Um jovem norte-americano que estava desaparecido desde maio foi encontrado na Síria, onde esteve vários meses detido, depois de ter atravessado o país “em peregrinação” até Damasco.
Travis Timmerman, de 29 anos, foi visto pela primeira vez num vídeo que surgiu esta madrugada e no qual foi erradamente identificado como sendo o jornalista Austin Tice, de 43 anos, que está desaparecido no país.
O jovem natural do Missouri foi intercetado por oficiais do anterior regime quando entrou na Síria sem permissão, há cerca de sete meses. Travis contou aos jornalistas que passou três dias a viver numa zona montanhosa junto à fronteira entre o Líbano e a Síria “sem comida nem água”, antes de ser visto por um guarda fronteiriço e detido.
“Estava em peregrinação a Damasco”, disse à NBC News.
O norte-americano adiantou que rumou à Síria por “objetivos espirituais” associados à fé cristã e que a sua experiência na prisão “não foi muito má”.
“Nunca me bateram. A única parte realmente má foi não poder ir à casa de banho quando queria. Só me deixavam sair três vezes por dia para ir à casa de banho”, disse à CBS News.
Após a queda do regime, o jovem deixou a prisão com um grupo de pessoas e estava a tentar chegar até à Jordânia. Apesar de ter tido “alguns momentos de medo”, Travis ainda não tinha processado o facto de estar em liberdade.
“Ainda não pensei muito nisso. Desde então, tenho estado mais preocupado em encontrar um sítio para dormir todas as noites”, confessou.
Travis, que disse ter conseguido falar com a família há três semanas, admitiu ainda que o período em que esteve detido serviu como “um tempo de consolo e de meditação” que o deixou “mais forte”.
Um funcionário norte-americano disse à NBC News que estava a par do caso e que “procurava prestar apoio”.
No início do ano, as autoridades do Missouri e da capital húngara, Budapeste, reportaram o desaparecimento de um homem chamado Pete Timmerman, que foi, mais tarde, identificado como ‘Travis’ Pete Timmerman. A polícia húngara adiantou que o jovem foi visto pela última vez numa igreja e que, desde então, tinha partido “para um local desconhecido, sem sinais de vida”.
Desde o início da guerra na Síria, em 2011, desencadeada pela repressão brutal das manifestações pró-democracia, mais de 100 mil pessoas morreram nas prisões sírias, nomeadamente sob tortura, estimou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) em 2022.
Recorde-se que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, fugiu com a família no domingo e pediu asilo político na Rússia, depois de uma coligação de rebeldes ter conseguido tomar Damasco e anunciado o fim de cinco décadas de poder da família.
A coligação vitoriosa é liderada pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe) e inclui fações pró-turcas.
Os rebeldes lançaram uma ofensiva relâmpago em 27 de novembro a partir da cidade de Idlib, um bastião da oposição, e conseguiu expulsar em poucos dias o exército de Assad das capitais provinciais de Alepo, Hama e Homs, abrindo caminho para Damasco.
Os rebeldes islamitas que derrubaram o regime sírio nomearam Mohammad al-Bashir como novo primeiro-ministro responsável pela transição na Síria.
O partido Baath, no poder na Síria há mais de 50 anos, anunciou a suspensão das suas atividades "até nova ordem".
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