"Parece-me uma excelente escolha, pelo perfil da pessoa, mas (...) estas questões não são tanto questões de pessoas, mas sobretudo questões das políticas e das iniciativas que estão em cima da mesa", disse à agência Lusa o diretor executivo do Health Cluster Portugal (HCP), Joaquim Cunha.
O antigo presidente da Entidade Reguladora da Saúde Álvaro Almeida vai substituir o anterior diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Gandra d'Almeida, que se demitiu na sexta-feira.
O pedido de demissão de Gandra d´Almeida foi anunciado depois de a SIC ter noticiado que acumulou, durante mais de dois anos, as funções de diretor do INEM do Norte, com sede no Porto, com as de médico tarefeiro nas urgências de Faro e Portimão e que terá recebido por esses turnos mais de 200 mil euros.
O anúncio do substituto de Gandra d'Almeida foi feito pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, na terça-feira.
"Acho que mais do que pessoas importa o tema. A discussão dos últimos dias parece-me um pouco enviesada, porque agora de um momento para outro começamos a pôr causa a própria utilidade da Direção Executiva do SNS (DE-SNS). O Health Cluster Portugal entende que não faz sentido. A ideia continua a ser boa desde o princípio, e, naturalmente, estas coisas podem ser melhoradas, aperfeiçoadas", realçou.
A associação privada sem fins lucrativos, que reúne mais de duas centenas de entidades ligadas à saúde, observou que há "algo de patogénico ou de esquizofrénico" quando, sem dados, se põe em "causa a própria existência da DE-SNS".
"Eu acho que o nosso SNS precisa de mais de gestão. Quando digo isto não estou a pôr em causa a qualidade das pessoas que têm estado à frente dos hospitais e das estruturas do SNS, estou sobretudo a falar das condições que têm para concretizar as políticas e as ações que estão em cima da mesa", apontou Joaquim Cunha.
O diretor executivo HCP indicou que há "instituições muito pesadas", como os hospitais de São João (Porto) e Santa Maria (Lisboa), que "têm de ser ajudadas da forma mais eficaz possível".
"Sabemos que, cada vez mais, os recursos são escassos. O recurso financeiro é escasso. Não podemos continuar todos os anos a meter mais dinheiro no SNS, não podemos, porque não existe. Não conseguimos inventá-lo", alertou, acrescentado que há cada vez menos profissionais.
Face à escassez de recursos no SNS, Joaquim Cunha explicou que a DE-SNS "é um passo" para a sua gestão.
"No fundo, é ter uma camada de gestão em cima do que já existe. É assim que em todo o mundo se gerem as empresas, se gerem as instituições, em particular aquelas que têm uma dimensão maior e em que os recursos são escassos", justificou.
Lamentando que a saúde "é um problema que todos os dias traz más notícias", o responsável disse que o SNS devia ser dotado de "ferramentas de gestão modernas", como acontece no setor privado.
"Pagamos um preço elevado. Estamos aqui a discutir o acessório ao invés de discutir o mais importante", salientou, vincando que os grupos privados de saúde "são muito mais eficientes" no uso das ferramentas.
Álvaro Santos Almeida, que vai liderar a DE-SNS, foi deputado do PSD na Assembleia da República e não é primeira vez que assume pastas ligadas à saúde.
Candidato à Câmara Municipal do Porto nas autárquicas de 2017, Álvaro Santos Almeida, de 60 anos, liderou a Entidade Reguladora da Saúde entre 2005 e 2010 e, mais recentemente, em 2015, assumiu a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N), de onde acabaria por demitir-se, um ano depois em rota de colisão com o então Governo socialista.
O substituto de António Gandra D' Almeida tem um doutoramento em Economia pela London School of Economics and Science e é professor associado na Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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