"O povo quer que o Hamas saia" e "Parem a guerra" foram algumas das palavras de ordem entoadas pelos manifestantes que marcharam pelas ruas de Beit Lahia, repletas de edifícios danificados pelos combates e bombardeamentos israelitas, segundo vídeos do protesto nas redes sociais, verificados pela agência EFE.
No raro protesto, os manifestantes gritaram ainda "Fora Hamas" e "Hamas terrorista", disseram testemunhas à agência AFP.
Mohammed, um residente da cidade que participou no protesto, disse à EFE, por telefone, que a marcha invulgar foi espontânea e que os participantes expressaram a sua frustração relativamente à guerra com Israel.
"(Os manifestantes) exigiram o fim do Governo do Hamas e manifestaram o seu desejo de viver em paz", disse o palestiniano.
Acrescentou ainda que os habitantes da cidade criticaram a falta de abrigos para os ataques do exército israelita.
Mohammed disse que muitos residentes temem retaliações por parte do Hamas, mas mesmo assim saíram à rua devido ao cansaço provocado pelo conflito, e que nenhuma detenção foi feita pela organização islâmica, que governa Gaza há quase duas décadas.
"(Os manifestantes) não querem o actual governo, querem viver em segurança e proteção", explicou o residente em Gaza, que especificou que outra marcha recente contra o Hamas em Jabalia Al-Badad não aconteceu devido ao medo da organização islamita.
"Majdi", outro manifestante que evitou dar o seu nome verdadeiro, disse à AFP que "as pessoas estão cansadas" do conflito, que dura há 17 meses e devastou o pequeno território.
"Se a saída do Hamas do poder em Gaza é a solução, então porque é que o Hamas não deixa o poder para proteger o povo?", questionou.
Pelo menos uma convocatória para uma manifestação circulou na terça-feira na rede social Telegram, segundo a AFP.
A mesma fonte adianta que outras mensagens de origem desconhecida convocam protestos em vários locais da Faixa de Gaza na quarta-feira.
Israel desafia frequentemente os palestinianos em Gaza a rebelarem-se contra o movimento islâmico que tomou o poder no território em 2007, expulsando o movimento rival Fatah e não mais organizando eleições.
O protesto acontece uma semana depois de o exército israelita ter quebrado o cessar-fogo em vigor desde 19 de janeiro, retomando os bombardeamentos e as incursões militares em Gaza, fazendo quase 800 mortos.
O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) informou hoje que mais de 120.000 palestinianos foram deslocados pelos bombardeamentos israelitas desde o reatamento da guerra, e que estão em vigor ordens de evacuação para pelo menos mais 100.000 pessoas na parte norte do enclave.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas a Israel, a 07 de outubro de 2023, que fez mais de 1.200 mortos em poucas horas, na maioria civis.
O número de mortos na Faixa de Gaza desde o início da guerra, em outubro de 2023, superou no fim de semana os 50 mil, na sequência dos últimos bombardeamentos israelitas no enclave palestiniano, segundo dados fornecidos pelas autoridades locais, controladas pelo Hamas.
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