"Neste momento, é noticiado [pelo jornal online Observador] que a própria Entidade para a Transparência nega alguma vez ter dado o aval, autorização ou parecer favorável à criação destas empresas. Portanto, o esclarecimento que era considerado como tendo sido dado na verdade coloca novas dúvidas", criticou a deputada do BE Joana Mortágua, em declarações aos jornalistas no parlamento.
Para a deputada, em primeiro lugar, é preciso que se esclareça "se de facto a Entidade para Transparência foi ou não consultada e se deu ou não parecer favorável".
"Daí concluiremos se Hernâni Dias mentiu ou disse a verdade à comissão parlamentar onde foi ouvido [na terça-feira]", disse.
Por outro lado, defendeu, "era importante que o primeiro-ministro se pronunciasse sobre este caso", considerando que "já são muitos casos de promiscuidade entre interesses públicos e privados" sobre os quais Luís Montenegro não tem falado.
Isabel Mendes Lopes, líder parlamentar do Livre, manifestou-se igualmente preocupada com a comunicação da Entidade para a Transparência a desmentir o antigo secretário de Estado e exigiu um posicionamento e um esclarecimento do Governo nesta matéria.
Caso não haja esclarecimentos, o partido admite avançar com novas diligências como, por exemplo, uma nova audição do antigo secretário de Estado ou da Entidade para a Transparência.
"É preciso aprofundar e perceber de facto o que se passou e como é que estas empresas foram constituídas, quem é que sabia e qual foi o contexto em que aconteceu", concluiu a deputada do Livre.
Em 28 de janeiro, Hernâni Dias demitiu-se do cargo de secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território - em que ainda não foi substituído - depois de ter sido noticiado pela RTP que criou duas empresas imobiliárias já enquanto governante, e responsável pelo recém-publicado decreto que altera o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, a polémica lei dos solos.
Numa audição parlamentar na terça-feira, o ex-secretário de Estado rejeitou qualquer conflito de interesses na constituição das duas empresas, dizendo ter contactado previamente a Entidade para a Transparência para perceber se a sua posição como governante permitia essa atividade, tendo dito então que a resposta foi afirmativa, com algumas condições.
No entanto, segundo o Observador, este organismo afirma que o ex-secretário de Estado só o contactou formalmente após a constituição das empresas, em 06 de janeiro, e que ainda não lhe deu resposta.
Também ao Observador, o ex-secretário de Estado reafirmou ter tido luz verde da Entidade num contacto telefónico que, por sua vez, este organismo não confirma nem considera ser vinculativo.
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