Augusto Santos Silva, ex-presidente da Assembleia da República, defendeu, esta quarta-feira, que é necessário discutir "o perfil" do próximo Presidente da República antes de "começar pelo fim", que considera ser "os nomes" dos candidatos a Belém.
Em entrevista à SIC Notícias, Santos Silva reiterou o que há havia dito aos jornalistas esta tarde, quando defendeu a existência de uma candidatura "forte e única" da Esquerda.
"Nós precisamos de escolher a candidatura. A minha área política há de, certamente, estar representada por uma candidatura forte, única e, para isso, temos de também falar sobre o que é que pensamos que deve ser a Presidência da República", começou por dizer.
"Porque, se tivermos uma noção clara do que faz o Presidente ou a Presidente da República, e qual é o perfil necessário nas circunstâncias de hoje, será fácil encontrar a mulher ou o homem cuja candidatura devemos apoiar", acrescentou.
Interrogado sobre se tem esse perfil, o também antigo ministro dos Negócios Estrangeiros reiterou a necessidade de ter essa discussão sobre características antes de falar em nomes. "Se ainda não discutimos o perfil, como é que podemos discutir as pessoas?", questionou.
"A sequência lógica é exatamente começar o debate, que deve ser um debate público, como é o debate nos partidos democráticos e nas democracias. A eleição presidencial não é nem apenas, nem sobretudo, uma disputa partidária sobre as competências do Presidente. A Constituição define as competências do Presidente, mas a forma como a Constituição define as competências do Presidente e sendo a Presidência um cargo unipessoal, abre, naturalmente, margem para diferente interpretações", destacou.
Lembrando os Presidentes já eleitos, Santos Silva lembrou que "todos eles tiveram uma interpretação e há interpretações diferentes".
"Qual é, portanto, a missão que espera o novo ou nova Presidente nos próximos cinco anos? Qual deve ser o perfil? É esse debate que temos de fazer. Não devemos começar pelo fim, o fim são os nomes. Antes de debater o fim, devemos debater a finalidade da nossa discussão. Quem queremos ter na Presidência, para fazer o quê", completou, admitindo, mais uma vez, que não excluiu uma candidatura.
"O que vai distinguir Costa e Michel é a experiência política, a sensatez política e o sentido institucional"
O ex-presidente da Assembleia da República comentou ainda os primeiros dias do novo presidente do Conselho Europeu, António Costa, deixando-lhe rasgados elogios face ao seu antecessor, Charles Michel.
"O que o vai distinguir do seu predecessor, Charles Michel, é a experiência política, a sensatez política e o sentido institucional, de que Michel, em vários momentos do seu mandato, parece ter-se esquecido", disse.
Santos Silva destacou a importância de ser "uma pessoa da Europa do Sul" a assumir o Conselho Europeu e considerou que Costa, "desde logo, acrescentará um ponto de vista de que a Europa bem precisa na sua ação externa, que é olhar para a América Latina e África e não focar-se apenas no Leste".
"Do ponto de vista interno, as suas responsabilidades são muitas, os desafios são enormes, dado o estado atual, de um pouco falta de liderança e de visão na União Europeia, mas, como disse, conheço bem António Costa, claro que sou suspeito na apreciação que faço, visto que sou amigo e, além de amigo, admirador dele, mas eu acredito que ele tem a inteligência politica, as qualidades de negociação, compromisso, sabe ouvir o ponto de vista dos outros, ter iniciativa - todas qualidades que serão bem necessárias e bem úteis na presidência do Conselho Europeu", rematou.
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