UE delegou nas grandes empresas a definição das regras para usar IA

As maiores empresas tecnológicas estão a moldar a implementação da inteligência artificial "dentro de portas", apesar da legislação da União Europeia (UE) para delimitar a utilização deste instrumento, denunciou hoje o Observatório da Europa Corporativa.

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Lusa
09/01/2025 00:00 ‧ há 16 horas por Lusa

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De acordo com um relatório divulgado hoje, intitulado "Enviesado desde o interior -- Como as grandes tecnológicas estão a introduzir os seus próprios padrões de inteligência artificial", as grandes empresas tecnológicas estão a decidir "regras cruciais" sobre a implementação da legislação para este instrumento "dentro de portas".

 

O documento denuncia que as grandes empresas do setor estão a definir como é que esta tecnologia pode ser implementada em proveito das próprias empresas, sem olhar às "consequências sociais" da inteligência artificial: "Investigadores e organizações da sociedade civil expressaram preocupações sobre a decisão da UE de aplicar regras técnicas para debelar os riscos societais e complexos que a inteligência artificial representa."

O observatório dá conta de que dos 143 elementos da comissão técnica para abordar esta questão, "mais de metade (55%) representam empresas ou consultores -- 54 empresas e 24 consultoras".

Os principais interessados em definir como é que a legislação influencia a utilização da inteligência artificial, de acordo com o relatório, são as empresas tecnológicas norte-americanas, incluindo a Microsoft, a IBM, "duas da Amazon, pelo menos uma da Google", mas também a Intel, a Oracle, a Qualcomm e a DIGITALEUROPE, uma organização de lóbi com sede em Bruxelas (capital da Bélgica e cidade onde estão sediadas as principais instituições europeias, nomeadamente a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu).

A presença de Pequim neste organismo técnico é inteiramente composta pela Huawei.

Bram Vranken, um dos investigadores do Observatório da Europa Corporativa que participou neste relatório, considerou que a decisão da Comissão Europeia de "delegar a construção de políticas públicas sobre a inteligência artificial ao privado é profundamente problemática".

Classificando o processo como "opaco, dominado por interesses empresariais e de difícil acesso para a participação da sociedade civil", o investigador considerou que "as grandes empresas tecnológicas estão, efetivamente, a definir as próprias regras" que deviam regular como é que utilizam a inteligência artificial.

Bram Vranken advertiu que, se esta conduta continuar, podem ser colocados em causa os direitos fundamentais dos cidadãos da União Europeia.

Leia Também: Mais de 800 civis morreram em quase um ano na Síria

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