A redução da jornada de trabalho foi anunciada em um comunicado conjunto pelo Ministério de Energia Elétrica e a empresa estatal Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) que justificou a decisão com a emergência climática global que ocasionou o aumento das temperaturas.
"O horário de trabalho será ajustado das 8:00 às 12:30 horas durante as próximas seis semanas. Ficam isentos dessa ação os órgãos que garantem serviços essenciais à população", explicou o documento divulgado no domingo, precisando que cada dia útil seria seguido de um dia não útil.
Em paralelo a população foi sensibilizada para aproveitar a luz natural e a fixar a temperatura dos aparelhos de ar condicionado em 23.º graus.
A redução do horário de trabalho tem lugar em meio de queixas da população que reclama a incerteza e frustração provocada pelas falhas elétricas, inclusive em Caracas, a capital do país e tida como região protegida pelas autoridades. Queixam-se ainda do racionamento de energia em várias localidades do interior do país.
Os especialistas alertam que além de ter feito aumentar as temperaturas em vários estados do país, a emergência climática reduziu os níveis de água nos reservatórios, impulsionando o sistema elétrico venezuelano a uma situação de risco que poderá inclusive levar ao colapso.
Segundo os comerciantes e especialistas a situação se agravou desde o passado mês de janeiro, forçando a cortes críticos e prolongados de energia em pelos 8 dos 24 estados do país (Apure, Barinas, Falcón, Lara, Táchira, Trujillo e Zúlia).
No entanto, vários comerciantes portugueses explicaram à Lusa que há apagões e cortes elétricos diários de várias horas nos estados de Miranda e Carabobo, onde reside um número importante de compatriotas.
Em Caracas, venezuelanos proprietários de várias lojas disseram à Lusa temer um grande apagão como aconteceu em março de 2019, quando a Venezuela ficou uma semana às escuras, apontando que nos últimos anos têm acontecido vários apagões que chegaram a afetar mais de metade do país.
O conhecido engenheiro elétrico José Aguilar vai além dos efeitos do clima e culpa as autoridades de não realizarem a manutenção adequada do sistema, enquanto a imprensa venezuelana afirma que a crise na distribuição de combustível está a afetar a operacionalidade das geradoras termoelétricas.
"Há 5.300 dias consecutivos que a direção da Corpoelec oculta informação aos cidadãos sobre o estado real do sistema elétrico. Não é justo para o povo. Ou é a famosa iguana [espécie de lagarto que destruiria os cabos elétricos] ou o facto de não estar a chover nas cabeceiras dos rios. São todas desculpas e tem a ver com a falta de manutenção", disse José Aguilar à Rádio Fé e Alegria Notícias.
O engenheiro, especializado em sistemas de geração elétrica denuncia que os recursos atribuídos pelo Executivo para o sistema elétrico da Venezuela têm sido desperdiçados e que "tudo se está a deteriorar".
Por outro lado, alerta que as temperaturas na Venezuela vão continuar a subir até maio e que ao haver mais calor, aumentarão os apagões.
"Se necessitam mais de 16.000 megawatts para responder à demanda de eletricidade. Existe um défice significativo de produção de cerca de 3500 megawatts que pode aumentar com o passar dos dias quentes", disse à Rádio Fé e Alegria Notícias.
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