Daniela Klette, 66 anos, está a ser julgada em Celle, Baixa Saxónia (norte da Alemanha), por uma série de assaltos à mão armada efetuados pelo grupo Fação do Exército Vermelho ('Red Army Faction' - RAF) também conhecido como 'Brigadas Baader-Meinhof'.
A acusada fazia parte da lista dos criminosos mais perigosos da Europol.
O grupo armado - fundado por Andreas Baader e Ulrike Meinhof - é considerado responsável por 30 assassinatos entre 1971 e 1991.
A Fação do Exército Vermelho, que se dissolveu em 1998, organizou e levou a cabo operações armadas contra instituições, o Exército norte-americano na Alemanha, políticos e empregadores, sobretudo industriais.
Daniela Klette é suspeita de ter participado em vários atentados e roubos, sem causar vítimas.
O processo que começou hoje concentra-se em 13 assaltos à mão armada a carrinhas de transporte de valores e supermercados que Klette terá cometido na companhia de dois cúmplices que ainda se encontram a monte: Burkhard Garweg e Ernst-Volker Staub.
Os investigadores avaliam em cerca de 2,7 milhões de euros o resultado dos roubos.
O dinheiro foi utilizado para financiar fugitivos do grupo armado.
Hoje, em frente ao tribunal, cerca de 50 pessoas concentraram-se pacificamente demonstrando apoio a Daniela Klette.
Uma faixa empunhada pelos manifestantes tinha a inscrição: "Pela defesa da história revolucionária - Liberdade para Daniela e todos os presos políticos".
Klette foi detida no dia 26 de fevereiro de 2024, quando agentes da polícia bateram à porta do apartamento onde residia, no quinto andar de um edifício no bairro de Kreuzberg, Berlim.
A arguida vivia há cerca de 20 anos na mesma casa sob o nome falso de Claudia Ivone e usava um passaporte italiano.
No dia em que foi detida, quando se encontrava na esquadra da polícia, conseguiu avisar por mensagem de telemóvel o companheiro Burkhard Garweg, que na altura vivia clandestinamente numa caravana na zona leste de Berlim.
Os advogados de defesa contestam o facto de os meios de comunicação social a descreverem como "perigosa terrorista".
Os vizinhos entrevistados pelo jornal alemão Bild descreveram-na como uma pessoa afável, que vivia com um companheiro da mesma idade e cumprimentava sempre que passeava o cão.
As buscas policiais ao apartamento revelaram a existência de um arsenal de armas de guerra e explosivos, incluindo uma espingarda de assalto Kalashnikov e uma metralhadora, bem como dinheiro e ouro.
A polícia da Baixa Saxónia, que estava a investigar os roubos cometidos pela Fação do Exército Vermelho, disse que tinha localizado Klette após uma longa investigação que partiu de uma denúncia anónima.
Um jornalista do grupo de investigação jornalística Bellingcat já a tinha localizado alguns meses antes, no âmbito de uma pesquisa para um programa transmitido através da internet.
O jornalista disse que para localizar Klette inseriu uma fotografia da arguida no programa PimEyes, que identifica rostos na internet.
A fugitiva publicava fotografias numa conta da plataforma digital Facebook e participava ativamente num clube de capoeira, uma combinação de desporto de combate e dança afro-brasileira.
As autoridades policiais alemãs não confirmaram a ligação entre a descoberta do jornalista e a detenção de Klette em Berlim.
Leia Também: Alemanha estreia novo parlamento com negociações para formar governo em curso
