Mónica Silva tinha apenas 33 anos e estava grávida de sete meses quando desapareceu, sem deixar rasto, a 3 de outubro de 2023, na Murtosa, distrito de Aveiro. Consigo levava as ecografias do bebé para mostrar ao alegado pai do filho.
Durante mais de um ano, muito se falou do caso da 'Grávida da Murtosa', como acabou por ficar conhecida, mas Mónica, que tem mais dois filhos, de outra relação, nunca chegou a ser encontrada, nem o seu corpo.
Quem a conhecia, porém, não se poupou desde o primeiro dia a apontar o dedo ao alegado homicida: Fernando Valente.
Cerca de dois meses depois (e várias buscas), o empresário viria mesmo a ser detido pela Polícia Judiciária (PJ). Nessa mesma altura, ficou em prisão preventiva, algo que acabou por mudar nove meses depois, quando foi colocado em prisão domiciliária.
MP acusa Fernando Valente de homicídio qualificado (e não só)
Além do crime de homicídio qualificado, o empresário é ainda acusado de aborto, profanação de cadáver, acesso ilegítimo e aquisição de moeda falsa para ser posta em circulação.
Segundo o despacho de acusação, durante cerca de um ano, o arguido e a vítima mantiveram uma relação íntima (que aquele tentou sempre manter em segredo), fruto da qual aquela engravidou.
"Já com 7 meses de gestação, no dia 29 de setembro de 2023, a vítima comunicou ao arguido esse seu estado e este, por forma a evitar que lhe viesse a ser imputada a paternidade e beneficiassem do seu património, decidiu matar a vítima e o feto que [Mónica] gerava; para isso, engendrou um plano que incluiu desfazer-se do seu corpo e do feto, eliminar contactos que o relacionassem com aquela e com os vestígios da sua morte, e de desviar de si quaisquer suspeitas dos crimes", lê-se no documento.
Casa limpa com soda caústica. Fernando teve cúmplices?
Nada que a família da 'Grávida da Murtosa' já não tivesse dito, vezes sem conta, aos meios de comunicação social. Apesar da relação que mantinham, Fernando nunca quisera ser visto com Mónica. Os encontros entre ambos era às escondidas, a horas tardias, sempre em sítios "nos quais não pudessem ser vistos juntos".
A testemunha chave do processo é, segundo vários meios de comunicação social, um ex-funcionário do pai de Fernando – a quem muitos também apontam o dedo como possível cúmplice, mas que não está acusado, pelo menos até ao momento, de nenhum crime. Sob orientação de ambos, o homem terá usado soda cáustica e outros químicos, que permitiram destruir vestígios, para limpar a casa onde, alegadamente, ocorreu o crime.
Aos investigadores, a testemunha terá ainda contado que além da casa teve de lavar as zonas comuns do prédio, entre o 1.º andar e o rés do chão, assim como o parque de estacionamento usado pela família, algo que os intervenientes nunca tinham feito até ao momento, e que tinha visto, em cima de uma cama roupa de mulher.
Como Mónica foi morta e onde foi o corpo escondido, os investigadores ainda não conseguiram perceber. Mas isso não faz com que Fernando não seja condenado. O MP acredita possuir provas circunstanciais suficientes para isso. Já outros homicidas foram condenados em Portugal sem corpos, como foi o caso de Leonor Cipriano, condenada pela morte da filha, Joana, em 2004.
O julgamento, em tribunal de Júri, deve começar nos próximos meses e pode não ser o único a que Fernando Valente será presente, uma vez que o empresário da Murtosa é também suspeito de abuso sexual de menores.
Fernando é também suspeito de abuso sexual de menores
Segundo o Jornal de Notícias, durante a investigação, a PJ encontrou no telemóvel do arguido "dezenas de fotografias de uma menina, com cerca de 10 anos, completamente nua, numa casa de banho".
Fernando continua em prisão domiciliária, no primeiro andar de um edifício de Pedroso, em Vila Nova de Gaia.
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