O Tribunal de Paris condenou também 23 arguidos com penas que vão de seis meses de prisão suspensa a quatro anos de prisão, incluindo dois anos de prisão - a pena máxima aplicada a Marine Le Pen - combinadas, consoante os casos, com multas e períodos de inelegibilidade, por vezes suspensos. Apenas um arguido foi absolvido.
O antigo tesoureiro do RN, Wallerand de Saint-Just, que foi condenado a três anos de prisão, um com pulseira eletrónica, e três anos de inelegibilidade com efeito imediato, denunciou a "vontade política" do tribunal.
"Mas nós vamos resistir", afirmou à saída da sala de audiências, acrescentando que "o tribunal mostrou realmente a sua vontade política, não a sua vontade judicial ou jurídica, mas a sua vontade política".
A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, foi hoje condenada a quatro anos de prisão, dois dos quais não suspensos e sujeitos a um sistema de vigilância eletrónica, a uma multa de 100.000 euros e a cinco anos de inelegibilidade, a cumprir imediatamente e aplicados mesmo em caso de recurso.
"Hoje, não é apenas Marine Le Pen que foi condenada injustamente: é a democracia francesa que foi executada", acusou o presidente do RN e eurodeputado Jordan Bardella, de 29 anos, que se espera que suceda a Le Pen na candidatura às próximas presidenciais francesas.
Embora Le Pen conserve o seu mandato de deputada pelo Pas-de-Calais na Assembleia Nacional, as consequências políticas da decisão são inescapáveis: enquanto se aguarda uma decisão futura, não poderá candidatar-se a nenhuma eleição durante um período de cinco anos, ou seja, até depois das eleições presidenciais de 2027.
Já o aliado do RN, Eric Ciotti denunciou uma "cabala judicial escandalosa" que "está a confiscar o destino democrático" da França, ao excluir "sistematicamente qualquer candidato demasiado à direita e capaz de vencer".
"Não é saudável em democracia que uma mulher eleita seja proibida de concorrer a uma eleição, e eu acredito que os debates políticos devem ser decididos nas urnas", afirmou o líder dos deputados Republicanos, Laurent Wauquiez.
Para o republicano, "esta decisão vai ter um impacto muito forte no funcionamento" da democracia e não deveria ser o caminho.
O partido de oposição França Insubmissa (LFI, esquerda radical) declarou em comunicado que "constata que os factos declarados provados são particularmente graves [e] contradizem inteiramente o slogan 'cabeça erguida, mãos limpas' com que o partido há muito tenta prosperar".
"Tomamos nota desta decisão do tribunal, mesmo que recusemos, por princípio, aceitar a impossibilidade de recurso por parte de qualquer indivíduo", acrescenta o movimento, que se opõe às penas provisórias de inelegibilidade.
O LFI afirmou ainda que continuará a "lutar" contra o partido de extrema-direita "nas urnas e nas ruas", "seja qual for o seu candidato".
Em 2015, o Parlamento Europeu (PE) lançou um alerta às autoridades francesas sobre a possível utilização fraudulenta de fundos do antigo partido Frente Nacional, posteriormente renomeado União Nacional, devido ao grande número de contratos de assistentes parlamentares que trabalhavam total ou parcialmente para o partido entre 2004 e 2016.
O tribunal estimou que o prejuízo total foi de 2,9 milhões de euros desviados durante mais de 11 anos, "ao longo de três legislaturas", uma vez que os eurodeputados do RN fizeram com que "o Parlamento Europeu pagasse a pessoas que estavam efetivamente a trabalhar para o partido" de extrema-direita.
Marine Le Pen, que foi presidente do RN entre 2011 e 2021, foi segunda classificada nas eleições presidenciais de 2017 e 2022, tendo visto o apoio eleitoral do seu partido a crescer nos últimos anos, tornando-se a favorita nas sondagens.
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