é só trocar de técnico. Deve ter-se passado alguma coisa a nível anímico e é preciso que o plantel corresponda", terminou.
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