"O que está a acontecer na Ucrânia poderia acontecer aqui também (...). É altura de mudar para uma mentalidade de guerra. E reforçar rapidamente a nossa produção de defesa e no gasto na defesa", advertiu Rutte, durante uma conferência organizada pelo centro de estudos Carnegie Europe.
No seu primeiro discurso solene desde que assumiu o cargo em outubro, o líder da Aliança Atlântica alertou que a ameaça russa está a aproximar-se "a grande velocidade".
O responsável ressalvou que mesmo que não exista uma ameaça militar iminente contra a NATO, isso não impede a Rússia de se preparar para "um confronto a longo prazo com a Ucrânia" e com os 32 países que compõem a organização transatlântica.
Rutte pediu o apoio do público e exortou a um sentido de sacrifício para "evitar a próxima grande guerra em território da NATO".
Este apelo surge numa altura em que as forças ucranianas estão a recuar no campo de batalha face ao exército russo, maior e mais bem equipado.
A guerra na Ucrânia está a causar "mais de 10.000 mortos e feridos de ambos os lados todas as semanas", acrescentou.
"A economia russa está em pé de guerra", enquanto os países europeus estão relutantes em gastar mais para aumentar as suas capacidades de defesa, prosseguiu.
Para além da Rússia, a China, o Irão e a Coreia do Norte estão "a trabalhar arduamente para enfraquecer a América do Norte e a Europa", sublinhou Rutte.
"Temos de ser claros quanto às ambições da China quando esta aumenta substancialmente as suas forças, incluindo as suas armas nucleares, sem limites e de forma opaca", advertiu.
"A situação de segurança é a pior da minha vida, [e] não estamos onde deveríamos estar", afirmou o líder da Aliança Atlântica.
A indústria de defesa europeia é "demasiado pequena, demasiado lenta e demasiado fragmentada", considerou.
Os países da NATO estão a gastar muito menos em Defesa do que durante a Guerra Fria, quando dedicavam mais de 3% do seu Produto Interno Bruto (PIB).
Em 2023, os aliados decidiram aumentar as suas despesas militares para 2% do PIB, mas apenas 23 deles atingiram este objetivo.
"Posso dizer-vos que vamos precisar de muito mais do que 2%", avisou Rutte.
Alguns países da NATO estão a falar da necessidade de aumentar este limiar para 3%, mas continuam divididos e ainda não foi tomada qualquer decisão.
Cada ponto adicional do PIB representa mais 200 mil milhões de euros para os países da União Europeia (UE), 23 dos quais são também membros da NATO, de acordo com o novo comissário europeu da Defesa, Andrius Kubilius.
Este esforço tem um custo e implica sacrifícios, explicou o secretário-geral da NATO.
"Hoje, apelo ao vosso apoio", afirmou Rutte, prosseguindo: "Sei que gastar mais na defesa significa gastar menos noutras prioridades, mas é apenas um pouco menos".
O secretário-geral sugeriu a utilização de "uma pequena fração" das despesas sociais para atingir este objetivo.
"Para proteger a nossa liberdade (...), os vossos políticos têm de vos ouvir", insistiu.
"Digam-lhes que estão dispostos a fazer sacrifícios hoje para garantir a nossa segurança amanhã. Digam-lhes que devem gastar mais na Defesa para que possamos continuar a viver em paz", pediu.
Rutte deixou mais um aviso: "Se não gastarmos mais em conjunto agora para evitar a guerra, pagaremos um preço muito, muito, muito mais elevado mais tarde, ao fazermos a guerra".
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