Face aos amplos protestos que se fazem sentir um pouco por toda a Turquia e que levaram a centenas de detenções, incluindo uma dezena de jornalistas, 15 organizações internacionais subscreveram uma carta em que se demonstram "alarmadas com a recente escalada na repressão do governo à liberdade de expressão e à liberdade de reunião pacífica após a detenção do presidente da câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu".
Para as 15 organizações que assinam o comunicado não restam dúvidas de que "a polícia respondeu com força ilegal e indiscriminada para dispersar as multidões", sublinhando que a força utilizada é "desmedida" face a natureza dos protestos.
Em questões de liberdade de imprensa, o comunicado vinca as "restrições significativas" que os jornalistas enfrentam na Turquia, incluindo "detenções e agressões físicas" que, conjugadas com as pressões que os meios de comunicação sofrem, suprimem as "informações sobre o desenrolar dos acontecimentos".
Estas organizações juntam-se aos apelos realizados na quarta-feira, quer pela organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), como pela agência noticiosa AFP para que as autoridades turcas libertassem os jornalistas detidos, considerando "inaceitável" que tenham sido presos quando exerciam a sua profissão.
Ainda hoje, a cadeia de televisão britânica BBC, denunciou a expulsão do correspondente na Turquia, Mark Lowen, na sequência da vaga de manifestações.
Um canal de televisão turco próximo da oposição foi também hoje condenado a 10 dias de suspensão dos seus programas por "incitar o público ao ódio e à hostilidade", anunciou o Conselho Superior do Audiovisual turco (RTÜK), em pleno movimento de protesto no país.
Vários jornalistas foram detidos nos últimos dias na Turquia quando cobriam manifestações proibidas pelas autoridades em várias cidades importantes, sete dos quais foram libertados hoje.
Os sete jornalistas, cujas razões para a respetiva libertação são desconhecidas, foram detidos nas primeiras horas da manhã de segunda-feira nas suas casas durante uma vasta rusga ordenada pelo Ministério Público turco para prender os alegados envolvidos nos protestos em massa que têm vindo a ocorrer desde quarta-feira da semana passada.
As redes sociais também são visadas nas críticas no comunicado e instadas a tomarem "medidas imediatas para restabelecer o acesso a contas bloqueadas que contenham discursos protegidos, ao mesmo tempo que implementam as medidas necessárias para garantir a acessibilidade contínua das suas plataformas".
"No meio de protestos em massa, as autoridades impuseram rapidamente fortes restrições aos meios de comunicação social e às aplicações de mensagens, tendo inclusivamente ordenado às plataformas dos meios de comunicação social que bloqueassem os conteúdos relacionados com os protestos", adiantam.
O documento, assinado pela ARTICLE 19, Amnistia Internacional, Federação Europeia de Jornalistas, IFEX, International Federation of Journalists, International Press Institute, Norwegian Helsinki Committee, PEN América, PEN Sweden, PEN International, Danish PEN, South East Europe Media Organisation e pela World Organization against Torture, instam as plataformas a "resistirem à pressão política e a abster-se de restringir o acesso a expressões protegidas".
A nota também cita as informações avançadas pelo ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya, que até quarta-feira tinha anunciado que pelo menos 1879 pessoas tinham sido detidas, não adiantando no entanto quantas pessoas tinham ficado feridas durante as manifestações.
Ekrem Imamoglu, acusado de corrupção, foi preso a 19 de março e, no domingo passado, foi escolhido pelo Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), principal força da oposição turca, para ser candidato presidencial nas eleições previstas para 2028, sendo visto como o principal rival de Erdogan.
A oposição pede a antecipação das presidenciais e considera que o processo judicial contra Imamoglu, que nega as acusações, é uma manobra do atual Governo de Erdogan para barrar o caminho do popular presidente da câmara até à presidência.
Desde então que os protestos de rua contra a detenção de Imamoglu têm vindo a aumentar e a ganhar dimensão em várias cidades do país, apesar de as autoridades turcas considerarem ilegais quaisquer tipos de manifestações.
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