Kagame, que falava à imprensa em Kigali, a capital do seu país, disse que se Kinshasa não falar diretamente com os rebeldes significa falta de vontade em encontrar uma solução política para o conflito.
O M23 (Movimento 23 de Março) é o mais importante dos mais de 100 grupos armados que lutam por uma posição na área rica em minerais perto da fronteira da RDCongo com o Ruanda, onde mais de um milhão de pessoas foram deslocadas pelos combates do ano passado.
No mês passado, o movimento rebelde tomou as cidades de Katale e Masisi, esta última situada 80 quilómetros a oeste da capital regional, Goma, um ponto de entrada estratégico para o interior da RDCongo, país vizinho de Angola.
Com estas últimas ações, o M23 alargou o seu controlo sobre a região que faz fronteira com o Ruanda.
A RDCongo acusa o Ruanda de apoiar o M23 e tem rejeitado repetidamente os conselhos de Kagame para negociar com os rebeldes.
Peritos das Nações Unidas estimam que existam cerca de quatro mil efetivos militares ruandeses na RDCongo.
Os rebeldes do M23 ganharam destaque há cerca de dez anos quando os seus combatentes tomaram Goma, que faz fronteira com o Ruanda.
A sua designação deriva do acordo de paz de 23 de março de 2009, que os rebeldes acusam Kinshasa de não aplicar.
Após ter estado praticamente adormecido durante uma década, o M23 ressurgiu no final de 2021 e, desde então, conquistou vastas extensões de território no leste da RDCongo.
Em julho de 2024, Kinshasa assinou um cessar-fogo com o M23, que entrou em vigor em agosto, mas os combates recomeçaram.
Para além de negociar com a liderança do M23, Kagame disse que as autoridades democrático-congolesas também têm de lidar com a ameaça à segurança nacional do Ruanda decorrente da presença na RDCongo de outro grupo armado, a FDLR.
As autoridades ruandesas afirmam que a FDLR, cujos membros incluem alegados autores do genocídio de 1994 no Ruanda, está integrada no exército da RDCongo.
"A questão da FDLR tem de ser respondida", disse Kagame, acusando a RDCongo de perseguir o seu próprio povo e de o obrigar a refugiar-se no Ruanda.
Embora os líderes do M23 digam que estão empenhados em proteger os civis, as suas tentativas de tomar cidades causam pânico e medo generalizados, levando os habitantes locais a deslocar-se aos milhares.
Em fevereiro passado, o Departamento de Estado dos Estados Unidos descreveu pela primeira vez publicamente o M23 como um grupo armado "apoiado pelo Ruanda" e instou este país a "retirar imediatamente todo o pessoal da Força de Defesa do Ruanda (Congo) e a remover os seus sistemas de mísseis terra-ar".
Peritos da ONU disseram anteriormente que tinham "provas sólidas" de que membros das forças armadas do Ruanda estavam a conduzir operações no país em apoio ao M23.
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