"A recente descoberta no México de restos humanos queimados e de centenas de objetos pessoais, como sapatos e roupas, num campo aparentemente gerido por um cartel de droga, é uma recordação profundamente perturbadora do trauma dos desaparecimentos ligados ao crime organizado em todo o país", lamentou Elizabeth Throssell, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, num comunicado.
"A descoberta é tanto mais perturbadora se tivermos em conta que este local já havia sido alvo de uma rusga em setembro de 2024 pela Guarda Nacional e pela procuradoria-geral do Estado de Jalisco, sem que tivessem sido detetadas provas cruciais", continuou Throssell.
O Ministério Público de Jalisco afirmou na altura que as ossadas descobertas haviam sido submetidas a "exposição térmica", o que levou o ministério a decidir encerrar a investigação.
No entanto, o ministério admitiu na quarta-feira que as investigações iniciais foram "insuficientes".
A porta-voz do Alto Comissariado salientou ainda o empenho das autoridades federais e estaduais "em examinar eventuais omissões na condução da operação de busca inicial".
O acampamento clandestino foi descoberto no início de março por famílias que procuravam os seus familiares desaparecidos.
De acordo com o Alto Comissariado, o campo era alegadamente utilizado pelo Cartel Jalisco Nueva Generación (CJNG) para formar jovens recrutados forçosamente por esta organização através de ofertas de emprego falsas.
"Eram submetidos a tratamentos cruéis e aqueles que resistiam ou se recusavam a cumprir as exigências do cartel eram mortos, como confirma a presença de fragmentos de ossos e restos humanos carbonizados no local", acrescentou a porta-voz.
Este caso recorda ao México a "tragédia humana", continuou a porta-voz da ONU, dos seus mais de 100.000 desaparecimentos forçados, a maior parte dos quais ligados à violência e à droga.
O estado de Jalisco, reduto do CJNG, tem sido o mais afetado, registando cerca de 15.000 casos de desaparecimentos.
O Cartel Jalisco Nueva Generacion é um dos oito grupos criminosos latino-americanos incluídos na lista de organizações "terroristas" pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Apelamos às autoridades mexicanas para que garantam investigações exaustivas, independentes, imparciais e transparentes sobre os crimes cometidos no local, para que intensifiquem os esforços de identificação dos restos mortais humanos encontrados e para que permitam uma participação significativa das famílias nos processos de busca, investigação e responsabilização", exigiu a porta-voz.
"Dado o impacto mais amplo dos desaparecimentos no México, instamos também o Governo a reforçar as medidas de prevenção e a garantir a proteção e o apoio às famílias das vítimas de desaparecimentos na sua busca da verdade e da justiça", acrescentou Throssell.
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