"Para nós é muito claro que o Pacto [Europeu dos Oceanos - PEO] não é um pacto entre europeus para o oceano. Para nós, é um pacto entre os europeus e o oceano", disse Tiago Pitta e Cunha à Lusa, numa entrevista para antecipar a reunião SOS Oceano que decorre em Paris nos próximos dias.
Para o especialista em oceanos, no PEO os europeus devem reconhecer como dependem totalmente do oceano.
"O oceano é fundamental para a Europa, não apenas do ponto de vista da nossa sustentabilidade física, através da questão do ambiente, mas é fundamental para a nossa economia", disse, lembrando que o continente é já uma superpotência mundial em quase todos os setores da economia do mar.
Além disso, defendeu, o oceano é também importante a nível da geopolítica, numa altura em que há uma agressão militar no leste da Europa e em que a relação com os Estados Unidos não aparenta ser tão pacífica como já foi.
Para Tiago Pitta e Cunha, "o oceano é verdadeiramente o espaço vital da Europa" e já durante as duas guerras mundiais o oceano foi o espaço de livre-arbítrio, de defesa e de segurança da Europa.
"Eu diria mesmo que hoje a Europa é cega, surda e muda sem o seu oceano, porque as nossas comunicações, principalmente as comunicações que trazem a Internet também à Europa, os cabos de fibra ótica, estão entre a Europa e a América do Norte", disse.
Esses sistemas têm de ser protegidos, como têm de ser protegidos os portos e o transporte marítimo, defendeu, lembrando que 90% do comércio mundial viaja por mar.
"Isso mostra também como é tão importante para a nossa sobrevivência física, para a nossa economia, mesmo para a nossa alimentação, para a segurança alimentar da Europa, que a Europa tenha uma estratégia, um pacto com o oceano, que permita ao oceano ser um fator de defesa e não um fator de agressão" que possa fragilizar a Europa.
Quando esteve em Lisboa no final de fevereiro, o Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu que o mundo, tal como se conhece, está a fragmentar-se, pelo que se torna cada vez mais urgente trabalhar para o Pacto Europeu do Oceano.
Macron falava na cerimónia de transferência de poderes de Portugal para França para garantir a terceira edição da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (a segunda ocorreu em Lisboa em 2022), que decorrerá entre 09 e 13 de junho deste ano em Nice (sul de França).
Na ocasião, o chefe de Estado francês defendeu a necessidade de descobrir e explorar os oceanos, que classificou como um tesouro "verdadeiramente escondido"
"Quando outros vão para Marte, nós decidimos abraçar Neptuno", frisou então Macron.
Para preparar a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, o Presidente da República francesa, juntamente com a FOA e com o apoio da Bloomberg Philantropies, organiza entre domingo e segunda-feira o SOS Oceano, que junta dezenas de personalidades ligadas aos oceanos, incluindo líderes de opinião, decisores políticos, cientistas e ativistas de todo o mundo para abordar os desafios mais urgentes dos oceanos e desenhar estratégias.
A Fundação Oceano Azul, criada em 2017, tem como missão contribuir para um oceano saudável e produtivo para benefício de toda a vida no planeta.
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