A libertação de três reféns israelitas e 90 prisioneiros palestinianos marcou o primeiro dia de cessar-fogo na Faixa de Gaza, acordado entre o Hamas e Israel. No domingo, três mulheres foram entregues ao Comité Internacional da Cruz Vermelha após 471 dias em cativeiro, estando a próxima libertação prevista para "sábado".
O cessar-fogo entrou em vigor às 11h15 locais (9h15 em Lisboa), com quase três horas de atraso em relação ao previsto.
Emily Damari, de 28 anos, Doron Steinbrecher, 31 anos, e Romi Gonen, 24 anos, foram as primeiras reféns a ficar em liberdade no âmbito de um acordo que prevê, para já, a libertação de 33 israelitas. As mulheres "passaram por um inferno", segundo o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu", e encontraram-se com as suas mães, antes de serem transportadas por um helicóptero para um hospital de Israel.
Em troca, Israel anunciou a libertação de 90 prisioneiros da prisão de Ofer, na Cisjordânia ocupada. Entre eles estão 12 homens condenados por delitos menores, como o incitamento ao terrorismo ou a desordem pública, e há ainda 69 mulheres e nove menores, todos com menos de três anos de prisão e condenados por crimes não sangrentos.
Entre os libertados estão também Khalida Jarrar, 62 anos, ativista feminista e membro da Frente Popular para a Libertação da Palestina (PFLP), a irmã do político do Hamas Saleh Arouri, Dalal Jaseeb, e Abla Abdelrasoul, 68 anos, mulher do dirigente da PFLP Ahmad Saadat.
A primeira fase do acordo de cessar-fogo de 42 dias prevê a libertação de cerca de dois mil prisioneiros palestinianos e 33 reféns israelitas. Com a libertação destes reféns, restarão 91 no interior do enclave palestiniano que foram feitos prisioneiros pelo ataque do Hamas de 7 de outubro, 34 dos quais confirmados como mortos, para além de três que estavam detidos desde 2014: dois civis e um soldado, todos confirmados como mortos.
ONU destaca "bom primeiro dia" do acordo de cessar-fogo. UE fala em "esperança"
O diretor da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini, destacou que equipas "reportaram um bom primeiro dia de cessar-fogo", que é "um passo na direção certa em direção à paz e estabilidade duradouras para todos".
"Após mais de 470 dias, a população de Gaza ouve o som de crianças a brincar em vez de bombardeamentos e ataques aéreos", começou por escrever na rede social X.
"As nossas equipas da UNRWA relataram um bom primeiro dia de cessar-fogo; a ajuda e alguns abastecimentos comerciais começaram a chegar sem problemas", acrescentou, destacando que "o cessar-fogo deve manter-se e todos os elementos do acordo devem ser aplicados".
"É um passo na direção certa para uma paz duradoura e estabilidade para todos. Não nos pouparemos a esforços para aliviar o imenso sofrimento e aumentar a ajuda humanitária", garantiu.
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— Philippe Lazzarini (@UNLazzarini) January 20, 2025
Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reagiu à libertação pelo Hamas das três primeiras reféns israelitas. "Romi Gonen, Emily Damari e Doron Steinbrecher estão livres. Outros devem seguir-se. Ver o reencontro dos reféns com as suas famílias enche-nos o coração de esperança", escreveu no X.
"Que este seja o início de um novo capítulo para Israel e para o povo palestiniano. O cessar-fogo deve manter-se. A Europa apoiá-lo-á", sublinhou Von der Leyen.
Por cá, o Governo português saudou a libertação das reféns e o "início do cessar-fogo acordado", que é "um passo fundamental para uma paz duradoura no Médio Oriente e uma condição para a entrada urgente e indispensável da ajuda humanitária em Gaza".
Recorde-se que o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 resultou na morte de 1.210 pessoas do lado israelita, a maioria delas civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
Pelo menos 46.913 pessoas, a maioria civis, foram mortas na ofensiva retaliatória israelita em Gaza, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas considerados confiáveis pela ONU.
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