Na passada sexta-feira, Lukashenko e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, assinaram um tratado que dá garantias de segurança à Bielorrússia, o aliado mais próximo de Moscovo, incluindo a possibilidade de utilização de armas nucleares russas para ajudar a repelir qualquer agressão.
O pacto vem na sequência da revisão por Moscovo da sua doutrina nuclear, que pela primeira vez colocou a Bielorrússia sob a proteção nuclear russa, no meio das tensões com o Ocidente devido ao conflito na Ucrânia.
"Avisei todos os meus inimigos, 'amigos' e adversários: Se pisarem a fronteira, a resposta será instantânea", disse o Presidente bielorrusso.
Lukashenko, que governa a Bielorrússia com mão de ferro há mais de 30 anos e que tem contado com subsídios e apoio do Kremlin (presidência russa), permitiu que a Rússia utilizasse o território do país para enviar tropas para a vizinha Ucrânia em 2022 e para acolher algumas das suas armas nucleares táticas.
Ao contrário dos mísseis balísticos intercontinentais com ogivas nucleares, que podem destruir cidades inteiras, as armas nucleares táticas para utilização contra as tropas no campo de batalha são menos potentes.
A Rússia não revelou quantas, mas Lukashenko disse hoje que a Bielorrússia tem atualmente "várias dezenas delas".
"Trouxe ogivas nucleares para cá, e não apenas uma dúzia delas", disse o chefe de Estado bielorrusso, numa aparente referência às armas táticas, acrescentando que o Ocidente não conseguiu acompanhar a sua instalação naquele território.
"Nem sequer se aperceberam quando as trouxemos para cá", acrescentou.
No início deste ano, as forças armadas russas e bielorrussas realizaram exercícios nucleares conjuntos, envolvendo mísseis balísticos de curto alcance 'Iskander', fornecidos pela Rússia à Bielorrússia, que podem ser equipados com ogivas nucleares, e aviões de guerra preparados para transportar bombas nucleares.
A instalação de armas nucleares táticas na Bielorrússia, que tem uma fronteira de 1.084 quilómetros com a Ucrânia, permitirá que os aviões e mísseis russos atinjam alvos potenciais mais fácil e rapidamente se Moscovo decidir utilizá-los.
O pacto também alarga a capacidade da Rússia de atingir vários aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) na Europa Central e Oriental.
Durante a assinatura do pacto de segurança, Lukashenko pediu a Putin para instalar armas mais avançadas na Bielorrússia, incluindo o míssil balístico de alcance intermédio 'Oreshnik', que a Rússia utilizou pela primeira vez em novembro contra a Ucrânia.
Putin respondeu que os mísseis 'Oreshnik' podem ser instalados na Bielorrússia no segundo semestre de 2025, acrescentando que permanecerão sob controlo russo, mas que Moscovo permitirá que Minsk selecione os alvos.
"Nós determinamos os alvos para eles aqui, na Bielorrússia, não os russos. E carregaremos juntos no botão se for necessário, Deus nos livre", disse hoje Lukashenko.
Lukashenko referiu ainda que a Bielorrússia possui cerca de 30 instalações para mísseis balísticos com capacidade nuclear, remanescentes da época da Guerra Fria, quando fazia parte da antiga URSS e albergava armas nucleares soviéticas.
Acrescentou que a Bielorrússia fabrica os grandes veículos que servem de lançadores móveis para os mísseis balísticos russos, incluindo o 'Oreshnik'.
Putin elogiou a capacidade do 'Oreshnik', afirmando que as múltiplas ogivas do projétil que atingem um alvo são imunes à interceção e são tão poderosas que a utilização de várias delas num ataque convencional pode ser tão devastadora como um ataque nuclear.
Em declarações também feitas hoje, Putin afirmou que "um número suficiente destes sistemas de armas avançados torna a utilização de armas nucleares quase desnecessária".
Um chefe militar russo frisou também hoje que o míssil, que pode transportar ogivas convencionais ou nucleares, tem um alcance que lhe permite atingir toda a Europa.
A nova doutrina nuclear russa, que Putin assinou em novembro, reduziu formalmente o limiar para a utilização de armas nucleares pela Rússia, uma medida que se segue à decisão do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de permitir que a Ucrânia ataque alvos dentro do território russo com mísseis de longo alcance fornecidos por Washington.
A doutrina diz que Moscovo pode utilizar armas nucleares "em resposta à utilização de armas nucleares e de outros tipos de armas de destruição maciça" contra a Rússia ou os seus aliados, bem como "em caso de agressão" contra a Rússia e a Bielorrússia com armas convencionais que ameacem "a sua soberania e/ou integridade territorial".
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