"Esta manhã fui ao local", escreveu o ministro de extrema-direita na rede social X, adiantando que foi ali "para rezar pela paz dos soldados, pelo rápido regresso de todos os reféns e pela vitória completa [da guerra] com a ajuda de Deus".
Ben Gvir acompanhou a sua mensagem com uma imagem de si próprio a percorrer, escoltado pela polícia, o lugar sagrado.
Juntamente com o ministro, cerca de 20 israelitas entraram na Esplanada das Mesquitas, a maioria dos quais membros das forças de segurança e dos serviços secretos, mas também alguns radicais, segundo disseram fontes da Waqf, a fundação religiosa dependente da Jordânia que gere o local.
A sua incursão ao local sagrado representou, aos olhos do grupo islamita Hamas -- com quem Israel está em guerra na Faixa de Gaza - uma "perigosa escalada do Governo de ocupação de extrema-direita contra a identidade árabe e islâmica", garantindo que as suas ações apenas acrescentam "mais lenha ao fogo" do conflito.
"O ataque do extremista Ben Gvir à mesquita de al-Aqsa, no primeiro dia do chamado 'festival das luzes' judaico (Hanukkah), é uma nova e perigosa violação, e as nações árabes e islâmicas devem assumir a sua responsabilidade de proteger al-Aqsa e outros lugares sagrados", afirmou o grupo, em comunicado.
O Hamas acusou ainda o Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de dar "rédea solta aos seus ministros extremistas", permitindo "visitas provocatórias" diárias ao local sagrado.
"Apelamos ao nosso povo na Cisjordânia ocupada, em Jerusalém e no interior [de Israel] para que se mobilizem e marchem através de al-Aqsa e dos seus pátios e confrontem os planos da ocupação. Apelamos também à nossa corajosa resistência e à juventude revolucionária da Cisjordânia ocupada para intensificar os seus confrontos contra o inimigo criminoso e os seus bandos de colonos", referiu a organização islamita, no poder em Gaza.
A visita também foi denunciada como "uma provocação" pela Autoridade Palestiniana, no poder na Cisjordânia, e pela Jordânia.
A deslocação do ministro israelita e os seus "rituais talmúdicos" no local da mesquita de al-Aqsa é uma "provocação sem precedentes contra milhões de palestinianos e muçulmanos", considerou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Jordânia denunciou igualmente "uma visita provocadora e inaceitável", bem como uma "violação do 'status quo' histórico e jurídico" da Esplanada das Mesquitas.
A Jordânia atua como guardiã dos locais sagrados muçulmanos e cristãos em Jerusalém Oriental, embora Israel controle o acesso e as visitas aos locais, ao abrigo dos acordos de paz subscritos pelos dois países em 1994.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, também se distanciou das ações de Ben Gvir emitindo uma breve declaração: "O 'status quo' do Monte do Templo não mudou", assegurou.
Os judeus chamam Monte do Templo à Esplanada das Mesquitas porque consideram que foi ali construído o Segundo Templo, o local mais sagrado da sua religião.
De acordo com o 'status quo' em vigor desde 1967 (quando Israel ocupou Jerusalém Oriental), o local está reservado exclusivamente ao culto dos muçulmanos, enquanto os judeus só podem entrar como visitantes e não para rezar.
O ministro da Segurança Nacional, no entanto, já declarou, em inúmeras ocasiões, que pretende, enquanto autoridade política, permitir a oração judaica no local, entrando em confronto direto com o primeiro-ministro.
O grande rabi de Israel proíbe os judeus de orar ali e estipula que as suas orações sejam realizadas apenas no Muro das Lamentações adjacente.
A entrada hoje do ministro colono na Esplanada acontece numa altura em que o seu país está envolvido em negociações com a organização islamita palestiniana Hamas para chegar a acordo sobre um acordo de cessar-fogo e troca de reféns em Gaza, palco de um conflito há mais de 14 meses.
A última incursão de Ben Gvir na Esplanada foi em agosto, quando os dois países realizavam também uma ronda de negociações na Faixa de Gaza. Na altura, o ministro fez-se acompanhar de mais de mil colonos israelitas, segundo dados da Waqf.
A visita do ministro aproveitou o facto de ter acabado de começar o feriado judaico de Hanukkah, que comemora a recuperação do Segundo Templo de Jerusalém e costuma ser celebrado tanto por religiosos como por seculares.
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