Segundo a agência de notícias Associated Press, a multidão cercou Ebrahim Rasool e a sua mulher Rosieda quando apareceram no terminal de chegadas do aeroporto da Cidade do Cabo, tendo sido necessária uma escolta policial para os ajudar a percorrer o edifício.
"A declaração de 'persona non grata' destina-se a humilhar-vos. Mas quando voltarem para multidões como esta, com este calor humano, então usarei a minha 'persona non grata' como um distintivo de dignidade", disse Rasool aos apoiantes.
O diplomata declarou que não foi sua escolha regressar a casa, mas que regressa sem arrependimentos.
O embaixador foi expulso devido a comentários que fez na Internet, num webinar, que incluía a afirmação de que o movimento 'Make America Great Again' era em parte uma resposta a "um instinto supremacista".
Rasool acrescentou durante o seu discurso à chegada ao aeroporto, que era importante para a África do Sul corrigir a sua relação com os EUA, depois de Donald Trump ter castigado o país e o ter acusado de adotar uma postura antiamericana, mesmo antes da decisão de o expulsar.
O presidente dos EUA, Donald Trump, emitiu uma ordem executiva em fevereiro, cortando o financiamento total para a África do Sul, alegando que o Governo estava a apoiar o grupo militante palestino Hamas e o Irão.
"Não viemos aqui para dizer que somos antiamericanos. Não estamos aqui para vos pedir que deitem fora os nossos interesses com os Estados Unidos", disse Rasool à multidão.
Foram os primeiros comentários públicos do ex-embaixador desde que o Governo de Trump o declarou 'persona non grata' há mais de uma semana e lhe retirou a imunidade e privilégio diplomáticos.
É muito invulgar os EUA expulsarem um embaixador estrangeiro, mas Rasool foi declarado 'persona non grata' pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, numa publicação na rede social X (antigo Twiter) em 14 de março.
Rubio disse que Rasool era um "político que se aproveita da raça" e que odeia os EUA e Trump.
Embora Rubio não tenha citado diretamente uma razão, a sua publicação estaria relacionada com uma história do sítio de notícias conservador Breitbart, no qual se relatava uma palestra que Rasool deu num ´webinar´ organizado por um grupo de reflexão sul-africano.
Na sua palestra, o diplomata falou em linguagem académica sobre a repressão da administração Trump aos programas de diversidade e equidade e à imigração e mencionou a possibilidade de os brancos nos EUA deixarem de ser, em breve, a maioria.
"O ataque supremacista ao poder, vemo-lo na política interna dos EUA, o movimento MAGA, o movimento Make America Great Again, como resposta não apenas a um instinto supremacista, mas a dados muito claros que mostram grandes mudanças demográficas nos EUA, em que se prevê que o eleitorado nos EUA se torne 48% branco", disse Rasool na palestra.
Hoje, o embaixador disse que mantinha os seus comentários e caracterizou-os como um mero alerta aos intelectuais e líderes políticos da África do Sul para o facto de os EUA e da sua política terem mudado.
"Não são os EUA de Obama, não são os EUA de Clinton, são uns EUA diferentes e, por isso, a nossa linguagem tem de mudar", disse, justificando que está a analisar "um fenómeno político, não uma personalidade, não uma nação, nem sequer um Governo".
O artigo do Breitbart que Rubio citou ao anunciar a expulsão de Rasool foi escrito por Joel Pollak, editor sénior nascido na África do Sul, que é judeu e aliado da administração Trump.
Pollak é candidato a novo embaixador dos EUA na África do Sul.
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