Trudeau demite-se "de líder do partido e de primeiro-ministro" do Canadá

Recorde-se que, esta segunda-feira, já tinha sido avançado que o primeiro-ministro do Canadá deveria anunciar a sua demissão.

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© David Kawai/Bloomberg via Getty Images

Notícias ao Minuto com Lusa
06/01/2025 16:06 ‧ há 2 dias por Notícias ao Minuto com Lusa

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Canadá

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou hoje que vai deixar a liderança do Partido Liberal, assim como o seu cargo enquanto primeiro-ministro - quando o partido eleger um novo sucessor.

 

"Tenciono demitir-me do cargo de líder do partido e de primeiro-ministro assim que o partido tiver escolhido o seu próximo líder", disse aos jornalistas na capital, Otava.

Na conferência de imprensa, que foi citada pela BBC, Trudeau adiantou que a decisão da sua demissão foi tomada depois de uma conversa com a família, que sempre o apoiou, revelando ainda que comunicou esta decisão aos filhos durante o jantar no dia de ontem.

"Este país merece uma verdadeira escolha nas próximas eleições. Tornou-se claro para mim que se tiver de travar batalhas internas, não posso ser primeiro-ministro", disse o governante, que tem estado a enfrentar um descontentamento crescente em relação à sua liderança.

Durante a conferência de imprensa, Justin Trudeau ressalvou que o partido liberal foi eleito, pela terceira vez, em 2021 para fortalecer a economia pós-pandemia e para promover os interesses dos cidadãos, frisando também que o Canadá é "hoje um país melhor" do que aquele que encontrou em 2015 e que o seu governo fez a economia funcionar para todos.

Trudeau referiu que pediu ao presidente do Partido Liberal que inicie o processo de seleção de um novo líder.

Segundo fontes governamentais, o parlamento, que deveria ser retomado a 27 de janeiro, será suspenso pelo menos até 24 de março, data que permitirá a realização de uma corrida à liderança do Partido Liberal.

Quase dez anos depois de ter chegado ao poder, Justin Trudeau, 53 anos, estava sob pressão há semanas, com a aproximação das eleições gerais numa altura em que o Partido Liberal do Canadá (PLD) está mal colocado em diversas sondagens.

Trudeau sofre atualmente de um baixo índice de popularidade, sendo responsabilizado pela elevada inflação do país, bem como pela crise da habitação e dos serviços públicos e pelo aumento da imigração. Com uma minoria no parlamento, foi enfraquecido pela retirada do seu aliado de esquerda e pelo crescente descontentamento dentro do seu próprio partido.

Trudeau, que tinha anunciado a intenção de se candidatar à reeleição, está a mais de 20 pontos percentuais do seu rival conservador, Pierre Poilievre, nas sondagens. As próximas eleições legislativas deverão realizar-se o mais tardar em outubro de 2025.

A campanha dentro do Partido Liberal pode durar vários meses e, mesmo que o processo seja acelerado, é pouco provável que Trudeau deixe o cargo em breve. Por conseguinte, deverá continuar a ser primeiro-ministro a 20 de janeiro, data da tomada de posse do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump.

As declarações de Donald Trump nas últimas semanas agravaram a crise política do Canadá e provocaram uma onda de choque em todo o país.

O país procura uma resposta para as ameaças do presidente eleito, que prometeu impor tarifas de 25% ao Canadá e ao México assim que regressar ao poder.

Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial do Canadá e o destino de 75% das suas exportações. Cerca de dois milhões de canadianos, numa população de 41 milhões, dependem dos Estados Unidos.

O contexto político atual é "altamente invulgar", comentou à agência noticiosa France-Presse (AFP) Lori Turnbull, professora da Universidade de Dalhousie.

Durante o período festivo, várias personalidades trabalharam nos bastidores para assumir a liderança do partido e, segundo uma fonte do Partido Liberal, o ex-governador do Banco do Canadá, Mark Carney, 59 anos, conselheiro económico do partido desde o verão passado, fez numerosos telefonemas nos últimos dias para obter o seu apoio. Tal como a antiga vice-primeira-ministra Chrystia Freeland.

O partido deverá realizar uma reunião importante na quarta-feira.

Mas há uma série de desafios à espera do sucessor de Trudeau, segundo os especialistas, que apostam numa vitória dos conservadores nas próximas eleições.

"É uma causa perdida", afirmou André Lamoureux, especialista em ciências políticas da Universidade do Quebeque em Montreal (UQAM).

"Ninguém no Partido Liberal está hoje em condições de recriar um entusiasmo, um movimento de adesão", destacou o académico.

Justin Trudeau procurou durante muito tempo o seu próprio caminho, nas mais diversas atividades: pugilista amador, instrutor de snowboard, professor de inglês e francês.

Enquanto primeiro-ministro, fez do Canadá o segundo país do mundo a legalizar a canábis, introduziu a assistência médica na morte e um imposto sobre o carbono, lançou um inquérito público sobre as mulheres aborígenes desaparecidas e assassinadas e pretende ainda assinar uma versão atualizada do Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA).

De recordar que, durante esta segunda-feira, já tinha sido avançado que Trudeau deveria anunciar a sua demissão, depois de três fontes próximas ao político terem revelado que estaria a ponderar abandonar a liderança do Partido Liberal.

O primeiro-ministro tem enfrentado várias críticas nos últimos tempos que se intensificaram após a demissão da sua ministra das Finanças, Chrystia Freeland, que discordava de Justin Trudeau sobre a forma de gerir a guerra económica iminente com os Estados Unidos, fez transparecer uma turbulência crescente no seio do governo canadiano.

Trudeau chegou ao poder em 2015, após 10 anos de governo do Partido Conservador, e foi inicialmente elogiado por fazer o país regressar ao seu passado liberal.

Mas o também filho mais velho de Pierre Elliott Trudeau, um dos primeiros-ministros mais conhecidos do Canadá (primeiro entre 1968 e 1979 e depois entre 1980 e 1984), tornou-se profundamente impopular entre os eleitores nos últimos anos devido a uma série de questões.

[Notícia atualizada às 17h52]

Leia Também: Justin Trudeau poderá apresentar a demissão esta semana

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