Morreu Maria Teresa Horta, a última das 'Três Marias', aos 87 anos

A escritora Maria Teresa Horta, a última das 'Três Marias', morreu hoje, aos 87 anos, em Lisboa, anunciou a editora Dom Quixote.

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© Global Imagens

Lusa
04/02/2025 10:36 ‧ ontem por Lusa

Cultura

Morte

"Uma perda de dimensões incalculáveis para a literatura portuguesa, para a poesia, o jornalismo e o feminismo, a quem Maria Teresa Horta dedicou, orgulhosamente, grande parte da sua vida", pode ler-se no comunicado enviado pela editora à Lusa.

 

No mesmo texto, a Dom Quixote lamenta "o desaparecimento de uma das personalidades mais notáveis e admiráveis" do Portugal contemporâneo, "reconhecida defensora dos direitos das mulheres e da liberdade, numa altura em que nem sempre era fácil assumi-lo, autora de uma obra que ficará para sempre na memória de várias gerações de leitores".

"Uma inspiração e um exemplo"

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recordou Maria Teresa Horta enquanto "uma inspiração e um exemplo". "À sua família e amigos, e a todas e todos que fizeram dela uma inspiração e um exemplo, apresento sentidas condolências", escreveu o chefe de Estado, numa nota publicada na página da Presidência da República.

A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, também expressou o seu pesar, salientando que a escritora foi "uma das mais importantes vozes da literatura portuguesa contemporânea". 

Entre os primeiros líderes de partidos a reagir estão Pedro Nuno Santos, que indicou que a  escritora "abriu caminho a quem construiu a Liberdade". A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, recordou-a como "uma daquelas pessoas a quem devemos tudo". O PCP destacou a sua "intervenção de resistência ao fascismo e ativismo em defesa da emancipação da mulher".

Uma das mulheres mais influentes do mundo

Em dezembro, Maria Teresa Horta foi incluída numa lista elaborada pela estação pública britânica BBC de 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo, que incluía artistas, ativistas, advogadas ou cientistas.

Em 2022, nos 50 anos da obra "Novas Cartas Portuguesas", escrita com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta afirmava, em entrevista à Lusa, que o livro sempre foi desconsiderado em Portugal e confessava-se "perplexa" com o interesse suscitado cinco décadas depois da publicação.

'Novas Cartas Portuguesas', escrita por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, a partir das cartas de amor dirigidas a um oficial francês por Mariana Alcoforado, constituiu-se como um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril, que denunciava a guerra colonial, as opressões a que as mulheres eram sujeitas, um sistema judicial persecutório, a emigração e a violência fascista.

Começou a ser escrita em maio de 1971 e foi publicada em abril de 1972, tendo sido banida pela ditadura e as suas autoras levadas a julgamento.

O livro que se assumiu como um marco na história do feminismo, da literatura portuguesa, da oposição ao regime e da luta pela liberdade, após passar o período conturbado que envolveu a sua publicação, atravessou décadas quase como uma inexistência em Portugal, considerava, então, Maria Teresa Horta, em declarações à Lusa, acrescentando não compreender esta situação.

"Ninguém ligou nenhuma às 'Novas Cartas Portuguesas' em Portugal, agora, de repente, enlouquece tudo", disse à Lusa, acrescentando: "Foram escritas há tantos anos. Depois esgotou, mas ninguém fez nada, e de repente, de súbito, de cinco em cinco minutos falam das 'Novas Cartas', a pessoa fica perplexa".

Até ao fim, as três recusaram-se a revelar e ninguém conhece individualmente a autoria de cada texto, como salientou à Lusa Maria Teresa Horta, que contestava uma ideia algo difundida de que a maioria seria obra de Maria Velho da Costa.

"Foram escritas pelas três. Ninguém vai dizer [quem escreveu cada texto]. Elas já estão mortas e eu nem morta nem viva digo quem escreveu, porque nós fizemos uma jura", afirmou, em 2022.

Nascida em Lisboa em 1937, Maria Teresa Horta frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi dirigente do ABC Cine-Clube, militante ativa nos movimentos de emancipação feminina, jornalista do jornal A Capital e dirigente da revista Mulheres.

Como escritora, estreou-se no campo da poesia em 1960, mas construiu um percurso literário composto também por romances e contos.

Com livros editados no Brasil, em França e Itália, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal e é considerada um dos expoentes do feminismo da lusofonia.

Foi amplamente premiada ao longo da sua carreira literária, destacando-se, só nos últimos anos, o Prémio Autores 2017, na categoria melhor livro de poesia, para 'Anunciações', a Medalha de Mérito Cultural com que o Ministério da Cultura a distinguiu em 2020, o Prémio Literário Casino da Póvoa que ganhou em 2021 pela obra 'Estranhezas', e a condecoração, em 2022, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade, pelo Presidente da República.

[Notícia atualizada às 14h22]

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